A imigração se tornou um ponto de conflito do governo dos EUA com a Igreja desde o início do novo governo de Donald Trump. Na verdade o papa Francisco criticou o novo governo dos EUA um dia antes de ele começar. "Se ele quiser expulsar imigrantes sem documentos, será uma vergonha”, a um programa de televisão italiano em 19 de janeiro. “Isso não vai dar certo".
Em setembro do ano passado, o papa disse de Donald Trump e da candidata democrata Kamala Harris: “Ambos são contra a vida — tanto aquele que expulsa os migrantes como aquele que mata os bebês”.
Francisco disse que os católicos deveriam votar no “mal menor”, sem dizer quem era quem. As pesquisas mostram que a maioria dos católicos que votaram na eleição presidencial dos EUA escolheu Trump.
O debate sobre imigração só se acirrou desde que Trump assumiu, há menos de duas semanas. Críticas duras da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA foram respondidas por repreensões pontuais do “czar da fronteira” Tom Homan e do vice-presidente do país, J.D. Vance, ambos católicos. Os dois lados têm aliados e críticos católicos, especialmente no sempre disputado espaço online.
Para católicos comuns sem muita ligação com partidos, o debate pode ser desconcertante. Há, em ambos os lados, uma confusão ou uma leitura seletiva de muitos argumentos e questões conflitantes: imigração em geral, imigração ilegal, direito de asilo, dignidade humana, aplicação da lei, soberania nacional e direitos dos trabalhadores. O Catecismo da Igreja Católica e décadas de magistério, da encíclica Pacem in Terris, escrita pelo papa são João XXIII em 1963, aos papas subsequentes, até a carta pastoral da USCCB de 2003“Strangers No Longer: Together on the Journey of Hope”foram citados para reforçar um lado oou outro do debate.
O que definitivamente parece estar faltando, de ambos os lados, é o reconhecimento de que a questão da migração em todos os seus aspectos se tornou uma questão extremamente controversa no mundo inteiro, para católicos e não-católicos.
No ano passado, vimos os principais líderes políticos ocidentais — alguns deles católicos — se tornarem claramente contra a imigração, pelo menos retoricamente, no Canadá, no Reino Unido, na França e na Alemanha. Em todos esses países, os políticos em algum momento haviam criticado o primeiro governo Trump por causa dessa mesma posição. Agora eles mudaram porque a opinião popular nessas democracias sobre imigração mudou, tornando-se muito mais hostil. Parece ter havido menos tiros na reação das conferências episcopais desses países, em comparação com os EUA.
A Conferência Episcopal Italiana evidentemente fez críticas à primeira-ministra da Itália Giorgia Meloni, uma linha dura anti-imigração, desde que ela assumiu o cargo em 2022, mas tudo parece bastante brando em comparação com a versão dos EUA.
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No Hemisfério Ocidental, a questão da migração parece se tornar mais atenuada ou matizada quando os EUA ou Trump não fazem parte da discussão. O México repatriou milhares de estrangeiros, incluindo colombianos e cubanos, por anos, com pouco discussão. Dois Estados nas Américas — Nicarágua e Cuba — usam agressivamente a expulsão forçada ou o exílio forçado de seus próprios cidadãos como arma política. As críticas das conferências episcopais ou da Santa Sé foram relativamente atenuadas porque são ambos regimes autoritários que perseguem abertamente a Igreja (Nicarágua) ou buscam controlá-la (Cuba).
E, assim como aceitar migrantes ou refugiados se tornou um tópico político quente no Ocidente, a migração também se tornou uma arma na guerra híbrida e indireta travada por alguns países contra seus vizinhos, que exportam populações indesejadas, e usam fluxos migratórios para pressionar outros países para obter benefícios financeiros ou políticos.
Além de Cuba e Nicarágua, pode-se citar Argélia, Marrocos, Turquia e Belarus como praticantes descarados dessa tática cínica. Lucrar com a extorsão de migrantes/refugiados não se limita a gangues criminosas; inclui Estados-nações.
Um exemplo interessante da complexidade da questão migratória é o Líbano. O ex-presidente Michel Aoun e seu ministro das Relações Exteriores na época, Gebran Bassil, ambos católicos maronitas, eram virulentamente contra hospedar mais de 1,5 milhão de refugiados sírios o Líbano, o maior número de refugiados per capita do mundo. Embora houvesse algumas críticas a essa postura por liberais e secularistas, não era uma questão de discórdia entre a Igreja e os líderes políticos católicos porque a Igreja também tem preocupações: o pequeno Líbano poderia ser inundado por estrangeiros, e a população de refugiados sírios, majoritariamente muçulmana, nunca iria embora e complicaria a já delicada situação demográfica do Líbano.
Na África do Sul e em outros Estados relativamente mais ricos no Sul Global, o desafio é a migração Sul-Sul. Os africanos não só tentam chegar à Europa ou aos EUA, eles também vão para o sul ou leste, para tentar entrar nos fabulosamente ricos Estados do Golfo Árabe.
Em 2023, a Arábia Saudita teria metralhado centenas, senão milhares, de refugiados etíopes que tentavam entrar no reino. Na África do Sul, migrantes e refugiados podiam entrar, mas foram vítimas de surtos xenófobos de violência por parte dos moradores locais. A maioria dos requerentes de asilo na África do Sul (90%) são rejeitados, mas autorizados a ficar por meio de pagamento de propinas.
Os EUA são grandes e poderosos e suas notícias circulam pelo mundo todo, então o aparente confronto entre o governo Trump e a USCCB ou o papa Francisco sobre migração domina as manchetes e gera uma controvérsia acirrada.
Mas leis e atitudes parecem estar endurecendo no mundo todo. É um problema em todos os lugares, com todas as permutações, nuances e crueldades possíveis e imagináveis. Nós só não estamos prestando tanta atenção.
Alberto M. Fernandez é um ex-diplomata dos EUA e colaborador da EWTN News.
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