Na sessão de encerramento dos trabalhos da Assembleia Sinodal, na tarde deste sábado (26/10), o Santo Padre anunciou que não publicará uma exortação apostólica pós-sinodal, justificando que o Documento Final já contém “indicações muito concretas” para decisões que envolvem toda a Igreja, “mas que exigem tempo”.
Thulio Fonseca – Vatican News
O Papa Francisco proferiu um discurso neste sábado, 26 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, após a votação e aprovação do Documento Final da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. O Pontífice sublinhou que o Documento Final representa “o fruto de anos, pelo menos três”, dedicados à escuta do Povo de Deus e reflete o propósito de uma Igreja mais sinodal. “As referências bíblicas que abrem cada capítulo organizam a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor Ressuscitado, que nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida do que com as palavras”, afirmou Francisco, citando diretamente o documento.
Documento Final: um tríplice dom
Em seguida, o Santo Padre descreveu o documento como um “dom tríplice”: primeiro para o Bispo de Roma, ele próprio, ao convocar a Igreja de Deus em Sínodo, estando consciente de que precisava dos Bispos e testemunhas do caminho sinodal, agradecendo com um “obrigado!”. Recordou ainda a necessidade contínua de praticar a escuta para guiar a Igreja, ressaltando: “Confirma os teus irmãos e irmãs… Apascenta as minhas ovelhas”, repetindo as palavras da Escritura que lhe servem de guia e completou:
“A minha tarefa, bem o sabeis, é — como nos ensina São Basílio — guardar e promover a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todos os cansaços, tensões e divisões que marcam o seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão do Profeta Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus para todos os povos. Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos, todos, todos!”
Caminhar juntos na diversidade
Francisco também enfatizou que o Documento é um dom para o Povo de Deus, um presente que deverá ser amplamente partilhado e que, embora nem todos possam lê-lo, cabe aos líderes locais tornar acessível o seu conteúdo nas igrejas. “O texto”, afirmou Francisco, “perderia muito do seu valor sem o testemunho da experiência vivida”.
Para o Papa, o Documento é, igualmente, um dom para a comunidade global, pois oferece um impulso para testemunhar que é possível “caminhar juntos na diversidade”. Vindo de diversas partes do mundo, marcados pela violência, pobreza e indiferença, o Santo Padre reforça a possibilidade de, juntos, não só sonharmos com a paz, mas de nos empenharmos em realizá-la “através de processos de escuta, de diálogo e de reconciliação”.
Concretizar o Sínodo na vida da Igreja
Francisco sublinhou que o Documento é um convite para dar “forma real ao convívio das diferenças” e para a Igreja tornar-se um testemunho vivo de paz em tempos de guerra, frisando que, embora seja necessário tempo para amadurecer algumas decisões, isso não significa adiá-las indefinidamente. Pelo contrário, tal atitude reflete o “estilo sinodal”, que inclui momentos de pausa, silêncio e oração.
“É um estilo que estamos aprendendo juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo chama-nos e sustenta-nos nesta aprendizagem, que devemos compreender como um processo de conversão.”
Madeleine Delbrêl: uma inspiração para viver a fé com leveza
Ao citar a mística francesa Madeleine Delbrêl, o Papa destacou a necessidade de uma fé vivida com leveza e sem rigidez. “Faz-nos viver a nossa vida, não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são calculados, não como uma partida em que tudo é difícil, não como um teorema que nos faz quebrar a cabeça, mas como uma festa sem fim em que se renove o encontro contigo, como um baile, como uma dança, entre os braços da tua graça, na música que enche o universo de amor”, diz a poesia lida pelo Pontífice, inspirando o tom do encerramento do sínodo.
Indicações concretas para a missão
Em seguida, Francisco sublinhou que, à luz do que emergiu a partir do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas. Neste tempo de guerras, devemos ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma real ao convívio das diferenças:
“Por isso, não tenho intenção de publicar uma ‘exortação apostólica’. No Documento há já indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos: por isso, coloco-o imediatamente à disposição de todos. Quero, deste modo, reconhecer o valor do caminho sinodal realizado, que através deste Documento entrego ao povo santo de Deus. Sobre alguns aspetos da vida da Igreja indicados no Documento, bem como sobre os temas confiados aos dez Grupos de Estudo para me apresentarem propostas, é necessário tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja. Por isso, continuarei a escutar os Bispos e as Igrejas que lhes estão confiadas. (…) Não se trata de adiar indefinidamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com que deve ser exercido também o ministério petrino: escutar, convocar, discernir, decidir e avaliar. E nestes passos, são necessárias as pausas, os silêncios e a oração.”
Das palavras aos atos
Para o Santo Padre, a missão da Igreja agora é que “as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos” e aquilo que foi vivenciado no Sínodo “é um dom que não podemos guardar para nós mesmos. O impulso que vem desta experiência, da qual o Documento é um reflexo, dá-nos a coragem de testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade”. E identificando várias feridas da humanidade — violência, pobreza e indiferença — Francisco afirmou que a Igreja, unida no amor de Deus e na esperança que não decepciona, deve comprometer-se com todas as forças para construir a paz.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
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