Freiras do Texas cuidam de suas irmãs em Cristo condenadas à morte

Freiras do Texas cuidam de suas irmãs em Cristo condenadas à morte


Quando a irmã Pia Maria pisou pela primeira vez na prisão de segurança máxima que abriga mulheres condenadas à morte no Texas, EUA, ela estava nervosa. Não apenas ela estava entrando no que era a parte mais perigosa da prisão, mas também estava prestes a passar um tempo com um grupo de mulheres que cometeram crimes hediondos e indizíveis.

O que ela diria a elas? Conseguiria sair de lá?

Quando finalmente a irmã Pia e suas colegas freiras das Irmãs de Maria Estrela da Manhã ficaram face a face com as mulheres condenadas, “todas as barreiras simplesmente caíram”.

“Era como se estivéssemos imersas, e éramos amigas, e estávamos conversando, e rindo, e estávamos em paz”, disse ela à CNA, agência em inglês da EWTN News.

“Havia uma presença espiritual, e fomos capazes de nos conectar e criar vínculos em nossa primeira visita. Foi simplesmente a graça de Deus — foi simplesmente incrível.”

As Irmãs de Maria Estrela da Manhã são uma ordem católica contemplativa de freiras localizada perto de Waco, a cerca de 40 minutos da prisão Patrick L. O’Daniel Unit em Gatesville, que abriga as sete mulheres condenadas à morte do Estado. Uma ordem relativamente jovem que se originou na Espanha e agora se espalhou para 25 conventos em todo o mundo, as irmãs celebraram o décimo aniversário de sua ordem no mês passado, em julho.

Nos últimos anos, as irmãs visitaram suas amigas no corredor da morte —Corredor de Luz, como elas dizem — uma vez por mês, criaram amizades verdadeiras e levaram seis das sete detentas a se converter ao catolicismo.

As detentas também se comprometeram a ser oblatas, leigas que vivem fora da comunidade das irmãs religiosas, mas que, mesmo assim, estão comprometidas em apoiar a comunidade por meio da oração.

A tradição dos oblatos — uma palavra que vem do latim para “oferta” — teve origem com são Bento, que queria estabelecer em sua regra uma maneira de homens e mulheres fora de uma ordem religiosa se afiliarem ao seu trabalho e oração.

“Eles são leigos que vivem no mundo e querem se comprometer com a nossa comunidade”, disse a irmã Pia.

“Eles têm uma conexão com a nossa comunidade, como a terceira ordem dos franciscanos ou os carmelitas… vivendo o espírito da nossa comunidade no mundo, mas como leigos”.

‘Inspirados pelo exemplo de conversão e fé’

A irmã Pia disse que, apesar de sua hesitação e nervosismo iniciais ao ter a oportunidade de entrar na prisão, ela disse se sentir inspirada pelo exemplo de conversão e fé em Deus demonstrado pelas mulheres presas, que veem seu estado encarcerado como algo semelhante à vida monástica.

“Acho que recebemos muito mais delas do que damos a elas”, disse a irmã Pia.

“É gratificante quando você entra e ministra e recebe tanto do indivíduo a quem você vai e ministra. É realmente a luz de Cristo que você recebe do outro”.

O Texas é um dos Estados mais prolíficos dos EUA quando se trata de pena de morte, tendo realizado quase 600 execuções estaduais e seis execuções federais desde 1976, segundo o grupo Death Penalty Information Center (Centro de Informação sobre Pena de Morte). Segundo o mesmo grupo, o Texas executou mais mulheres — seis — do que qualquer outro Estado do país.

Nenhuma das mulheres no corredor da morte do Texas tem data de execução agendada, mas a irmã Pia disse que ela e suas colegas tiveram que se preparar mentalmente e rezar sobre a possibilidade do Estado poder escolher a qualquer momento dar fim à vida de qualquer uma de suas amigas.

“É algo pelo qual rezamos… rezamos para que sejamos fortes”, disse ela.

“Será muito difícil para nós porque somos próximas a elas. Esperamos que isso não aconteça. Rezamos para que haja um milagre, que suas execuções sejam suspensas… mas deixamos nas mãos de Deus, que haja paz e graça que elas recebam quando chegar a hora”.

