Giro d’Itália no Vaticano, as emoções dos atletas: esporte é vida e espiritualidade

03/jun/2025

Entrevistados pela mídia vaticana antes do giro, em modo não competitivo, atrás da Basílica de São Pedro e pelos Jardins Vaticanos, os campeões de ciclismo não escondem a singularidade do evento. Yates: essas atividades criam "laços universais". Del Toro: "Orgulhoso do que fiz". Bernal: "Se não fosse por Deus, eu não estaria aqui". Caruso: uma corrida "emocionante". Pellizzari: "Carrego a cruz no pescoço", este evento tem "um valor duplo para mim".

Edoardo Giribaldi – Vatican News

De todos os esportes, o ciclismo é talvez o que mais ajuda a se aproximar imediatamente da beleza. Uma estrada que passa entre montanhas e planícies, uma bicicleta que se torna companheira de viagem e o olhar sempre pronto a se surpreender com o que o mundo oferece, com emoções a cada curva. É o privilégio de quem pedala não apenas para vencer, mas para descobrir. Uma combinação de "vida" e "espiritualidade". Um luxo raro, porém, para quem vive o ciclismo como profissão e vocação: a urgência da corrida, a pressão do tempo, a concentração extrema muitas vezes rouba espaço ao encantamento. É por isso que a passagem em modo não competitivo, no Vaticano, no domingo, 1º de junho, na última etapa do Giro d'Itália, assume um significado especial. Um fragmento de silêncio e sacralidade, no coração de uma corrida que sempre foi frenesi e luta.

Yates, os laços universais do esporte

Todos os olhares estão voltados para Simon Yates, o Camisa Rosa, que venceu o Giro d'Itália, na mesma subida, Colle delle Finestre, onde tinha perdido a corrida há 7 anos, como favorito. A passagem pela Cidade do Vaticano representa algo único. "Nunca estive lá antes, então será um momento realmente especial", disse Yates emocionado à mídia vaticana. O que torna tudo ainda mais significativo é o fato de ele estar vestindo uma camisa icônica —símbolo de uma conquista pessoal e coletiva. Nesse cenário extraordinário, fé, esporte e identidade cultural se entrelaçam. "Sinto que há uma conexão entre religião, fé e Itália. Acho que tudo isso une as pessoas." Para ele, é justamente essa capacidade do esporte de criar laços profundos e universais que está no cerne de tudo. "Como eu disse, será um momento realmente especial passar por esses lugares com esta camisa."

Simon Yates aperta a mão do Papa Leão X Simon Yates aperta a mão do Papa Leão X

Simon Yates aperta a mão do Papa Leão X   (@Vatican Media)

Del Toro, aprender a lidar com a derrota

Apesar da pouca idade e do duro golpe de perder a Camisa Rosa na última etapa, Isaac del Toro demonstra lucidez e orgulho. "Fisicamente, me sinto muito bem, não tão cansado como em outras ocasiões", diz ele. "Mentalmente, poderia estar melhor, mas é algo que aprenderei a administrar com o tempo." Com palavras ponderadas e profundas, ele expressa gratidão pelo percurso realizado: "Estou muito feliz e orgulhoso da posição em que estou. A equipe sempre foi incrível, me deu total confiança e apoio, e não me arrependo de nada." Quando realmente alcançar o feito que conquistou, será "incrível", diz ele. Seus pensamentos vão para aqueles que o acompanharam: "Dedico este resultado a todas as pessoas que me apoiaram. Não posso dedicá-lo apenas aos membros da minha família, porque as pessoas foram muitas, mas obviamente começaria por eles." O carinho recebido do público o emociona: “Às vezes sinto que erram a pessoa, mas tento dar a minha melhor versão.”

