29 de ago de 2024 às 14:32
Em Roma existem centenas de museus para visitar, com inúmeras obras-primas para admirar. No entanto, há uma arte muitas vezes esquecida que transeuntes encontram diretamente na Cidade Eterna: a chamada madonnelle.
Localizadas logo acima do nível dos olhos em muitos cruzamentos da cidade, as madonnelle são santuários marianos cujo nome pode ser traduzido como “pequenas Madonas” (pequenas Virgens). Há centenas delas nas ruas de Roma, instaladas com o intuito de que Nossa Senhora zele e proteja os habitantes da Cidade Eterna.
A devoção começou há pouco mais de 500 anos, com um primeiro santuário mariano instalado na rua em 1523. Essa madonnella, chamada Imago Pontis devido à sua localização, ainda hoje pode ser vista no bairro de Ponte, em Roma. Em seu auge, havia cerca de 3 mil madonnelle espalhadas pela cidade. Cerca de metade delas existe até hoje.
Madonnelle foi especialmente popular entre os séculos XVII e XIX, coincidindo com o fim da Contra Reforma. Nesse período, a fé foi criticada por sua devoção às imagens e a Nossa Senhora.
Em resposta, a Igreja fortaleceu a arte, encomendando algumas das iconografias religiosas mais conhecidas da história. A maioria dessas obras-primas estava instalada nas igrejas de Roma, mas muitos artistas anônimos canalizaram seus dons para a criação das madonnelle.
Originalmente, as madonnelle eram iluminadas por pequenas lamparinas a óleo, que serviam como grande parte da iluminação pública. Os romanos mantinham essas lamparinas acesas em sinal de devoção a Nossa Senhora. Essa devoção continuou com a prática dos fiéis locais acenderem velas ou cuidarem das flores perto desses santuários.
Uma tradição antiga
Embora a madonnella mais antiga tenha apenas 500 anos, a prática de erguer santuários devocionais públicos remonta a tempos antigos. Desde a fundação da Cidade Eterna, os romanos construíram santuários aos Lares, antigas divindades guardiãs romanas.
Embora a sua história documentada seja fragmentada, estudiosos dizem que os Lares foram especialmente importantes para a população local. Acreditava-se que essas divindades eram os espíritos positivos dos mortos reverenciados como observadores e protetores. Santuários chamados lararia foram construídos em casas para devoção pessoal e proteção contra o mal. Alguns deles ainda podem ser encontrados em Pompeia, onde foram preservados.
À medida que os lares se tornaram uma devoção popular, santuários chamados “lares compitales” foram instalados nas ruas. Eles foram colocados em cruzamentos onde o tráfego de pedestres e veículos fazia com que os romanos diminuíssem a velocidade. Lá, os lares compitales tinham maior visibilidade.
Com o tempo – e à medida que o tráfego nas ruas piorou – os santuários compitales cumpriram outra função: proteger os viajantes nestes cruzamentos. Evidentemente, o tráfego romano não mudou muito desde a antiguidade.
À medida que o cristianismo se espalhava em Roma, os lares compitales desapareceram lentamente. Nossa Senhora substituiu as divindades pagãs como protetora das ruas de Roma, especialmente em seus cruzamentos. No final do século XIX, apenas Nossa Senhora era confiada para zelar pela cidade, posição que ainda mantém.
Milagres e devoções
Numerosos milagres foram atribuídos às madonnelle nos últimos 500 anos. A maioria deles se refere aos olhos de Nossa Senhora nessas imagens, que dizem chorar, sangrar ou se mover de um lado para o outro.
Em 9 de julho de 1796, com as forças de Napoleão varrendo a Itália, dezenas de pessoas relataram que os olhos das madonnelle os seguiam enquanto passavam. Cinco desses casos foram confirmados como milagrosos pela Igreja, e uma capela foi construída em torno de uma dessas madonelle: a Madonna dell’Archetto. Essa continua a ser a menor igreja de Roma hoje, localizada a poucos quarteirões da famosa Fontana Di Trevi.
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Algumas madonnelle são dedicadas a certas aparições marianas, como a mostrada na imagem abaixo, dedicada a La Beata Virgen del Carmine, Nossa Senhora do Carmo.
Outras madonnelle funcionam como devoções pessoais, como o santuário da imagem abaixo, dedicado à Mater Itineris, ou Mãe do Caminho.
Essa madonnella é regularmente visitada pelos fiéis do bairro, que a decoram com flores, velas e outros objetos devocionais. As placas agradecem a Nossa Senhora pelo nascimento de seus filhos, alguns dos quais trazem as iniciais “PGR”, que significa “Pela Graça Recebida”.
Imagens modernas
Depois da Segunda Guerra Mundial, as madonnelle tiveram um renascimento em Roma. O venerável papa Pio XII consagrou a cidade a Nossa Senhora do Divino Amor em 4 de junho de 1944, pedindo-lhe que protegesse Roma durante os bombardeios. Nesse mesmo dia, o Quinto Exército dos EUA entrou na cidade, libertando Roma da ocupação alemã nazista.
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Isso fez de Roma a primeira capital libertada do Eixo e também garantiu a liberdade do papado e da Cidade do Vaticano.
Em agradecimento pela milagrosa intercessão de Nossa Senhora, novas madonnelle dedicadas a Nossa Senhora do Divino Amor foram instaladas por toda a cidade. Muitas delas, como a mostrada abaixo, trazem a mesma frase: “Virgem Maria Imaculada, Mãe do Divino Amor, torna-nos santos”.
Dez anos depois, o papa Pio XII declarou 1954 o primeiro ano mariano da Igreja, e mais santuários foram construídos para comemorar esse ano dedicado à Mãe de Deus.
Hoje, as madonnelle pode ser encontradas em todos os tipos de paredes romanas: desde vielas grafitadas até palácios romanos e restaurantes ao ar livre. Nossa Senhora é presença onipresente na Cidade Eterna. Turistas e moradores locais precisam apenas olhar para cima para ver a arte que serve como uma lembrança da rica história da cidade.
Em cada cruzamento, seja metafórico ou, no caso de Roma, físico, Nossa Senhora está sempre observando; Ela é nossa guia, nossa proteção e nossa liberdade.