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Dom Joe Vásquez (centro) da diocese de Austin celebra missa na prisão da Unidade Mountain View em Gatesville, Texas, que abriga as presidiárias do estado no corredor da morte, em 1º de dezembro de 2023. Coalizão de Ministérios Penitenciários Católicos/TDCJ Communications
Dom Joe Vásquez (centro) da diocese de Austin celebra missa na prisão da Unidade Mountain View em Gatesville, Texas, que abriga as presidiárias do estado no corredor da morte, em 1º de dezembro de 2023. Coalizão de Ministérios Penitenciários Católicos/TDCJ Communications

O diácono Ronnie Lastovica, coordenador de cuidado pastoral da diocese de Austin para a região onde a prisão está localizada, ministrou às mulheres da prisão de Gatesville por mais de uma década. Ele foi fundamental na coordenação da entrada das freiras religiosas no ministério da prisão.

“Estou convencida de que é a Eucaristia que as atrai. E elas, por si mesmas, desejavam aprender mais sobre nossa fé”, disse Lastovica à CNA ao referir-se às mulheres no corredor da morte.

Lastovica disse que todas as mulheres que se converteram escolheram receber os sacramentos e se tornarem católicas. Duas delas foram batizadas enquanto estavam no corredor da morte e receberam os sacramentos completos, e as outras já eram cristãs batizadas e entraram em plena comunhão com a Igreja.

“Você verá que as mulheres no corredor da morte, quando falam sobre o poder da Eucaristia, o que ela fez por elas… Deus está lá. Deus está vivo. No exato momento, você vê que, mesmo para o pior dos pecadores, a esperança é restaurada. E não há maior presente que possa ser dado a uma alma do que a presença do próprio Cristo.”

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Uma observação e um convite

Alguns anos atrás, Lastovica estava lendo sobre a nova ordem de irmãs que viria para Waco. Ele ficou impressionado com o quão semelhante a vida das mulheres na prisão era à vida religiosa — viver em celas, um dia estruturado de trabalho e descanso, sem interagir muito com o mundo exterior. Ele ligou para a madre superiora das freiras e perguntou se elas considerariam visitar as mulheres na prisão.

No início, disse ele, a madre superiora estava hesitante porque não tinha certeza se o ministério prisional se encaixava no carisma contemplativo de sua ordem. Mas a ordem decidiu abrir uma exceção, em parte porque as mulheres no corredor da morte não podem ir até elas — então as irmãs tiveram que ser as que deram o primeiro passo.

E funcionou muito bem, disse Lastovica — a ponto das irmãs de Waco receberem permissão para continuar visitando todo mês.

“Todas elas trazem sua própria fragilidade para esta comunidade de mulheres que, na Light Row, também estão quebradas, mas ainda assim foram curadas pelo sangue do Cordeiro. Jesus as restaurou à sua dignidade, ao seu valor e à sua verdadeira identidade de que todas elas são filhas preciosas de Deus.”

“Elas estão ensinando a liturgia das horas. Elas fazem estudos das Escrituras. Elas as introduziram a todas as práticas que as irmãs têm e que são possíveis na prisão”, disse Lastovica.

“As mulheres levantam de manhã, fazem as orações matinais, vão para o jardim, trabalham por duas horas e voltam. É um lindo modo de vida que elas estão vivendo.”

Assim como a irmã Pia, Lastovica estava apreensivo ao entrar em uma prisão de segurança máxima pela primeira vez décadas atrás. Mas ele disse que mesmo na presença de criminosos violentos, “nunca se sentiu ameaçado.”

“Eles têm respeito por Deus. Talvez não acreditem em Deus, mas respeitam as pessoas que vêm e representam Deus e, claro, em nossa tradição, Jesus Cristo. E eu sempre levei o Senhor comigo. Sempre tive a Eucaristia comigo”, disse o diácono.

“Tudo o que podemos fazer é a nossa parte, e encorajá-los a fazer a parte deles, e confiar em Deus. Deus fará a dele… nós apenas levamos a eles as boas práticas da nossa tradição de uma vida de oração, vida sacramental.”

A experiência de Lastovica com o ministério prisional é mais uma confirmação, disse ele, de que Deus “vem nos procurar”, mesmo aqueles que parecem ser os mais pecadores e quebrados.

“Somos chamados a ver Cristo uns nos outros. E isso é uma tarefa difícil. Algumas pessoas não estão dispostas a fazer isso”, disse ele, ao reconhecer o quão difícil e doloroso pode ser para uma pessoa que é vítima de um crime ou é afetada por um crime perdoar o perpetrador.

“Nenhum de nós está além da redenção. Essa é a boa nova”, disse Lastovica.



Fonte: Aci Digital

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