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18 de dez de 2024 às 12:49
O papa Francisco publicou ontem (17) um artigo no New York Times sobre a importância de cultivar o senso de humor, de reprimir o narcisismo por meio de “doses apropriadas de auto-ironia” e de evitar “chafurdar na melancolia a todo custo”.
“O Evangelho, que nos exorta a nos tornarmos como crianças para nossa própria salvação (cf. Mt 18:3), nos lembra de recuperar a capacidade de sorrir”, escreveu o papa em artigo adaptado de seu livro Spera, que deve ser lançado em 14 de janeiro do ano que vem.
O papa chamou as muitas crianças que conhece, como os idosos, de “exemplos de espontaneidade, de humanidade”.
“Eles nos lembram que aqueles que desistem de sua própria humanidade desistem de tudo, e que quando se torna difícil chorar seriamente ou rir apaixonadamente, então estamos realmente na ladeira abaixo. Ficamos anestesiados, e adultos anestesiados não fazem nada de bom para si mesmos, nem para a sociedade, nem para a Igreja”, escreveu Francisco.
“A ironia é um remédio, não só para elevar e alegrar os outros, mas também a nós mesmos, porque a auto-zombaria é um instrumento poderoso para superar a tentação do narcisismo”, continuou o papa.
“Narcisistas estão continuamente olhando para o espelho, pintando a si mesmos, olhando para si mesmos, mas o melhor conselho diante de um espelho é rir de nós mesmos. É bom para nós. Isso provará a verdade daquele velho provérbio que diz que só existem dois tipos de pessoas perfeitas: os mortos e aqueles que ainda não nasceram”.
O papa Francisco falou sobre humor diversas vezes ao longo de seu papado; em junho deste ano, Francisco recebeu e entreteve um grupo de mais de 100 comediantes, comediantes de stand-up e humoristas no maior — e possivelmente único — encontro de comediantes no Vaticano desde que o papa Pio V eliminou o papel do bobo da corte papal em 1500.
Em visita recente ao presidente francês Emmanuel Macron na ilha francesa da Córsega, o papa Francisco recomendou que Macron lesse sua exortação apostólica Gaudete et Exultate , ao destacar a passagem que cita a oração de são Tomás More por senso de humor.
“Senhor, dá-me senso de humor. Conceda-me a graça de entender uma piada, de descobrir na vida um pouco de alegria e de poder compartilhá-la com os outros”, diz a oração, que o papa Francisco disse anteriormente ser “muito bonita” e que a reza diariamente.
No artigo, o papa deu exemplos de bom humor do papa são João XXIII e do papa são João Paulo II.
Diz-se que são João XXIII, por exemplo, mostrou seu humor autodepreciativo ao brincar que muitas vezes resolvia falar com o papa sobre problemas sérios antes de se lembrar: “o papa sou eu”.
Ao fazer uma piada sobre a resistência brincalhona do papa são João Paulo II às rígidas expectativas de conduta clerical, Francisco escreveu que o santo foi repreendido, quando ainda era cardeal, por gostar de muitas atividades esportivas ao ar livre, ao que João Paulo respondeu que “essas são atividades praticadas por pelo menos 50% dos cardeais”. Na Polônia, na época, havia só um cardeal além dele.
“Às vezes, nós [papas] infelizmente nos apresentamos como padres amargos e tristes, mais autoritários do que com autoridade, mais como velhos solteiros do que casados com a Igreja, mais como funcionários do que pastores, mais arrogantes do que alegres, e isso também certamente não é bom”, escreveu o papa.
“Mas, em geral, nós, padres, tendemos a gostar de humor e até temos um bom estoque de piadas e histórias divertidas, que muitas vezes somos muito bons em contar, além de sermos o objeto delas”.
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O papa, em seu artigo, também contou uma piada envolvendo ele mesmo, que segue abaixo na íntegra:
Assim que chega ao aeroporto de Nova York para sua viagem apostólica nos EUA, o papa Francisco encontra uma enorme limusine esperando por ele. Ele fica um tanto envergonhado por aquele esplendor magnífico, mas então pensa que já faz séculos desde a última vez que dirigiu, e nunca um veículo daquele tipo, e pensa consigo mesmo: OK, quando terei outra chance? Ele olha para a limusine e diz ao motorista: “Você não poderia me deixar experimentá-la, poderia?”
“Olha, eu realmente sinto muito, Sua Santidade”, diz o motorista, “mas eu realmente não posso, existem regras e regulamentos”.
Mas você sabe o que dizem, como o papa é quando ele coloca algo na cabeça… ou seja, ele insiste e insiste, até que o motorista desiste. Então o papa Francisco se senta ao volante, em uma dessas enormes rodovias, e ele começa a gostar, pisa fundo no acelerador, indo a 50 quilômetros por hora, 80, 120… até que ele ouve uma sirene, e um carro de polícia encosta ao lado dele e o para. Um jovem policial se aproxima da janela escura. O papa a abaixa um tanto nervosamente e o policial fica pálido.
“Com licença um momento”, diz o policial, e volta para seu veículo para ligar para a delegacia.
“Chefe, acho que tenho um problema”.
“Qual é o problema?”, pergunta o chefe.
“Bem, eu parei um carro por excesso de velocidade, mas tem um cara lá que é muito importante”.
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“Quão importante? Ele é o prefeito?”
“Não, não, chefe… mais do que o prefeito”.
“E mais do que o prefeito, quem é? O governador?”
“Não, não, mais…”
“Mas ele não pode ser o presidente?”
“Mais, eu acho…”
“E quem pode ser mais importante que o presidente?”
“Olha, chefe, eu não sei exatamente quem ele é, tudo o que posso te dizer é que é o papa que está dirigindo o carro dele!”