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12 de mar de 2025 às 15:11
Rodrigo Duterte, ex-presidente das Filipinas criticado por líderes da Igreja por causa de milhares de execuções extrajudiciais, foi preso sob acusação de crimes contra a humanidade por mandado do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Duterte, de 79 anos, foi preso logo depois de pousar no Aeroporto Internacional Ninoy Aquino, em Manila, capital das Filipinas, num voo vindo de Hong Kong, China, informou a rádio americana National Public Radio (NPR). Ele foi eleito presidente das Filipinas em 2016 prometendo ser duro com o crime, especialmente o tráfico de drogas. Como presidente, Duterte teria enviado policiais por todo o país para matar extra-judicialmente suspeitos de tráfico e uso de drogas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) começou a investigar Duterte em 2018 e concluiu em 2020 que jovens em áreas pobres urbanas estavam sendo rotineiramente mortos a tiros na rua pela polícia sem nenhum processo. Testemunhos e relatórios reunidos ao longo dos anos sugerem que policiais recebiam recompensas em dinheiro pelas execuções.
O governo das Filipinas só reconhece oficialmente 6.248 mortes devidas à campanha antidrogas. O promotor do TPI, tribunal sediado em Haia, Holanda, disse que o número de mortos pode chegar a 30 mil, segundo a agência de notícias Reuters.
Em 2019, as Filipinas deixaram o tratado de adesão ao TPI para evitar uma investigação sobre a guerra às drogas. O TPI considera que tem jurisdição sobre crimes cometidos quando o país ainda era membro, segundo a Asia News, agência católica de notícias da Ásia.
A Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas há muito tempo manifesta abertamente oposição a Duterte, a sua “guerra às drogas”, e se opuseram ao seu apelo em 2020 para reaplicar a pena de morte para o uso ilegal de drogas e outros crimes.
A Cáritas Filipinas, divisão de ação social da conferência, elogiou ontem (11) os desenvolvimentos no caso do ICC contra Duterte. A organização pediu aos apoiadores e aliados políticos de Duterte para “deixarem de lado a lealdade pessoal e escolherem ficar com o império da lei”.
“Esses assassinatos não foram aleatórios; eles foram parte de uma política que violava o direito fundamental à vida”, disse o bispo de San Carlos, dom Gerardo Alminaza, vice-presidente da Cáritas Filipinas.
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“As famílias das vítimas merecem verdade, reparações e justiça”, disse Alminaza. “Como nação, devemos garantir que tais crimes nunca mais aconteçam”.
Duterte foi abertamente hostil à Igreja católica, à qual a vasta maioria dos filipinos pertence, em seu mandato. Pouco antes de sua eleição como presidente, Duterte chamou o papa Francisco de “filho da p-a” por causa da piora no trânsito na capital, Manila, que uma visita do papa ao país causou. Duterte mais tarde se desculpou com o papa numa carta.
Em junho de 2018, Duterte chamou Deus de “estúpido” e “filho da p-a” num discurso. Ele disse também que a maioria dos padres filipinos eram homossexuais.
Naquele mesmo mês, Duterte disse estar disposto a entrar em diálogo com a conferência episcopal do país num esforço para reparar relacionamentos, e o porta-voz de Duterte anunciou que um comitê seria criado para melhor colaborar e se comunicar com a hierarquia da Igreja.
Mais tarde naquele mesmo ano, Duterte disse que os cidadãos deveriam “matar e roubar” os bispos, dizendo que “esse bando estúpido não serve para nada — tudo o que eles fazem é criticar”.
Em mensagem pastoral de setembro de 2021, o arcebispo de Nueva Segovia, dom Marlo Mendoza Peralta; o arcebispo de Lingayen-Dagupan, dom Sócrates Buenaventura Villegas; e o arcebispo de Tuguegarao, dom Sergio Lasam Utleg, no norte da ilha de Luzón, lamentaram a onda de assassinatos relacionados às drogas no país e ataques a jornalistas, membros da oposição política, advogados, ativistas e padres. Os arcebispos pediram aos fiéis que resistissem à “cultura de assassinato e pilhagem”.
Em 2020, quatro bispos e dois padres foram acusados de tentar derrubar Duterte, mas as acusações foram retiradas. Vários padres e leigos presos sob o governo de Duterte por criticar a guerra às drogas foram absolvidos em 2023.