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11 de abr de 2025 às 10:41
A Ordem Trinitária nasceu no fim do século XII para libertar os cristãos perseguidos nas Cruzadas. Hoje ela continua a ajudar os perseguidos por causa da sua fé, os cativos do século XXI.
Entre as ruas movimentadas do bairro romano de Trastevere, a poucos passos do rio Tibre, ergue-se uma das basílicas mais antigas de Roma, a de São Crisógono, mantida pela Ordem Trinitária desde 1850. A basílica comemora um soldado romano que se converteu ao cristianismo e morreu mártir.
No convento ao lado do templo, o padre Antonio Aurelio, vigário geral da Ordem Trinitária, recebeu a ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI.
“Nascemos para ir às masmorras”, diz ele com convicção.
Numa grande sala, sob o olhar de todos os generais da ordem cujos quadros presidem a sala, o padre Aurelio falou, vestindo o hábito branco da ordem com o escapulário com a cruz azul e vermelha, sobre a razão pela qual a Ordem Trinitária foi um divisor de águas na Igreja.
Uma missão: libertar os cristãos
“A fundação da ordem em 1198 foi um evento único na história da Igreja, pois até então só havia vida monástica”. Segundo o padre Aurelio, são João de Matha, fundador da Ordem Trinitária, criou a primeira ordem que deixou o convento para ajudar quem precisava, especialmente os prisioneiros das Cruzadas, por quem os resgates eram pagos e até mesmo trocados por membros da ordem que se ofereciam para aficar como escravos dos muçulmanos.
A Ordem Trinitária nasceu com a missão de resgatar e redimir cristãosescravizados, estabelecendo um novo modelo de vida religiosa centrado na ação e no serviço fora do mosteiro. O padre diz também que os trinitários foram às guerras “em paz, não com uma arma, mas com uma cruz”.
“Eles nos chamam de redentores porque seguimos o mesmo caminho que o Redentor faz”, disse o padre Aurélio. “Ele deixa seu espaço, por assim dizer, de glória, e se rebaixa ao mundo. Ele vai procurar necessidades, vai procurar as fragilidades do homem para libertá-lo, para tirá-lo dessa escuridão. E os trinitários fazem a mesma jornada. Eles saem de casa para ir em busca daqueles que precisam lhes dar a clareza do Deus do dia, tirando-os da escuridão das masmorras”.
Atualmente, há trinitários em processo de beatificação, como o português Antônio da Conceição, junto com José de la Madre de Dios e Ignacio Tavares, que morreram na prisão depois de serem trocados por prisioneiros cristãos.
“Havia religiosos que, quando o dinheiro não bastava e viam que os prisioneiros estavam numa situação muito extrema, trocavam de lugar com eles, literalmente oferecendo suas vidas pelos cativos”, diz o padre Antonio Aurelio.
Os cativos do século XXI
Com o desejo de voltar às origens de sua fundação, foi criada em 1999 a Solidariedade Internacional Trinitária (SIT), cuja missão é ajudar cristãos perseguidos.
Segundo o Relatório Mundial de Liberdade Religiosa de 2023 da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), os cristãos continuam sendo o grupo mais perseguido do mundo. Um total de 28 países, nos quais vive mais da metade da população mundial (51,5%), estão incluídos na “categoria vermelha” de perseguição. Destes, 13 estão na África, onde a situação se deteriorou seriamente.
Hoje, os trinitários continuam esse legado, dando suas vidas pelos cativos do século XXI, os que sofrem perseguição por causa de sua fé. A ordem tem 54 comunidades na Europa, 22 nos EUA e no Canadá; 21 na América Latina; dez em Madagascar e duas no resto do continente africano, e duas na Índia.
Além dos sacerdotes trinitários, a ordem também tem freiras trinitárias contemplativas, religiosas e irmãs nas casas da ordem em Roma e na Espanha, assim como os leigos trinitários.
