Nesta segunda reportagem dedicada a explicar como em Papua Nova Guiné, país para onde o Papa Francisco viajará em setembro, os Missionários do Sagrado Coração iniciaram a construção de uma Igreja local, que agora conta com sacerdotes, bispos, um cardeal e até um beato nascido no país. O nascimento da Igreja local, a criação de postos de saúde e a construção de escolas deram origem a esta estrutura social que hoje continua a ser chamada de “Missão”.
Vatican News
No final do século 19 e início do século 20, os Missionários do Sagrado Coração chegaram à Papua Nova Guiné, a pedido de Leão XIII a Júlio Chevalier, para criar uma ‘Igreja local’. Os habitantes dessa época viviam em tribos, cerca de 600, que se enfrentavam entre si, motivo pelo qual poucos se organizavam em povoados. As casas ficavam distribuídas pelo território e assim evitar ataques massivos. Os missionários estabeleceram suas missões, com uma pequena igreja, precisamente em meio a essas ‘zonas popovoadas’, que começaram a se tornar uma referência para os nativos.
A medicina foi a chave para o desenvolvimento de Papua
Aos poucos o trabalho missionário vai se desenvolvendo e os missionários detectam que o passo seguinte é ajudá-los no seu sistema de saúde. Os feiticeiros tinham grande poder e a eles era confiada a cura das pessoas.
A chegada das irmãs missionárias com conhecimentos de medicina foi fundamental para o desenvolvimento deste povo. As primeiras, as Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração, chegaram em agosto de 1887. Padre Navarre, MSc, recentemente nomeado bispo, disse-lhes: “Chegou a sua hora, a Missão precisa e espera por vocês”. Eram a Madre Ligória e Irmãs Clara, Marta e Magdalena, a quem os indígenas chamavam de “Iviao-love” (‘donzelas santas’).
Dos dispensários aos centros de saúde
Inicia-se assim a construção de dispensários junto à igreja, que se tornam verdadeiros centros de saúde, onde a população é atendida. Ainda hoje, em Veifa’a, um pequeno posto de primeiros socorros leva o nome do padre José Díaz, msc, (o padre Pin). A ajuda a partir da Europa é essencial nesse momento, os medicamentos eram desconhecidos naquelas terras e a única forma de obtê-los era graças à generosidade europeia.
A criação de centros de formação de enfermeiras
O germe da nova sociedade começa a brotar. Os primeiros meninos e meninas estão crescendo e o exemplo dos religiosos e religiosas está permeando a população, por isso eles se interessam em aprender o que fazem.
Outra chave para o desenvolvimento da Papua Nova Guiné foi a criação de centros de formação para enfermeiras locais. Era portanto necessária a criação de escolas para formar a população infantil, com o objetivo de que em um futuro ela fosse dona da sua própria vida.
O testemunho das religiosas nativas da Papua
A enfermeira Mona Papu, Irmã Mona, é hoje a diretora do Centro de Saúde de Inauaia, construído pelo padre Xavier Vergés, Missionário do Sagrado Coração, que esteve em Papua Nova Guiné por quase 40 anos. Era uma criança quando entrou em contato com a missão, onde estudou e sentiu o chamado para ajudar seu povo.
Algo semelhante aconteceu com a Irmã papua Elizabeth lnapi, Filha de Nossa Senhora do Sagrado Coração que, em uma carta enviada ao padre Paco Blanco, MSc, Superior Provincial da Espanha, disse: “Devo a minha vocação ao padre Vergés. Conheci-o quando tinha 4 anos, foi o seu exemplo que me atraiu para a vida religiosa”. Ela conta que o próprio padre Vergés “construiu a missão, a igreja, a escola, o convento das irmãs, o hospital”.
Educação, outra chave para o desenvolvimento
À igreja e ao dispensário de saúde soma-se agora a escola que, juntamente com as cabanas construídas com materiais da floresta, organizadas em duas filas, compõem a estrutura dos novos povoados.
Hoje em dia, esta estrutura social ainda é chamada de ‘Missão’ (igreja, centro de saúde e escola). Não existe uma administração local no estilo de municípios, a sua organização continua sendo baseada em clãs tribais. A comunidade paroquial é a única entidade ‘transversal’ que permite ações conjuntas de todo o tipo, quer de natureza religiosa como civil.
São os párocos a mediar casos de conflitos entre clãs, que ainda são frequentes. Eles próprios dizem que, muitas vezes, graças aos missionários, a violência tribal praticamente desapareceu.
Fortalecer suas raízes e promover sua dignidade
Atualmente, esta formação ainda é necessária, especialmente nos povoados mais remotos, para que, como diz Irmã Anna Pigozzo, Superiora da Missão da Comunidade da Transfiguração, em Bereina, compreendam que necessitam de cuidados e remédios e não de feiticeiros e poções mágicas e que com o desenvolvimento de suas habilidades lógicas e abstratas estão sendo ajudando a ter maior autonomia.
Além disso, eles são ensinados a partir de sua cultura. Os próprios missionários, desde a primeira metade do século XX, criam as suas gramáticas, aprendem as suas línguas, para que não percam as suas raízes. Isto serviu para que hoje tudo esteja impregnado por seus costumes ancestrais, que também incorporam nas Eucaristias e nas celebrações religiosas como resultado desta inculturação, fomentada pelo trabalho missionário. Este esforço para levar a mensagem de Cristo a todos os lugares, como dizem os Missionários do Sagrado Coração, tem como objetivo o seu desenvolvimento, a partir do Evangelho, como pessoas que vivem com dignidade.
Publicación en colaboración con Javier Trapero, Director de la Oficina de Comunicación de los Misioneros del Sagrado Corazón.