A ansiedade está a aumentar em Goma, diz Dom Willy Ngumbi, bispo da capital da província do Kivu do Norte. A guerra, já às portas da cidade, obrigou centenas de milhares de pessoas a deslocarem-se para a metrópole que, por sua vez, se encontra entre duas frentes, cortando as suas fontes de abastecimento. O apelo à comunidade internacional é duplo: vir em auxílio dos milhões de pessoas que ficaram sem casa e impedir que a guerra chegue à cidade.
Fabrice Bagendekere, SJ – Cidade do Vaticano
O grupo armado M23, determinado a tomar a cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo (RDC), está a poucos quilómetros de distância. Enquanto há algumas semanas se falava de Masisi, a cerca de 80 quilómetros da cidade, Minova, a 40 quilómetros de Goma, e Sake, a 20 quilómetros, foram agora tomadas. O nível de ansiedade é já elevado na cidade, sobretudo depois de o governador de Goma ter sucumbido aos ferimentos sofridos no campo de batalha. E isto sem contar com os milhares de pessoas que continuam a chegar à cidade, fugindo das zonas de combate. Numa entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News, o bispo de Goma, Dom Willy Ngumbi, fala do drama vivido pela população, especialmente pelos refugiados desorientados. “Fugir de novo para ir para onde?”, interroga-se.
Muito sofrimento para a população
O movimento M23 está a exercer pressão sobre a cidade”, afirmou o prelado. É evidente que o objetivo é sufocar Goma, a cidade tão cobiçada pelo grupo armado. Parece estar a consegui-lo pouco a pouco, tomando as duas aberturas da cidade, Sake, no Noroeste, e Minova, no sul. Segundo o Bispo de Goma, esta situação já criou “muito sofrimento para a população”. “Atualmente, há mais de dois milhões e meio de deslocados internos por causa da guerra em torno da cidade de Goma”, relata Dom Ngumbi. Esta situação dificulta a distribuição de mantimentos, que atualmente só podem ser fornecidos através de importações do Ruanda. Entretanto, os sons das detonações, que já não estão muito longe, podem ser ouvidos na cidade, acrescenta o bispo, descrevendo uma “psicose [que] se espalhou por toda a cidade”.
Deslocados desorientados
Após várias hesitações, o exército congolês confirmou a morte do general major Cirimwami Nkuba Peter, governador militar do Kivu Norte, que tombou no campo de batalha. Segundo o comunicado oficial do exército, Peter Cirimwami morreu de ferimentos sofridos quando foi baleado perto de uma linha de frente perto de Sake. Segundo o Bispo de Goma, “esta triste notícia só veio aumentar a psicose da população”. Dom Ngumbi afirma que, para além das mensagens de tranquilização, não há outras disposições ou medidas de emergência postas em prática pelo Estado. Além disso, algumas representações internacionais que vivem na cidade já evacuaram o seu pessoal. Alguns países chamaram de volta os seus cidadãos residentes em Goma e proibiram todas as viagens para a região. Enquanto os habitantes continuam a sobreviver com as suas últimas provisões, na esperança de que os atacantes sejam repelidos, “os deslocados estão a sofrer muito, pois já não sabem para onde ir”, diz o prelado. “Não sabem para onde ir”, disse o Bispo Ngumbi. “Esta é verdadeiramente a tragédia que a população está a viver”, declarou, manifestando “o seu sofrimento como pastor desta gente”.
Viver em paz e como irmãos entre Congoleses, Ruandeses e Burundianos
Não se pode, contudo, falar de “asfixia da cidade”, disse Dom Ngumbi, que conta com as trocas comerciais com “a população vizinha”. “Estamos na fronteira com o Ruanda, de onde há sempre a possibilidade de obter alimentos”, disse. De acordo com o bispo, apesar das tensões políticas entre os dois países, os dois povos vizinhos continuam a manter boas relações, nomeadamente ao nível do comércio transfronteiriço. “Queremos viver juntos em paz, como irmãos, com os povos do Congo, do Ruanda e do Burundi”, auspicou o prelado. Na mesma linha, os bispos da ACEAC, a Associação das Conferências Episcopais da África Central, estão a intensificar os seus esforços para “promover a fraternidade e a paz entre os povos além-fronteiras”, particularmente na região dos Grandes Lagos. “É evidente que Goma não está isolada desta tensão, desta crise na região dos Grandes Lagos”, afirmou Dom Willy Ngumbi.
Evitar que a guerra entre na cidade de Goma
O bispo de Goma também está a dar o alarme à comunidade internacional, salientando que a situação humanitária é mais do que crítica. “As pessoas já não estão a morrer apenas de balas, estão a morrer de fome e de falta de tratamento”, disse o bispo. Apelou a que “a ajuda humanitária seja mobilizada para socorrer esta população que, de momento, se encontra numa situação de fome grave e generalizada”. Espera também que “a comunidade internacional faça tudo o que for possível para evitar que a guerra entre na cidade de Goma”. “Vamos evitar que os combates cheguem à cidade de Goma”, insistiu, prevendo o pior “se nada for feito para o evitar”.
Quanto ao povo de Goma, Dom Ngumbi apelou à unidade, avisando que “a grande tentação nestas circunstâncias é procurar dividir, estigmatizarmo-nos uns aos outros”. Por isso, insistiu, “temos de permanecer unidos, temos de permanecer em fraternidade”. O Presidente do Parlamento Europeu pediu às pessoas que não abandonassem as suas casas. Para aqueles que já não têm um teto, reza para que “alguma ajuda lhes chegue o mais depressa possível”.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!