7 de ago de 2024 às 12:37
Pelo menos nove padres foram presos “com violência” desde 26 de julho na Nicarágua, segundo a advogada e pesquisadora Martha Patricia Molina. Eles sacerdotes “permanecem sob vigilância total” da Polícia Nacional, disse ela.
Molina, autora do relatório “Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?”, publicou uma lista de sacerdotes “sequestrados pela ditadura sandinista” em sua conta na rede social X na segunda-feira (5). São pelo menos nove: monsenhor Ulises Vega Matamoros, monsenhor Edgar Sacasa Sierra, o padre Víctor Godoy, o padre Jairo Pravia Flores, o padre Marlon Velásquez, o padre Jarvin Torrez e o padre Raúl Villegas, todos da diocese de Matagalpa; o frei Silvio Romero, da diocese de Juigalpa; e o padre Frutos Constantino Valle Salmerón, da diocese de Estelí.
Com “ditadura sandinista”, Molina se refere ao regime do presidente Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro de esquerda que acumula mais de 30 anos no poder desde a derrubada do ditador Anastasio Somoza pela Frente Sandinista de Libertação Nacional em 1979.
A pesquisadora nicaragüense disse ontem (6) à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que o padre Salvador López, da diocese de Matagalpa, está desaparecido, embora não se saiba exatamente se também foi preso pelas autoridades.
Meios de comunicação nicaraguenses, como o portal de notícias Despacho505, noticiaram a prisão do frei Ramón Morras e do diácono Ervin Aguirre.
Molina disse que as detenções começaram em 26 de julho, quando o padre Frutos Constantino Valle Salmerón, administrador ad omnia da diocese de Estelí, foi “sequestrado, interrogado” e posto sob vigilância numa casa de formação da Igreja.
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A pesquisadora informou que os demais sacerdotes foram presos dias depois sem qualquer acusação formal por parte das autoridades.
Segundo Molina, os padres “foram violentamente sequestrados e levados de suas casas sacerdotais no meio da noite”. Em alguns casos “propriedades foram invadidas e objetos tecnológicos foram roubados”.
Para a advogada, as prisões foram feitas “sob a ilegalidade e o uso desproporcional da força que sempre é utilizado pela Polícia Nacional e também pelos [agentes] anti-motim da Nicarágua”.
Essas detenções, disse ela, podem ser motivadas porque Murillo e Ortega “odeiam tudo o que tem a ver com religião, com a fé católica e principalmente com a Diocese de Matagalpa, a que pertence quase a maioria desses sacerdotes que foram sequestrados”. Rosario Murillo é mulher de Ortega e vice-presidente do país.
O bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, defensor dos direitos humanos e crítico do regime de Ortega, foi preso, confinado em sua casa e condenado a 26 anos de prisão. O bispo foi deportado em janeiro deste ano para Roma, onde vive hoje no exílio.
A pesquisadora também sugeriu que as prisões poderiam ser uma “vingança” contra dom Álvarez, “que apesar de estar calado desde que saiu da prisão, é considerado pelo regime seu principal inimigo”.
Molina disse que todos os sacerdotes estão em prisão de fato, uma vez que “não há ordem de um juiz que diga que estão em prisão domiciliar”.
“Todos estão impossibilitados de sair e de realizar as suas atividades cotidianas, como vinham realizando nas respectivas paróquias”, disse ela.