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28 de jan de 2025 às 12:15
O 10º ato inter-religioso pela paz e a lavagem da escadaria da igreja Bom Jesus da Paradinha, em Franco da Rocha (SP), aconteceu no domingo (26) com a presença de representantes de diferentes religiões. O evento é organizado pela Associação Cultural Afro-brasileira de Franco da Rocha (ACAFRO), tem a parceria do Grupo Inter-religioso Bragança Paulista e da diocese de Bragança Paulista (SP), através da Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso.
O evento faz parte do calendário oficial do município de Franco da Rocha desde 2018, através da lei 1.355/2018. Acontece sempre na semana do dia 21 de janeiro, data em que, no Brasil, se celebra o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e é o Dia Mundial da Religião.
Segundo o pároco de Bom Jesus da Paradinha, padre Paulo Sérgio Leme, o objetivo do evento “é uma luta contra a intolerância religiosa e a promoção da cultura da paz”. “É um ato na busca de que todos possam se respeitar, na busca de um mundo onde haja mais paz, diante de tantas intolerâncias, de tanta violência. É uma manifestação em busca da paz”, disse o sacerdote, que contou ser a primeira vez que ele participa, pois está há menos de um ano na paróquia.
O assessor para a Dimensão do Ecumenismo e Diálogo inter-religioso da Diocese de Bragança Paulista, padre José Antonio Boareto, contou que o ato nasceu há dez anos “por uma iniciativa do padre Cido com a Iyá Tânia”. O padre Cido é o sacerdote da diocese de Bragança Paulista José Aparecido de Souza, que foi pároco de Bom Jesus da Paradinha. A Iyá Tânia é presidente da ACAFRO.
O padre José Antonio disse que, no segundo ano, ele participou “como convidado”. “Depois, a diocese, através da dimensão para o ecumenismo e diálogo inter-religioso, entra como parceira”, disse, ressaltando que quem organiza o evento é a ACAFRO.
O evento começou com uma concentração perto da paróquia e os participantes fizeram uma caminhada até o pátio da Igreja onde o bispo de Bragança Paulista, dom Sérgio Aparecido Colombo, os acolheu e deu uma mensagem. Os líderes das outras religiões também deram as suas mensagens e depois fizeram a lavagem das escadarias.
Segundo o padre José Antônio, “a compreensão de fazer a lavagem das escadarias”, desde que a proposta foi iniciada, “tem a ver diretamente com o combate à intolerância religiosa, no que diz respeito, sobretudo, ao racismo religioso que experimenta as religiões de matriz africana”.
“Houve questionamentos na época por parte do próprio movimento negro, que estava dizendo que a própria religião, no caso ali de matriz africana, o candomblé, a umbanda, estariam reproduzindo aquilo que já era no processo de colonização do tempo da escravidão, onde o negro apenas chegava até a escada. E a própria Iyá Tânia, que é a coordenadora da ACAFRO, disse ‘não, não é esse o significado, nós queremos recuperar e ressignificar a lavagem, no intuito de que a gente possa marcar esse ato pela paz’. E a paz aqui entendida como de fato essa superação ao racismo”, disse o padre José Antônio. “Aí então o ato teve esse sentido de uma participação ainda maior, e de ter essa conotação, vamos dizer, mais política, mas política nesse sentido de P maiúsculo, de dignidade humana, de superação ao racismo, ao enfrentamento dessa realidade, muito maior”, acrescentou.
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Depois da lavagem da escadaria, aconteceram apresentações culturais religiosas com representantes da umbanda, espiritismo, islamismo, hare krishna, pentecostalismo, budismo, catolicismo e candomblé. A Igreja apresentou duas canções, a oração de são Francisco, considerada a oração da paz, e a música Iguais, do padre Zezinho.
“Cada grupo traz ali uma apresentação, e faz uma apresentação de acordo com o próprio tema, que é sempre o do combate à intolerância religiosa”, disse o assessor para a Dimensão do Ecumenismo e Diálogo inter-religioso, destacando que “tudo [acontece] ali no pátio, não é nada dentro da igreja”. “E não é nada ritualístico, no sentido de uma celebração que mistura, não. Cada grupo vai buscar alguma coisa da sua tradição, da sua cultura e apresenta ali”, disse.
“Então, não é nada que tenha, por exemplo, um ritual que naquela hora se mistura todas as coisas. Não, não é isso. Não se faz isso. Nem é esse o nosso intuito. A nossa fundamentação para isso está, sobretudo, no Concílio Vaticano II, dentro da Nostra aetate, que este ano faz 60 anos”, disse. Nostra aetate é uma declaração sobre a Igreja e as religiões não-cristãs, publicada em 28 de outubro de 1965.
Respondendo como a comunidade católica vê o ato inter-religioso e a lavagem da escadaria da igreja, o padre José Antonio disse que é sim “um desafio”, mas disse que atualmente “já tem uma comissão dentro da própria comunidade com membros da comunidade, com a maioria deles catequistas, temos agentes da pastoral social, temos entre eles um agente da pastoral do menor que trabalha junto a realidade das populações mais vulneráveis”.
“Então existe, vamos dizer assim, uma consciência que tem sido adquirida dentro da comunidade por causa desse ato e por causa das próprias ações pastorais que estão sendo ali efetivadas”, acrescentou.
Segundo ele, na própria diocese de Bragança Paulista há “um curso chamado Janela para a Unidade, onde a gente propicia à comunidade católica formações a partir daquilo que a Igreja orienta para que essa consciência seja gerada”. “E muitos membros dessa comunidade fizeram o curso”, disse.
“Nesse curso, a gente trabalha Unitatis redintegratio, que fez 60 anos no ano passado, que é o decreto sobre o ecumenismo. A gente trabalha a Nostra aetate, que é também de 65, vai fazer 60 anos agora. E a gente trabalha um documento muito importante do dicastério para o diálogo inter-religioso que se chama ‘O Testemunho Cristão em um mundo multi-religioso’. Esse documento é de 2011”, acrescentou o padre, que é professor de Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
Segundo ele, o combate à intolerância “é o intuito, também, da lavagem, de tudo aquilo que acaba ocorrendo em torno desse movimento educativo, vamos dizer assim, de formação de consciência, que a gente tem procurado trabalhar”.
“E tudo isso, a meu ver, está em consonância com a Igreja. É a partir dos documentos da Igreja que a gente faz esse trabalho”, concluiu.