Médio Oriente: Escalada de violência e retaliação perpetua conflito, alerta especialista

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22/jun/2025

Em face dos recentes e trágicos acontecimentos no Médio Oriente, incluindo o agravamento das tensões entre Israel e o Irão, torna-se ainda mais urgente o apelo pela paz. A Comissão Nacional de Justiça e Paz, numa nota divulgada antes desta escalada, já havia condenado o uso de força excessiva por parte de Israel na Faixa de Gaza.

Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, sublinha que, embora cada conflito tenha a sua especificidade, é crucial não desviar a atenção de uma tragédia para a outra. É fundamental analisar estas situações sob a ótica do direito e da ética, rejeitando a ideia de que os fins justificam os meios. A doutrina da Igreja e o direito internacional, por exemplo, não aceitam a guerra preventiva, uma justificação que pode levar a grandes arbitrariedades.

No cenário atual, Vaz Patto observa que a dinâmica predominante não é defensiva, mas sim uma "lógica de retaliação, de vingança, numa escalada interminável". Esta espiral de ataques e contra-ataques, cada vez mais severos e com consequências devastadoras, inclusive para civis, apenas intensifica o clima de hostilidade mútua, afastando qualquer possibilidade de paz e segurança duradoura para os povos envolvidos.

Questionado sobre se o novo foco no conflito Israel-Irão poderia ofuscar a situação em Gaza, Vaz Patto reconhece esse risco e reforça a importância de manter a atenção sobre os "crimes de guerra" que estão a ocorrer na Faixa, como a utilização da fome como arma e a restrição ao acesso a bens essenciais. Ele reitera a condenação ao ataque inicial, mas insiste na crítica à reação desproporcional, que se afasta da autodefesa legítima e cai na lógica da retaliação.

A Comissão Justiça e Paz alinha-se com a Santa Sé e as Nações Unidas na defesa da solução de "dois Estados" como o caminho para respeitar os direitos de ambos os povos à autodeterminação e a uma pátria. A paz só será alcançada com justiça, ou seja, com o reconhecimento e respeito pelos direitos de israelitas e palestinianos. Sem isso, a coexistência pacífica é impossível.

Refletindo sobre o papel dos governantes, Vaz Patto defende que a política e a economia não podem estar separadas da ética. A fé e os princípios morais devem guiar as ações dos políticos, mesmo em situações de dilema. A lógica de que os fins justificam os meios é sempre perigosa.

A questão do comércio de armas é outro fator que, embora não seja a única causa, pode incentivar a perpetuação e intensificação dos conflitos, sendo algo "profundamente condenável", como tem apontado o Papa Francisco.

No plano nacional, Vaz Patto apela à coerência do Governo português e da União Europeia em aplicar o mesmo critério na condenação de violações do direito internacional e crimes de guerra, seja na Ucrânia ou em Gaza. Considera que tem faltado firmeza nesta comparação.

Finalmente, abordando o contexto interno, destaca a necessidade de diálogo político e a rejeição de um "nacionalismo estreito" e de climas de hostilidade contra estrangeiros, imigrantes ou expressões de islamofobia. O acolhimento e a integração dos imigrantes são um desafio à luz dos princípios cristãos de dignidade humana e fraternidade. Vaz Patto defende o reagrupamento familiar como um direito humano fundamental, crucial para a integração e o bem-estar das famílias, comparando-o ao direito de portugueses no estrangeiro de estarem com os seus entes queridos. Condena propostas que restrinjam este direito ou que visem a introdução da prisão perpétua, contrárias à tradição humanista portuguesa.

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