4 de out de 2024 às 15:07
Um cardeal elogiou e três padres, dois deles exorcistas, criticaram o ritual de “limpeza” na posse da nova presidente do México, Claudia Sheinbaum.
Entre os vários eventos da posse da primeira mulher presidente mexicana na Plaza de la Constitución, um grupo de mulheres indígenas fez uma “cerimônia sagrada” com incenso, plantas, frutas e flores, e outras coisas. Todas com “as mãos levantadas em direção ao leste, onde o sol nasce”, segundo disse uma das participantes ao canal de notícias mexicano N+.
“Invocamos os nahuales, as divindades e os demais seres e espíritos divinos que habitam este lugar”, disse uma das mulheres no início do evento. “Pedimos vida, esclarecimento e sabedoria para a presidente constitucional, doutora Claudia Sheinbaum Pardo”.
“Nós confiamos isso aos nossos ancestrais africanos. Pedimos a ti, pai sol, que viva em seu coração, assim como tu vives nos corações das meninas e mulheres do México”, disse a mulher no ritual que durou cerca de meia hora.
“Um ato simbólico de uma dívida pendente”
O bispo emérito de San Cristóbal de Las Casas, dom Felipe cardeal Arizmendi, disse à ACI Prensa, agência em espanhol da EWTN News, que “não há elementos para classificar esse ato como espetáculo ou populismo; pelo contrário, considero-o um ato simbólico de uma dívida pendente com os povos originários e uma decisão de reavaliar e reconhecer os seus direitos também nas nossas leis”.
Depois de falar sobre o ato semelhante feito anos atrás por López Obrador, o cardeal disse que, com esse evento, Claudia Sheibaum “quer visibilizar esses povos, especialmente as mulheres indígenas, as mais marginalizadas”.
Sobre a liberdade religiosa, o cardeal disse esperar que a presidente a garanta e “tenha a mente e o coração abertos para ouvir e ter em conta a contribuição que a religião cristã dá para a construção da paz social”.
“Nosso povo é profundamente cristão, católico”
O padre Alberto Medel, exorcista e coordenador do Comitê Teológico do Colégio de Exorcistas da arquidiocese primaz do México, disse à ACI Prensa que “na realidade, os povos indígenas não são o que ali está representado”, ao falar sobre o ritual.
“Não duvido que ainda existam pequenos grupos que adorem ou venerem as antigas divindades indígenas, mas a verdade é que o nosso povo é profundamente cristão, católico”, disse o padre, e por isso “as suas tradições não podem ser compreendidas sem a fé cristã”.
Depois de rejeitar a afirmação de alguns de que os povos indígenas são “sincréticos”, o exorcista mexicano disse: “Eu, francamente, não acredito nisso”.
“Isso é só uma performance, é uma forma de cair nas boas graças, nem dos indígenas, mas sim de cair nas boas graças de uma massa que aplaude esse sentimentalismo indígena, porque no final eles acabam usando as supostas crenças do povo”, disse o padre.
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Depois de dizer que um ritual como o da posse não justifica os povos indígenas, mas “faz com que pareçam crentes em bobagens nas quais ninguém acredita hoje”, o padre Medel disse que o ritual “apresenta pessoas que acreditam que o sol é uma divindade ou que a lua é uma divindade, pois os está ridiculariza”.
“Um ritual de bruxaria”
O padre Eduardo Hayen, exorcista da diocese de Ciudad Juárez, México, publicou um artigo em espanhol intitulado Católicos e Rituais Pagãos , no qual diz que a cerimônia era na verdade “um ritual de bruxaria”.
O padre Hayen diz que Sheinbaum “é de origem judaica, não pertence a nenhum grupo étnico nem pratica religiões ancestrais”.
“Se ela se permitiu ser purificada das ‘más vibrações’, foi mais por razões ideológicas e populistas do que por razões religiosas”, disse o padre. “Sheinbaum segue o mesmo livrinho de indigenismo de seu antecessor”, diz o padre.
Sheinbaum sucede a Andrés Manuel López Obrador, fundador da MORENA, no governo mexicano, que em dezembro de 2018 participou de uma cerimônia semelhante para iniciar o seu mandato.
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O padre adverte que os católicos não devem participar de cerimônias desse tipo.
“Claudia Sheinbaum não participou de um culto satânico explícito e direto. No entanto, a adoração de Satanás pode ser realizada ao crer, por ignorância, que se adoram a ídolos, à morte ou a forças desconhecidas.”
“Há grupos que se apresentam como não-satânicos porque não invocam diretamente demônios, mas se apresentam como grupos culturais”, disse o sacerdote. “Na realidade são satânicos em sentido lato porque praticam ritos neopagãos como o culto à Mãe Terra, à Deusa Mãe, à Mãe Natureza ou à Pachamama”.
O padre Hayen também diz que os católicos “não devem acreditar que é inofensivo participar em certos rituais pré-hispânicos, como aqueles em que participam alguns presidentes latino-americanos”.
Superstição que abre “portas ao diabo”
O padre Hugo Valdemar, que foi diretor de comunicação da arquidiocese do México por 15 anos, disse à ACI Prensa que esses rituais, “que são superstições, abrem portas ao diabo, e se se abrir uma fresta ao demônio, ele entra até a cozinha, com graves consequências espirituais e materiais”.
“Não são ritos inofensivos, são um convite para o maligno entrar, e ele não pensa duas vezes antes de entrar e tomar posse da casa”, disse o padre Valdemar.
Embora possa ser considerado “um ato politicamente correto”, o padre disse que em última análise “são atos supersticiosos, pecaminosos, idólatras, que trazem consequências desastrosas, porque são rituais religiosos que têm Satanás como centro, embora sejam apresentados como algo inofensivo.”
David Ramos e Diego López Colín colaboraram com este artigo.