Religiosidade e tecnologia: um encontro com a Inteligência Artificial



No tempo de Jesus, não existiam tecnologias semelhantes à inteligência artificial, mas suas palavras e ensinamentos trazem princípios que podem ser aplicados a essa discussão.

Dom Edson Oriolo – Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

Ultimamente, não se fala em outra coisa no mundo da tecnologia: a inteligência artificial é, sem dúvidas, o assunto em todos os setores do conhecimento. Existem muitos questionamentos sobre a tecnologia da inteligência artificial. Essa realidade não é recente. Acredito que podemos pontuar a partir da década de 50, quando Alan Turing propôs o “Teste de Turing”. Esse método determina se uma máquina exibe um comportamento inteligente indistinguível do comportamento de um humano.

Francis Bacon (1561-1629), o filósofo e cientista que desenvolveu o método científico baseado na observação e experimentação, nos ensinou que “as artes mecânicas são de uso ambíguo, servindo tanto para ferir quanto para remediar” (cf. Bacon, Francis. Novum Organum, 1620). Com o advento da inteligência artificial, fruto das capacidades e processos cognitivos do ser humano, grandes CEOs (executivos de empresas), líderes, professores, empresários, gestores e padres estão preocupados e tentando entender os futuros impactos dessa tecnologia.

Assim sendo, a inteligência artificial está na rotina das pessoas, profissionais e, principalmente, no cotidiano da vida dos padres. Homens que buscam anunciar as sementes do Verbo na disrupção da tecnologia. Ela pode oferecer riscos e benefícios para à vida religiosa. É necessário encontrar um equilíbrio entre a utilização da tecnologia e a preservação das práticas religiosas e devocionais. É fundamental entender que, embora a inteligência artificial possa oferecer benefícios aos consagrados, ela não substitui a vivência eclesial da fé e a importância do contato humano.

No tempo de Jesus, não existiam tecnologias semelhantes à inteligência artificial, mas suas palavras e ensinamentos trazem princípios que podem ser aplicados a essa discussão. Jesus valorizava o amor ao próximo, a empatia, a proximidade e o contato. Em Jo 13,34-35, ele disse: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” Agregar esses princípios com a tecnologia pode orientar o desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial na fé.

O uso da inteligência artificial na Igreja Católica Apostólica Romana está começando a ganhar impulso em todo o mundo. De maneira tímida, estão acontecendo através de chatbots religiosos (resposta automática via texto), assistentes virtuais e robôs religiosos. Essas tecnologias de software, que interagem com usuários de maneira conversacional bem orientadas, ajudam no crescimento da fé dos batizados, diante das rápidas evoluções tecnológicas.

O Vatican News, a agência de notícias do Vaticano, lançou um chatbot (resposta automática via texto) chamado Pope Francis News, em 2017. Esse chatbot usa a inteligência artificial para dar informações sobre as atividades do papa e responder perguntas sobre a Igreja Católica e o Vaticano. Ele foi criado para facilitar o acesso a notícias e informações diretamente do Vaticano. Além disso, o chatbot está disponível em várias línguas, permitindo que as pessoas de todo mundo possam utilizá-lo. Podemos também implementar no site de uma paróquia um chatbot para responder a perguntas frequentes dos fiéis sobre horários de missas, casamentos, batizados, eventos, doações, entre outros.

Também podemos criar assistentes virtuais, isto é, programas ou sistemas de inteligência artificial projetados para disponibilizar orientação, responder a perguntas ou oferecer suporte relacionado a práticas religiosas. Eles podem ser programados para responder a questões teológicas, viabilizar orações e ensinar princípios religiosos. Com os avanço dos chatbost, é possível agendar compromissos, obter previsões do tempo e consultar  os horários de atividades religiosas. Podemos usar o Google Assistant , Amazon Alexa e Siri da Apple, que podem ser programados para informações religiosas, recitar orações, ou até mesmo acessar ensinamentos religiosos específicos, quando solicitados pelos fiéis.

Além disso, é possível pensar em robôs religiosos, isto é, dispositivos ou programas que têm funcionalidade voltadas para práticas ou ensinamentos religiosos específicos.  Eles podem orar, dar apoio espiritual, direcionar as pessoas para o caminho do bem e ajudar a entender o magistério da Igreja. Ajudam a interagir com os fiéis em eventos específicos, adaptando-se aos ensinamentos e práticas da fé cristã. Eles podem incluir assistentes virtuais projetados para informações, executar e auxiliar rituais ou práticas devocionais.

A integração da inteligência artificial com a vivência da fé e a revolução tecnológica pode enriquecer nossa experiência do encontro com o Bom Deus. No entanto, surgem preocupações quanto ao potencial de manipulação desse dom da fé pela inteligência artificial. O uso responsável e eficaz dessa tecnologia deve contribuir para alinhar os seres humanos na construção de uma sociedade justa e fraterna, formando pessoas íntegras e humanas, na construção da civilização do amor, conforme nos ensinou o saudoso São Paulo VI.

Finalmente, na mensagem para o 58 Dia Mundial das Comunicações em 2024, o Papa Francisco afirmou que “a sabedoria que vem da fé pode iluminar a tecnologia, para que esta nunca perca de vista a dignidade humana”. Ele enfatizou a importância da sabedoria do coração e a necessidade de que a tecnologia, incluindo a inteligência artificial, seja orientada para o respeito e a promoção da dignidade humana, comprometendo-se também com os valores fundamentais da fé. Integrar o cenário tecnológico à vida religiosa enriquece nossa experiência espiritual, desde que preserve a primazia do contato humano e as verdades sobre Jesus Cristo, a Igreja e o Homem como Imago Dei.



Fonte (Vatican News)

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