Del Toro (Camisa Branca no Giro d'Itália) com o Papa Leão XIV Del Toro (Camisa Branca no Giro d'Itália) com o Papa Leão XIV

Del Toro (Camisa Branca no Giro d'Itália) com o Papa Leão XIV   (@Vatican Media)

Bernal, a queda e o renascimento

Lá está Egan Bernal, colombiano, sétimo na classificação. Ele venceu o Giro e o Tour, apertou a mão do Papa Francisco, mas também viu a escuridão: um acidente terrível, um corpo quebrado, a bicicleta que parecia uma lembrança. Mas ele voltou. E cada pedalada que ele dá hoje é uma oração, cada subida, um ato de fé. "Se não fosse por Deus, eu não estaria aqui", diz ele com convicção, relembrando o grave acidente que quase encerrou sua carreira – ou até mesmo sua vida. Para ele, a própria possibilidade de participar desta competição é uma dádiva de Deus, um milagre pelo qual ele é grato todos os dias. Sua preparação espiritual tem raízes na infância, graças à educação que recebeu de seus pais, mas foi fortalecida justamente após o acidente, que marcou um "antes e depois" em sua vida. Nos momentos mais difíceis das etapas, quando a dor física parece insuportável, Bernal encontra força na fé, agradecendo a Deus até pelo sofrimento, porque "pelo menos consigo sentir alguma coisa", diz ele. "Eu poderia estar morto ou paralisado, mas estou aqui." Por ocasião da última etapa dentro dos muros do Vaticano, o ciclista confessa sua emoção com a ideia de estar perto do Papa e espera que seja um dia de alegria também para o público.

Caruso, esporte e espiritualidade

Para Damiano Caruso, ciclista italiano e veterano do Giro d'Itália, a última etapa desta edição teve um significado especial. Não apenas por terminar num lugar único no mundo, mas pela profunda conexão entre esporte, fé e beleza que este dia representa. "Eu tinha planejado visitar o Vaticano amanhã com minha família, mas saber que passaremos por lá hoje, durante a corrida, me emocionou profundamente", diz ele, entusiasmado. "Só de pensar nisso, fico arrepiado." Pedalar pelas ruas dentro dos muros do Vaticano, com a presença do novo Papa, torna-se para ele um momento repleto de significado espiritual. "É uma mensagem muito positiva", acrescenta, "porque o Papa também demonstrou grande abertura ao mundo do esporte, encontrando-se frequentemente com atletas de todas as disciplinas. Isso é lindo, porque esporte é vida, e há muitas conexões entre esporte e espiritualidade." Uma experiência intensa, que confirma como o ciclismo pode, às vezes, se tornar uma verdadeira peregrinação interior.

Pellizzari, o duplo sentido da corrida

Para o jovem ciclista Giulio Pellizzari, a passagem pelo Vaticano representa muito mais do que uma conquista esportiva. "É algo que não se vê todos os dias", diz ele. A própria ideia de poder ver o Papa durante uma corrida é, para ele, algo raro e profundamente emocionante. Mas não é apenas um evento sugestivo do ponto de vista simbólico: "Eu uso a cruz no pescoço, sou religioso, então tem um duplo sentido para mim", confessa.

Carapaz, o talento como um presente de Deus

Para Richard Carapaz, a final do Giro d'Itália no esplêndido cenário de Roma foi uma emoção única. "É a minha primeira vez aqui e é uma sensação realmente linda", diz o campeão olímpico e vencedor do Giro de 2019. Embora tenha vivido outras conclusões desta corrida, esta edição — enriquecida pela passagem pelo Vaticano — também teve um significado especial do ponto de vista espiritual. "Também me preparo pela fé para chegar aqui", diz ele. "Sou religioso, talvez não tanto quanto gostaria, mas tenho minhas convicções." Carapaz reconhece que a fé o apoiou nos momentos mais difíceis de sua carreira: "Acredito que Deus me deu um presente e sempre tento fazer o meu melhor. Toda a glória vai para Ele. O que eu faço, faço como um instrumento em suas mãos."

Artigos Recentes

Rolar para cima