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18 de abr de 2025 às 12:52
Nos textos que preparou para a Via-Sacra de hoje (18), Sexta-feira Santa, no Coliseu de Roma — da qual não poderá participar, pois continua se recuperando de uma pneumonia bilateral que ameaçou sua vida em duas ocasiões — o papa Francisco diz que “a economia de Deus não mata nem esmaga”, depois de falar sobre a esperança transformadora do Evangelho.
“O caminho para o Calvário passa pelas estradas do nosso dia-a-dia. Nós vamos, Senhor, normalmente na direção oposta à vossa. Por isso mesmo, pode acontecer que encontremos o vosso rosto e que cruzemos com o vosso olhar”, escreve o papa nas reflexões que serão lidas esta noite no anfiteatro para acompanhar as 14 estações que descrevem a Paixão de Cristo.
Francisco, que está se recuperando de uma infecção respiratória que fez com que ficasse internado por 38 dias no Hospital Agostino Policlínico Gemelli, em Roma, também não pôde comparecer ao evento nos últimos dois anos devido a problemas de saúde.
Nesta ocasião, as estações serão celebradas pelo delegado do papa e vigário de Roma, cardeal Baldassare Reina.
Nos textos que preparou para esta cerimônia litúrgica central da Semana Santa, o papa Francisco denuncia as feridas do mundo que geram sofrimento, como a indiferença e a marginalização, e diz que a economia de Deus “não descarta”, mas é “humilde” e “fiel à terra”.
Na meditação da sétima estação, que narra o trecho do Evangelho em que Jesus cai pela segunda vez, o papa criticou o funcionamento do mundo com ” cálculos e algoritmos, de lógicas frias e interesses implacáveis”.
“Renova-nos, Senhor! Somos crianças que por vezes choram, jovens que muitos adultos desprezam, idosos que ainda querem sonhar”, disse Francisco, propondo rezar pela conversão.
O papa Francisco comparou então o sistema econômico atual a uma estrutura “desumana” em que “noventa e nove valem mais do que um”.
Em cada uma das quatorze estações, que refazem o caminho percorrido por Jesus carregando sua cruz até o monte Calvário, o papa escreveu uma oração e rezou, por exemplo, “pelos que estão nas fronteiras e sentem terminada a viagem”, ou pela “paz” no mundo e na Igreja.
“Concedei paz e unidade à vossa Igreja, Senhor Jesus, que carrega as feridas da nossa história. Concedei paz e unidade à vossa Igreja, Senhor Jesus, que conhece a fragilidade do nosso amor”, disse Francisco. Na estação final, o papa Francisco desejou paz para “todas as nações”.
“Que a vossa paz chegue à terra, ao ar e à água. Que a vossa paz chegue aos justos e aos injustos. Que a vossa paz chegue aos invisíveis e que não têm paz. Que a vossa paz chegue aos que não têm poder nem dinheiro. Que a vossa paz chegue aos que esperam que brote um rebento de justiça”, escreve o papa.
Francisco fala sobre uma fé real “com suas quedas e suas denúncias” que coexiste até mesmo “com a tentação de ir na direção oposta à de Jesus”. Por isso, o papa exorta os fiéis a terem a força de se reconhecerem “pecadores”, com a confiança “de que em Cristo tudo pode mudar”.
Em cada uma das 14 Estações, a Cruz será acompanhada por pessoas ou organizações cujo testemunho incorpora a dor mencionada nas meditações escritas pelo papa Francisco: jovens, famílias, migrantes, pessoas com deficiência, religiosos ou voluntários.
O papa escreve que nos passos de Jesus no caminho do Gólgota “está o nosso êxodo para uma terra nova”, porque Cristo “veio mudar o mundo” e, portanto, devemos “mudar de direção, ver a bondade de seus rastros”.
Assim, Francisco identificou nos diferentes personagens da Via-Sacra experiências “que todo ser humano pode viver”.
“Como a de Simão de Cirene, que, voltando do campo, é detido para ajudar Jesus a carregar a cruz”, disse o papa.
