O Departamento de Justiça dos Estados Unidos entrou com um processo contra o estado de Washington. A disputa judicial surge em resposta a uma nova legislação estadual que impõe aos sacerdotes da Igreja Católica a obrigação de revelar informações sobre abuso infantil obtidas durante o sacramento da reconciliação.
Segundo o Departamento de Justiça, a lei de Washington, conhecida como Senate Bill 5375, "viola o livre exercício da religião para todos os católicos". O argumento central apresentado na ação é que o sigilo confessional é "a essência da confissão", e sem ele, a prática religiosa católica, incluindo os deveres pastorais dos padres em benefício dos paroquianos, torna-se inviável.
A lei, sancionada pelo governador Bob Ferguson em maio, entra em vigor em 27 de julho e exige que padres denunciem casos de abuso de menores conhecidos na confissão. Curiosamente, a mesma lei isenta outros profissionais, como enfermeiros e terapeutas, dessa obrigação de denúncia em contextos similares. Padres que não cumprirem a exigência podem enfrentar penalidades severas, incluindo prisão de até 364 dias e multa de US$ 5.000. O governador Ferguson, que é católico, defendeu a medida como uma legislação importante para proteger crianças, apesar de sua familiaridade com o sacramento.
Anteriormente, o Departamento de Justiça já havia informado o estado sobre a abertura de uma investigação sobre a nova lei, caracterizando-a como um "ataque legislativo à Igreja Católica e ao seu sacramento da confissão, uma prática religiosa ordenada pela Igreja desde suas origens".
Bispos católicos das dioceses de Seattle, Spokane e Yakima também moveram sua própria ação judicial contra a lei em maio. Eles argumentam que a legislação viola a proteção ao livre exercício religioso garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, bem como a cláusula de igual proteção da 14ª Emenda e a Constituição de Washington, ao interferir no sigilo sagrado da confissão.
No processo dos bispos, eles reafirmaram o forte compromisso da Igreja Católica com a proteção de crianças, mencionando que suas políticas de diocese para combater o abuso infantil já excedem os requisitos atuais da lei de Washington para denúncia, com exceção específica para informações conhecidas unicamente dentro do contexto confessional, que é protegido por séculos de doutrina da Igreja.
Líderes de igrejas ortodoxas também se juntaram a processos contra o estado de Washington. Eles destacaram que sacerdotes ortodoxos, assim como os católicos, têm um "dever religioso estrito de manter a confidencialidade absoluta" das informações reveladas na confissão, e que violar essa obrigação religiosa é considerado um crime canônico e um pecado grave, com consequências severas para o sacerdote, incluindo a remoção do sacerdócio.
Bispos como Thomas Daly de Spokane e Arcebispo Paul D. Etienne de Seattle declararam publicamente que o clero não violará o sigilo da confissão, mesmo que isso signifique enfrentar a prisão. Citando a lei canônica e princípios religiosos, eles enfatizaram a primazia da obediência a Deus sobre as leis humanas neste aspecto.