28 de set de 2024 às 13:35
Leia a seguir o discurso do papa Francisco aos bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e agentes pastorais da Bélgica, na basílica do Sagrado Coração, em Koekelberg:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Estou feliz por estar aqui entre vós. Agradeço ao senhor D. Luc Terlinden as suas palavras e porque nos recordou a prioridade do anúncio do Evangelho. Obrigado a todos vós.
Nesta encruzilhada que é a Bélgica, sois uma Igreja “em movimento”. Na verdade, já há algum tempo que procurais transformar a presença das paróquias no território e dar um forte impulso à formação dos leigos; e sobretudo, esforçais-vos por ser uma Comunidade próxima, que acompanha as pessoas e testemunha com gestos de misericórdia.
Inspirando-me nas vossas perguntas, gostaria de propor algumas pistas de reflexão à volta de três palavras: evangelização, alegria, misericórdia.
O primeiro caminho a percorrer é a evangelização. As mudanças da nossa época e a crise da fé que vivemos no Ocidente impeliram-nos a regressar ao essencial, isto é, ao Evangelho, para que se anuncie novamente a todos a boa nova que Jesus trouxe ao mundo, fazendo brilhar a sua beleza. A crise – cada uma delas – é um momento que nos é oferecido para nos sacudir, para nos questionar e para mudar. É uma oportunidade preciosa – na linguagem bíblica diz-se kairòs, oportunidade especial –, como aconteceu com Abraão, Moisés e os profetas. Quando experimentamos a desolação, devemos sempre perguntar-nos qual é a mensagem que o Senhor nos quer comunicar. E o que é que a crise nos mostra? Passámos de um cristianismo instalado num quadro social acolhedor para um cristianismo “minoritário”, ou seja, um cristianismo de testemunho. E isto requer a coragem de uma conversão eclesial, para iniciar aquelas transformações pastorais que afetam também os costumes, os estilos e as linguagens da fé, de modo a que estejam verdadeiramente ao serviço da evangelização (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 27).
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Gostaria de dizer ao Helmut que esta coragem é também exigida aos padres. Sejam padres que não se limitam a conservar ou a gerir um património do passado, mas pastores apaixonados por Cristo e atentos a acolher as questões do Evangelho, frequentemente implícitas, enquanto caminham com o povo santo de Deus; e nós caminhamos mais à frente, no meio ou atrás. E quando levamos o Evangelho – penso no que nos disse Yaninka – o Senhor abre o nosso coração ao encontro de quem é diferente. É bonito, aliás é necessário, que entre os jovens existam sonhos e espiritualidades diferentes. Deve ser exatamente assim, porque pode haver muitos percursos pessoais ou comunitários, mas que nos levam à mesma meta, ao encontro com o Senhor: na Igreja há lugar para todos e ninguém deve ser uma fotocópia do outro. A unidade na Igreja não é uniformidade, é antes encontrar a harmonia das diversidades! E gostaria também de dizer ao Arnaud: o processo sinodal deve ser um regresso ao Evangelho; não deve ter entre as suas prioridades uma reforma consoante “a moda”, mas perguntar-se como fazer chegar o Evangelho a uma sociedade que já não o escuta ou que se afastou da fé. Perguntemo-nos todos sobre isto.
E o terceiro caminho: a misericórdia. O Evangelho, acolhido e partilhado, recebido e dado, conduz-nos à alegria porque nos faz descobrir que Deus é o Pai da misericórdia, que se comove conosco, que nos levanta das nossas quedas, que nunca desiste de nos amar. Gravemos isto no nosso coração: Deus nunca desiste de nos amar. “Mas Padre, até mesmo se eu cometi algo de grave?” Deus nunca deixa de te amar. Diante da experiência do mal, isto pode, por vezes, parecer-nos “injusto”, porque nos limitamos a aplicar a justiça terrena que diz: “Quem erra tem de pagar”. No entanto, a justiça de Deus é superior: quem errou é chamado a reparar os danos, mas para curar o seu coração precisa do amor misericordioso de Deus. Não esqueça: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre; é com a sua misericórdia que Deus nos justifica, ou seja, nos torna justos, porque nos dá um coração novo, uma vida nova.
Irmãs e irmãos, muito obrigado. E ao despedir-me de vós, gostaria de recordar uma obra do vosso ilustre pintor Magritte, intitulada “O Ato de Fé”. Representa uma porta fechada por dentro, mas com a parte do meio rasgada, aberta para o céu. É um rasgão que nos convida a ir mais longe, a olhar para a frente e para cima, a nunca nos fecharmos em nós próprios. Eis uma imagem que vos deixo, como símbolo de uma Igreja que nunca fecha as portas – por favor, nunca fecheis as portas! –, que oferece a todos uma abertura para o infinito, que sabe olhar mais além. Esta é a Igreja que evangeliza, que vive a alegria do Evangelho, que pratica a misericórdia.
Irmãs e irmãos: para serdes Igreja deste modo, praticai a misericórdia e caminhai juntos, vós e o Espírito Santo. Sem o Espírito, não acontece nada de cristão. É o que nos ensina a Virgem Maria, nossa Mãe. Que Ela vos guie e vos guarde. Abençoo a todos de coração. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!