O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, falou ao jornalista Ross Douthat, do jornal americano New York Times, sobre como sua fé católica influencia suas visões políticas e como ele concilia suas crenças religiosas com suas visões linha-dura sobre a aplicação da lei de imigração.
Vance, um convertido declarado à fé católica, apareceu no podcast Interesting Times, de Douthat, enquanto os dois estavam em Roma para a missa inaugural do papa Leão XIV no domingo (18). Douthat, que também se converteu ao catolicismo, é um colunista conservador do New York Times.
Na entrevista, Vance falou sobre como sua fé e a doutrina social da Igreja contribuem para suas visões sobre governança. No entanto, ele disse também por que acredita que um vice-presidente americano não pode simplesmente "fazer tudo o que o Santo Padre me diz para fazer" devido às suas obrigações de servir aos interesses do povo americano.
Uma abordagem católica americana à governança
“Quando você realmente acredita em algo, isso deve influenciar a forma como você pensa, a forma como faz seu trabalho, a forma como passa tempo com sua esposa e seus filhos. Isso necessariamente influencia como eu vivo minha vida”, disse Vance.
Inspirado pelo princípio da governança, Vance acredita que “o propósito da política americana” é “encorajar nossos cidadãos a viver uma vida boa”.
Vance disse que sua fé influencia seu cuidado com “os direitos dos nascituros”, junto com sua crença no “trabalho digno”, em que uma pessoa tem “um salário alto o suficiente para que [ela] possa sustentar uma família”.
Vance disse que teme que as sociedades americanas e ocidentais tenham se tornado "muito hostis à formação familiar", alegando que elas "têm sido muito ruins em apoiar as famílias na última geração, e acho que isso pode ser visto no fato de que menos pessoas estão escolhendo começar uma família".
Ele acrescentou que enfrentou críticas da direita política por estar "insuficientemente comprometido com o mercado de capital livre". Embora tenha dito "sou um capitalista", ele disse que não é, em princípio, contra todas as intervenções no mercado e citou as políticas tarifárias do governo dos EUA como exemplo.
“Acho que uma das coisas que tiro dos meus princípios cristãos e doutrinas sociais católicas — especialmente se você concorda ou não com as políticas específicas do nosso governo — é que o mercado é uma ferramenta, mas não é o propósito da política americana”, disse o vice-presidente.
Vance também falou sobre os potenciais benefícios e desvantagens dos desenvolvimentos em inteligência artificial (IA) e disse que espera que o papa Leão XIV dê orientação moral sobre essas questões.
“O governo americano não está preparado para dar liderança moral, pelo menos uma liderança moral em larga escala, diante de todas as mudanças que virão com a IA. Acho que a Igreja está. É nesse tipo de coisa que a Igreja é muito boa”, disse o vice-presidente dos EUA.
Vance disse que discorda da visão de que política e religião são "duas questões totalmente distintas... porque isso subestima a maneira como todos nós somos informados por nossos valores morais e religiosos". No entanto, ele também disse que receber ordens diretas da Santa Sé em questões políticas "seria uma violação da Constituição dos EUA".
“Minha obrigação mais ampla como vice-presidente [é] servir ao povo americano”, disse Vance.
"Não estou lá como J.D. Vance, um paroquiano católico", mas "estou lá como vice-presidente dos EUA e líder da delegação do presidente para a missa inaugural do papa", disse ele sobre a sua estadia em Roma.
“Portanto, alguns dos protocolos sobre como eu respondo ao Santo Padre são muito diferentes de como eu responderia ao Santo Padre, ou de como você responderia ao Santo Padre puramente em sua capacidade como cidadão”, disse Vance a Douthat.
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Por exemplo, o vice-presidente disse que não se curvou para beijar o anel de Leão XIV. Embora seja um ato comum de respeito ao papa, ele disse que beijar o anel de um líder estrangeiro seria contra o protocolo de um vice-presidente americano.
“Então, sem nenhum sinal de desrespeito, mas é importante observar os protocolos do país que eu amo, que represento e ao qual sirvo como vice-presidente, os EUA”, disse também Vance.
Vance disse que o equilíbrio está em não “desconsiderar simplesmente” as posições da hierarquia da Igreja, mas fazer “um julgamento prudencial muito informado pelas doutrinas da Igreja, conforme refletidos por esses líderes".
A dignidade dos migrantes e a aplicação da lei da imigração
Uma das principais questões sobre as quais o governo do presidente Donald Trump tem discutido com a Santa Sé e a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) é a aplicação das leis de imigração americanas.
Nos primeiros quatro meses da presidência de Trump, ele reprimiu travessias ilegais de fronteira, interrompeu a entrada da maioria dos refugiados, cortou o financiamento federal de organizações não governamentais (algumas delas católicas) que reassentam migrantes e prometeu deportações em massa dos que estão ilegalmente no país.
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Essas políticas foram criticadas por organizações de caridade católicas, pela USCCB, pelo papa Francisco e pelo então cardeal Robert Prevost, atual papa Leão XIV.
Vance disse que o Catecismo da Igreja Católica e os líderes da Igreja reconhecem “o direito de um país de impor suas fronteiras”, mas também enfatizam a necessidade de respeitar “a dignidade dos migrantes”.
“Você precisa ser capaz de manter duas ideias na cabeça ao mesmo tempo”, disse Vance.
“Temos obrigações para com as pessoas que, de algum modo, fogem da violência, ou pelo menos da pobreza. Também tenho uma obrigação muito sagrada, creio eu, de fazer cumprir as leis e promover o bem comum do meu próprio país, definido como as pessoas com o direito legal de estar aqui”, disse o vice-presidente.
Vance disse que falou com “muitos cardeais neste fim de semana” sobre política de imigração e “teve muitas conversas boas e respeitosas, inclusive com cardeais que “discordam veementemente” de suas opiniões sobre migração.
“O que tentei dizer é que penso muito sobre essa questão da coesão social nos EUA. Penso em como podemos formar novamente o tipo de sociedade em que as pessoas podem criar famílias, em que as pessoas unem instituições”, disse ele.
O vice-presidente disse que os defensores da migração em massa não reconhecem "o quão destrutiva é para o bem comum a imigração nos níveis e no ritmo que vimos nos últimos anos" e que "realmente acha que a solidariedade social é destruída quando há muita migração, muito rapidamente".
"Isso não é porque eu odeio os migrantes ou sou movido por ressentimentos”, disse ele. “É porque estou tentando preservar algo no meu próprio país, onde somos uma nação unificada. E não acho que isso possa acontecer se houver muita imigração, muito rápido".
Vance tornou-se católico em agosto de 2019, aos 35 anos de idade, e é o segundo vice-presidente católico dos EUA. O ex-presidente Joe Biden foi o primeiro, quando serviu no governo do ex-presidente Barack Obama, de 2008 a 2016.
Tyler Arnold é repórter do National Catholic Register. Já trabalhou no site de notícias The Center Square e suas matérias foram publicadas em vários veículos, incluindo The Associated Press, National Review, The American Conservative e The Federalist.
Este é um artigo do site ECCLESIA. Diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e Guilherme d’Oliveira Martins analisam perfil, diversidade de experiências do Papa
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