Seguindo o exemplo de um santo silencioso
Dom Aurelio refere-se, sobre isso, a Oito Séculos Depois, documentário que fala sobre esse sofrimento e mostra cristãos esquecidos em lugares como a Síria, a Nigéria ou o norte da Índia, mas que não perdem a esperança graças à ajuda “silenciosa” oferecida pela SIC, fundada pela família trinitária há 25 anos.
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“São João de Matha é um dos santos mais discretos que existem, ele nunca falou de si mesmo”, diz ele.
Com base na humildade, discrição e silêncio do fundador, quiseram fazer esse documentário, em que o protagonismo é dado aos que estão sofrendo essas situações extremas.
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“Queríamos que eles fossem os únicos a falar”, disse o padre Antonio Aurelio. “Que fossem eles a se expressar, que nos dissessem”.
O documentário retrata a situação de garotas nigerianas, sequestradas e estupradas por radicais muçulmanos do grupo Boko Haram. Também o abandono dos cristãos na Síria dilacerada pela guerra, e a falta de liberdade religiosa na Índia.
“A família trinitária está lá, discretamente, como dizemos, em silêncio, mas está lá”, enfatiza o padre.
Para o superior dos trinitários, o que “não é dito, não existe”, embora diga que os cristãos devem estar interessados em conhecer a realidade de seus irmãos e irmãs perseguidos, sem olhar para o outro lado.
“Já estamos tão acostumados com nossos próprios esquemas, com nossos próprios caminhos, que tudo o que é diferente disso nos escapa. Ou seja, passa como água na capa de chuva, que não penetra. E é isso que está acontecendo no Ocidente, o que está acontecendo na Europa e o que está acontecendo nos EUA”, lamenta o padre Aurelio.
Nesse contexto, ele diz que a Ordem Trinitária não é uma organização não governamental (ONG) não confessional.
“Somos religiosos. Nossa ideia é uma atitude religiosa e como não podemos parar essas guerras porque não está em nossas possibilidades, pelo menos o que podemos fazer é não deixá-las sozinhas, não deixá-las abandonadas”.
Padre Aurelio lamenta o relativismo na sociedade dos países desenvolvidos e a falta de “pureza de fé”.
“Não podemos abandoná-los. Dói-nos muito que seja tão difícil para o Ocidente saber que existem pessoas que vivem a mesma religião e que são capazes de dar suas vidas para permanecer fiéis a essa religião”, disse o padre.
No islã “a pessoa não tem identidade”
“A mensagem cristã é o que os assusta”, responde o padre sobre qual é a principal motivação que leva à perseguição. “O cristianismo é a única religião que promoveu o contexto democrático, a liberdade entre as pessoas. Onde os cristãos são perseguidos, fundamentalmente há ditaduras e a mensagem de liberdade é uma mensagem que eles não aceitam”.
“O cristianismo é a única religião no plano filosófico e teológico que busca a pessoa como ela é e, portanto, busca sua integridade. Há um fundamento da vida que é a liberdade”, diz o padre Aurelio.
O padre enfatiza que o cristianismo dá uma sensação de liberdade a cada pessoa, algo que “aterroriza as ditaduras”.
“Tudo o que é contrário à busca do bem comum da pessoa, que é o cristianismo, deve ser perseguido”, diz Aurelio.
O padre também cita a submissão e a obediência, exercidas em algumas religiões, especialmente o islã.
“O conceito de pessoa não existe nessas religiões”, diz o padre Aurélio. “Existe o conceito de sunna, uma série de regras que regem o movimento social, mas a pessoa não tem identidade”.
“Parece que agora estamos falando muito sobre o bem comum. Essa é uma ideia moderna do bem comum, mas o primeiro a usar essa palavra é são Paulo, em suas cartas. Todo esse desejo de buscar a pessoa como centro dessa liberdade, desse bem-estar, assusta qualquer ditadura que exista no mundo e, portanto, aqueles que manifestam esse modo de vida devem ser perseguidos”, enfatiza o padre.