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Para o papa Francisco, na realidade de hoje, “precisamos de quem às vezes nos pare e ponha sobre nossos ombros um pedaço da realidade que simplesmente precisa ser carregado”. Para Francisco, “se se trabalha sem Deus, dispersa-se”.
Assim, na Primeira Estação, que evoca o momento em que Jesus é condenado à morte, o papa fala sobre o risco de se tornar semelhante a Pilatos e sobre o conceito de justiça: “Vós continuais, silenciosamente, diante de nós: em cada irmã e irmão expostos a julgamentos e preconceitos. Regressam os argumentos religiosos, as querelas jurídicas, o aparente bom senso que não se envolve no destino dos outros: inúmeras razões nos puxam para o lado de Herodes, dos sacerdotes, de Pilatos e da multidão. Contudo, pode ser diferente. Vós, Senhor Jesus, não lavais as mãos”.
Na Segunda Estação, em que Jesus carrega a Cruz, que será carregada no Coliseu por um grupo de jovens, o papa Francisco fala contra o egoísmo que pesa,diz Francisco, “mais que a Cruz”.
“Na realidade, somos nós que estamos sem fôlego, por fugirmos à responsabilidade. Bastaria não fugir e ficar: no meio daqueles que nos destes, nos contextos em que nos colocastes”, diz o papa.
Na Terceira Estação, quando Jesus cai pela primeira vez, e a cruz será transportada pela organização de caridade Cáritas, Francisco denuncia a lógica do descarte: “O vosso caminho, Senhor Jesus, é a via das bem-aventuranças. Não destrói, mas cultiva, repara, guarda.”.
Na Quarta Estação, o papa Francisco exorta os fiéis a dar espaço à novidade de Deus em suas vidas: “Seguir-vos é deixar-vos ir; ter-vos é dar lugar à vossa novidade”.
Na Quinta Estação, quando Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz, Francisco diz que todos nós precisamos de alguém para “nos parar” e colocar em nossos ombros “algum pedaço de realidade que simplesmente precisa ser carregado”.
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“É possível trabalhar todo o dia, mas, sem Vós (Jesus), tudo se dispersa”, diz o papa.
Na Sexta Estação, Francisco exorta os fiéis a cuidar dos que mais sofrem: “Sempre que nos voltamos para o menor dos nossos irmãos, damos atenção aos vossos membros e Vós permaneceis conosco”.
Na Sétima Estação, o papa exorta os fiéis a não “se gloriarem da infalibilidade”, porque isso seria “negar o caminho” que Deus escolheu; enquanto na Oitava, ele pede ao mundo “lágrimas sinceras”. Na Nona Estação, porém, Francisco critica a hipocrisia: “As máscaras, as belas fachadas já não são necessárias. Deus vê o coração. Ele ama o coração”.
Na Décima Estação, quando Jesus é despojado de suas vestes, o papa Francisco pede cura para a Igreja: “E se, para Vós, a Igreja se apresenta hoje como uma túnica rasgada, ensinai-nos a tecer de novo a nossa fraternidade, fundada no vosso dom”.
Na Décima Primeira Estação, quando Jesus é pregado na cruz, o papa fala sobre como a Cruz “derruba muros, perdoa dívidas, anula julgamentos, estabelece a reconciliação”.
Na Décima Segunda Estação, que registra o momento em que Jesus expirou na cruz, Francisco denuncia, numa crítica à indiferença: “Mantivemo-nos distantes das chagas do Senhor. Vem, Espírito Santo! Diante do nosso irmão caído, olhamos para o outro lado. Vem, Espírito Santo!”
Na penúltima estação, o papa Francisco enfatiza o dever dos cristãos de se posicionarem diante das feridas do mundo: “Tu nos capacitas para grandes responsabilidades, nos tornas ousados”.
A mensagem de esperança do papa é concluída na Décima Terceira Estação, quando ele destaca que Deus está “entre aqueles que ainda esperam”, porque Ele quebra “a cadeia do inevitável” e transforma “o que não há mais nada a ser feito” em “uma nova possibilidade”.