11 de set de 2024 às 01:00
Dois sacerdotes que há 23 anos viveram a tragédia ocorrida após o ataque terrorista da Al Qaeda contra o World Trade Center de Nova York, EUA, decidiram relatar a difícil situação que lhes coube viver.
Em 11 de setembro de 2001, dois aviões destruíram as Torres Gêmeas de Nova York e houve um total de 3.016 mortos e mais de 6 mil feridos.
Em declarações em 2018 a CNA, agência em inglês do grupo EWTN ao qual ACI Digital pertence, padre Kevin Madigan contou que em 2001 trabalhava como pároco da igreja de São Pedro e que as Torres Gêmeas estavam a aproximadamente uma quadra de distância.
A paróquia recebia todos os dias muitos paroquianos, mas depois do atentado, “a comunidade já não estava lá, porque foi como perder uma aldeia de 40 mil pessoas que estão ao lado”.
No dia 11 de setembro de 2001, padre Madigan estava na rua quando escutou o coque do primeiro avião contra as torres. Recordou ter se dirigido ao local e levou consigo “os óleos para ungir os moribundos”.
O sacerdote disse que “não sabia o que estava acontecendo” e se deu conta de que, na região, “muitas pessoas tinham conseguido sair com vida ou estavam mortas”.
Após a segunda explosão, sentiu que uma roda de avião passou sobre sua cabeça. Decidiu regressar para a paróquia para evacuar as pessoas e, em seguida, ir para a rua. Então, viu que as torres desmoronavam e se refugiou em uma estação de metrô.
Depois, padre Madigan foi ao hospital para fazer um check-up médico e, quando retornou à paróquia de São Pedro, viu que os bombeiros tinham depositado 30 cadáveres que conseguiram recuperar dos escombros.
Um deles era padre Mychal Judge, o capelão do Departamento de Bombeiros de Nova York.
Padre Christopher Keenan, um sacerdote franciscano, contou a CNA que padre Judge era seu amigo e que os frades eram vizinhos da estação de bombeiros.
Recordou que em 11 de setembro, viu o atentado terrorista na televisão e decidiu ajudar no hospital de São Vicente, o centro de saúde mais próximo da área do desastre. Ali, encarregou-se de telefonar aos familiares dos feridos que receberam atenção médica.
Ao terminar seu trabalho, foi para a estação de bombeiros para visitar padre Judge, porque não tinha notícias suas. Quando chegou, disseram-lhe “que seu cadáver estava na parte de trás da estação”. Naquele dia, padre Keenan rezou diante do corpo de seu amigo.
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O presbítero expressou que “o corpo de Mychal foi um dos poucos que estava intacto, reconhecível e visível”, pois os demais cadáveres estavam “vaporizados, pulverizados e queimados”.
Padre Keenan disse a CNA que, antes do atentado, seu amigo pressentia que ia morrer e que inclusive lhe disse: “Sabe, Crissy, o Senhor virá por mim”.
Contou que naquela dia, padre Judge estava no vestíbulo de uma das Torres Gêmeas junto com um esquadrão dos bombeiros e dois franceses estavam gravando um documentário.
Quando um dos edifícios desmoronou, os escombros caíram sobre padre Judge e este morreu quase instantaneamente. Seu corpo foi recuperado e depositado na igreja de São Pedro. Este sacerdote foi reconhecido como a vítima número 0001.
Dois meses depois do atentado, padre Christopher Keenan assumiu o cargo do amigo falecido e se uniu aos bombeiros na tarefa de buscar os restos das quase três mil pessoas que morreram no atentado.
Comentou que os bombeiros tiveram que recuperar os restos de seus 343 colegas que pereceram no loca. “Sempre traz um irmão para casa, não o deixa no campo de batalha”, expressou e contou que chegou a assistir a uns seis funerais por dia.
“Os jovens iam a todos os funerais, faziam hora extra, buscando cadáveres e cuidavam das famílias. Eu estive lá todos os dias, 24 durante 26 meses”, indicou.
Também recordou que alguns dias depois que foi nomeado capelão do Departamento de Bombeiros de Nova York, estes lhe disseram: “Sabemos que é nossos, não se esqueça de que cada um de nós é seu”.
Manifestou que durante os trabalhos de resgate, perguntava-se: “Como entendo isso como um homem de fé? É porque era como se estivesse descendo ao inferno e estivesse vendo o rosto de Deus nas pessoas que se encontravam lá”. Disse que tudo o que podia fazer era estar lá e rezar com eles. “Assim foi como entendi, na fé”, afirmou.
“Não havia nenhum manual sobre como lidar com algo assim”, manifestou e disse que a muitas das que atendeu pastoralmente, este ocorrido “sacudiu seus fundamentos, sua confiança e fé em Deus”.