Quaresma: do pó à glória



Na Quaresma, somos convidados a reconhecer nossa fragilidade e dependência de Deus. “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” (Gn 3,19).

Felipe Bauer – Vatican News

A Quaresma nos convida a uma profunda conversão, preparando-nos para o mistério central da fé cristã: a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Neste caminho de quarenta dias, somos chamados ao jejum, à oração e à esmola, recordando que nossa existência terrena é uma peregrinação rumo à eternidade. Em contraste, certas sociedades que perderam a fé na vida futura vivem presas a uma ilusão de autonomia e poder, negando a cruz e fugindo da dor, mas sem encontrar verdadeiro consolo.

A esperança cristã, firmada na promessa da ressurreição, nos ensina que, mesmo quando nosso corpo é consumido pelo sofrimento e pela morte, ele não está condenado ao esquecimento. Pelo mistério pascal, Cristo transformou a morte em passagem para a vida plena. No entanto, onde falta essa fé, a dor se torna insuportável, a velhice um peso, e a morte um fracasso definitivo. Sociedades descrentes, que exaltam o homem como se fosse um semideus, acabam, diante dessa finitude, reduzindo-o a algo descartável, sem sentido, sem dignidade e sem horizonte eterno.

Na Quaresma, somos convidados a reconhecer nossa fragilidade e dependência de Deus. “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” (Gn 3,19), ouvimos na Quarta-feira de Cinzas. Mas esse reconhecimento não nos lança no desespero, pois sabemos que fomos moldados com amor divino e destinados à glória. O sofrimento, quando unido a Cristo crucificado, torna-se redentor e fecundo.

Neste Jubileu da Esperança, a Igreja nos recorda que a conversão passa pelo reencontro com a misericórdia divina. O Papa Francisco, ao abrir a Porta Santa no Vaticano, nos convida a cruzá-la com um coração renovado, deixando para trás as falsas seguranças do mundo e abraçando a verdadeira liberdade de filhos de Deus. As peregrinações jubilares, os sacramentos e a busca pela indulgência plenária são sinais dessa esperança que não confunde (cf. Rm 5,5), mas fortalece nossa fé no Cristo vivo.

O Santo Padre, Papa Francisco nos recorda isso em sua mensagem para a Quaresma deste ano de 2025: “graças ao amor de Deus em Jesus Cristo, somos conservados na esperança que não decepciona. A esperança é a âncora da alma, inabalável e segura. Nela a Igreja reza para que todos os homens sejam salvos”.

As comunidades cristãs, enraizadas nessa fé, não veem a morte como o fim, mas como o início da vida eterna. A compaixão, nesses ambientes, não se expressa na eliminação do sofredor, mas na solidariedade com sua dor, no acompanhamento espiritual e no amor que fortalece os que enfrentam a doença e a morte. Celebramos não a ilusão de uma juventude eterna, mas a certeza de que, no tempo de Deus, até nossos corpos ressuscitarão em glória.

A Quaresma nos ensina que a verdadeira grandeza não está em pensarmos em sermos um semideus, mas em nos tornamos servo. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28). Jesus, que lavou os pés dos discípulos e carregou a cruz, nos mostra que a glória passa pela humildade e pelo amor até o fim. E no Jubileu da Esperança, a Igreja nos recorda que esse caminho não é em vão, pois aquele que crê na ressurreição não teme a morte, mas a vê como um portal para a verdadeira felicidade.

Que nesta Quaresma, iluminados pelo Ano Santo, possamos redescobrir a beleza da esperança cristã, abandonando as ilusões de grandeza passageira e abraçando a humildade e a confiança em Deus. Pois quem deposita sua esperança no Senhor jamais será esquecido.



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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