Faltando sete meses para as eleições presidenciais na Costa do Marfim, os bispos manifestam a sua profunda preocupação com o clima sócio-político que prevalece no país. Numa declaração tornada pública na segunda-feira, 24 de março, exortam os seus concidadãos a preservar a paz e a evitar qualquer risco de desestabilização.
Por Marcel Ariston Blé – Abidjan, Costa do Marfim
“Não queremos mais conflitos pós-eleitorais! Chega de guerra! Chega de mortes!“, clamam os bispos da Costa do Marfim, apelando à responsabilidade de todos. Considerando que a política constitui uma nobre missão dedicada à gestão do bem comum, o episcopado costa-marfinense recorda que ela deve basear-se em princípios éticos e orientar-se para o bem-estar da sociedade.
No entanto, estas últimas décadas foram marcadas por uma instrumentalização da população e tomada de reféns para fins partidários, com uma excessiva politização da administração, dos meios de comunicação social e dos sindicatos, denunciam os bispos costa-marfinenses, sublinhando assim a necessidade de restaurar a integridade e a vocação primária destas instituições.
Um clima sócio-político preocupante
Os Bispos da Costa do Marfim fornecem também uma visão alarmante da situação nacional, destacando o aumento da violência, o chamado fenómeno dos “micróbios”, para descrever as crianças em conflito com a lei, a proliferação e consumo de drogas e narcóticos nas escolas, bem como a restrição das liberdades de expressão e de manifestação.
Os prelados criticam igualmente a compra das consciências, os conflitos fundiários, a detenção ou exílio de opositores políticos, bem como a persistência de discursos de ódio e baseados na identidade, factores que exacerbam a desconfiança e alimentam uma tensão social perigosa. “As próximas eleições presidenciais preocupam toda uma população cuja memória permanece ferida pelas eleições anteriores, especialmente as de 2010 e 2020”, sublinham os Bispos, apelando à consciência colectiva para evitar a repetição das tragédias do passado.
A integração política de todos os candidatos
Apesar deste quadro desolador, os Bispos exortam a população a manter a esperança e a não ceder ao fatalismo. Insistem na necessidade de um diálogo inclusivo entre todos os componentes da sociedade, para que as próximas eleições não sejam uma nova fonte de discórdia, mas antes uma oportunidade para reafirmar a unidade nacional.
Dirigindo-se às autoridades em funções, o episcopado costa-marfinense defende a inclusão de todos os candidatos nas eleições presidenciais, acreditando que um processo eleitoral aberto e justo constituiria uma alavanca decisiva para acalmar o clima político e acelerar a reconciliação nacional porque, “apesar dos notáveis esforços do governo, certos projectos iniciados nesta perspectiva permaneceram como sinfonias inacabadas”, observam os prelados, sublinhando a urgência de reforçar as bases democráticas e éticas do país.
Exigência de transparência absoluta no processo eleitoral
O episcopado da Costa do Marfim manifesta ainda a sua preocupação com a independência da Comissão Eleitoral Independente. Observa que a sua atual composição e modo de funcionamento levantam dúvidas sobre a sua imparcialidade. Perante estas preocupações, os Bispos apelam ao respeito pelos padrões mais objectivos de transparência e imparcialidade.
“Exortamos igualmente a Comissão Eleitoral Independente a honrar o seu compromisso com a justiça e a trabalhar para reduzir quaisquer potenciais falhas no sistema que possam minar a confiança do público em futuras eleições”, afirmam eles, apelando ao compromisso de um diálogo constante com todas as partes interessadas, especialmente os partidos políticos, “a fim de responder a todas as preocupações, incluindo a revisão da lista eleitoral e garantir a integridade dos resultados”.
Trabalhar em comunhão e sem batotas
Voltando-se para os partidos políticos, os Bispos esperam que os seus atores trabalhem com amor “como um irmão ou irmã, esforçando-se para ser artesãos de comunhão e de paz na verdade”. Salientam que o desafio permanece e sempre será visto pelo seu “desejo de avançar, sem batota”.
E aos guias religiosos os bispos convidam a resistir às tentações do clientelismo político, a preservar a paz, mostrando dignidade face às “negociações financeiras com fins eleitorais e, acima de tudo, garantindo que a busca pelo bem-estar material não comprometa nem a sua integridade nem o seu compromisso espiritual”. Para tal, apelam à intensificação das orações para que as próximas eleições decorram em paz, dignidade e em excelentes condições.
Compromisso coletivo para um futuro pacífico
Os Bispos costa-marfinenses também se dirigem aos meios de comunicação social e redes sociais nacionais e internacionais para convidá-los a desempenhar um papel de guardiões da democracia, “fornecendo informação verificada, incentivando o diálogo civil, respeitando a ética profissional, exortando na mesma linha os organismos reguladores, como a Alta Autoridade da Comunicação Audiovisual, bem como a Autoridade Nacional de Imprensa, a garantirem a paridade no processamento da informação de todos os partidos políticos”.
“Não inciteis ao ódio!” Em relação à juventude costa-marfinense, os arcebispos e bispos exortam-nos a recusar qualquer manipulação. “Nós vos suplicamos a tomar consciência do vosso futuro e a agir com responsabilidade.” Quanto às forças de defesa e segurança, os Bispos recordam o seu dever de neutralidade e profissionalismo, insistindo no respeito escrupuloso pelos direitos fundamentais dos cidadãos, de forma a garantir um clima eleitoral pacífico e transparente.
Perante as expectativas e ansiedades suscitadas pelas eleições presidenciais de outubro de 2025, os Bispos costa-marfinenses apelam, enfim, à consciência colectiva e a um compromisso sincero com a paz. “Não queremos mais conflitos eleitorais! Chega de guerra! Chega de mortes!” – é o grito dos prelados que convidam cada cidadão a tornar-se um “artesão da estabilidade nacional”.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
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