Conclui-se neste dia 7-12-2024, a XV edição da Bienal de Arte Contemporânea Africana de Dakar – Dak’Art. O tema desta edição, que teve pela primeira a curadoria duma mulher, Salimata Diop, foi “The Wake”, o Despertar para as grandes preocupações do mundo actual, incluindo a questão ambiental. Cabo Verde, país convidado, levou diversos artistas. Um deles, César Cardoso, revela as suas impressões, enquanto que Filinto Elísio elucida, na sua crónica, a génese, evolução e importância dessa Bienal.
Dulce Araújo – Vatican News
Sendo a Dak’Art o maior evento das Artesa nível do continente africano, o programa “África em Clave Cultural: personagens e eventos”, da Rádio Vaticano, não podia não dar-lhe relevo, até porque pôs no centro da atenção um tema de grande atualidade: o relacionamento do ser humano com o meio ambiente e o papel que a arte pode desempenhar na procura da harmonia entre todos os elementos do planeta.
Então conheça Bienal nesta crónica do editor, Filinto Elísio, da Rosa de Porcelana Editora:
Crónica
“A 15ª edição da Bienal de Arte Contemporânea Africana, conhecida como Dak’Art, que termina no dia 7 de dezembro, destaca-se como um dos mais importantes eventos internacionais de arte.
A Bienal de Dakar foi concebida em 1989, como uma bienal alternando entre a literatura e a arte. A primeira edição aconteceu em 1990 voltada para a literatura e em 1992 para artes visuais.
Em 1993, a estrutura da bienal foi transformada em Dak`Art, em 1996 tornou-se uma exposição especificamente dedicada à arte contemporânea africana.
Nesta edição de 2024, o fulgor da criatividade africana reúne artistas, curadores, ativistas, mediadores e entusiastas da arte de todo o mundo. Uma vasta exibição que inclui escultura, pintura, instalação e performance, assim como sessões plenárias e workshops, refletindo sobre os impactos estéticos, ambientais, políticos, sociais e filosóficos na vida contemporânea. Tudo, sob o signo da generosidade e da inclusão.
O tema central desta 15ª edição intitula-se The Wake – L’Éveil (“O Despertar”), com direcção artística de Salimata Diop, crítica de arte e curadora, e apresenta obras de 58 artistas de África e da diáspora. Esta múltipla mostra convida a olhar, em vários prismas, a complexa relação entre a Humanidade e o Planeta. Em verdade, questiona interfaces múltiplas entre a arte, a sociedade, as alterações ambientais e a história, resinificando a ideia da globalidade.
Os números deste megaevento, que dura um mês, falam por si. Mais de 400 mil visitantes e 58 artistas, nos eventos centrais e dezenas de outros nos eventos paralelos, que, afirmando individualidades, aderem uma narrativa coletiva num manifesto estético contra a depredação do ambiente, da desigualdade social e dos conflitos.
Outra exposição estrutural, sob o título “Pararemos Quando a Terra Rugir”, reúne trabalhos de Laeïla Adjovi, Beya Gille Gacha e Cléophée Moser, entre outros, para confrontar temas como o extrativismo, o consumo desmedido e o neocolonialismo.
Entre os destaques está Fil(s) de soi(e), da martiniquense Agnés Brezephin, que utiliza fios e botões para explorar a relação entre corpo e memória. Outra obra marcante é a instalação da haitiana Gina Athena Ulysse, que mistura textos arquivísticos, calabaças e búzios para abordar os legados da escravatura transatlântica.
Para a coordenação da exposição, “este evento é importante porque oferece uma oportunidade aos artistas; dá-lhes uma plataforma para se darem a conhecer, progredirem na sua carreira e serem reconhecidos”.
Dois países convidados de honra, os Estados Unidos e Cabo Verde, com cerimónias de abertura no grande Museu das Civilizações Negras. Destaca-se na presença de Cabo Verde no ‘Dak’Art 2024’, sob a curadoria do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design.
A delegação cabo-verdiana, chefiada pelo Ministro da Cultura, Augusto Veiga, foi composta pelos artistas plásticos Melissa Rodrigues, Bento Oliveira, Tchalé Figueira, Irineu Destourelles, César Cardoso, e na música o grupo Sizal e, ainda, trabalhos de Alex Silva, Bela Duarte, Luísa Queirós e Manuel Figueira, parte da coleção do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design.
À par da Bienal IN, decorreu a Bienal OFF, onde expuseram outros artistas, entre os quais cabo-verdianos – Tutu Sousa, Omar Camilo, Jacques Chopin, Gildoca e Edson Garcia, nalgumas galerias de arte, no recinto da Bienal.“
Entrevista com o artista César Schofield Cardoso
César Cardoso Scofield trabalha em videoarte, medias digitais, fotografia, cinema. Foi um dos artistas cabo-verdianos participantes na Bienal de Dakar. Para ele, a Dak’Art é como que uma Meca em que os artistas africanos sonham participar. Ele declara-se muito satisfeito da sua participação e considera que eventos deste tipo podem constituir também para Cabo Verde (país convidado) uma grande oportunidade, se tiverem repecussão nacional, o que não foi o caso, pois não houve interesse dos media e da sociedade cabo-verdiana em geral.
César Cardoso elogia a curadoria de Salimata Diop e o tema escolhido, um tema sobre qual, por coincidencia, ele já vem trabalhando deste há muito, tendo levado para a Bienal 17 obras: 16 fotos cianotipia sobre o universo do mar e um vídeo , fruto do trabalho com uma comunidade piscatória da ilha de Santiago que evoca a violência da extração industrial marinha e as consequências ecológicas e sociais para o país.
Na entrevista, este artista sublinha ainda o seu apreço pelos pronunciamentos do Papa Francisco sobre questões ambientais e salienta o papel particular da arte na sensibilização pelas questões ambientais, na medida em que a arte fala ao coração das pessoas.
Este ano, a Bienal teve também uma versão Off em Milão, com a curadoria artística do fotógrafo senegalês, Ibrahima Mbengue, reunindo ao longo do mês artistas africanos e italianos na construção de um diálogo intercultural através das diversas formas de arte.
Foto: cortesia de César Cardoso.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
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