Embora os cristãos tenham deixado a aldeia de al-Nasiriya, no norte do Iraque, há décadas, as portas da Igreja de Mar Odisho permanecem abertas — graças à dedicação de uma família yazidi local.

Wael Jejo Khdeida, um jovem yazidi, guarda as chaves da igreja e, junto com sua esposa, cuida do edifício sem receber pagamento. Continuando um legado transmitido por seus pais, Khdeida garante que a igreja esteja limpa, acessível e respeitada.

Em uma entrevista, Khdeida relembrou o serviço inabalável de seus pais à igreja antes de emigrarem em 2012.

“Antes de partirem”, disse ele, “eles me deram uma instrução: Cuide da igreja. ‘A igreja vem primeiro – antes da sua própria casa’, eles me disseram.” Ele sorriu, acrescentando que eles ainda perguntam sobre a igreja em cada telefonema, brincando que se ele a negligenciar, eles voltarão para retomar o dever eles mesmos.

Apesar de serem yazidis, uma minoria religiosa não cristã que sofreu perseguição no Iraque, Khdeida trata a igreja como um local sagrado.

“Nós tiramos os sapatos antes de entrar, tocamos suas paredes e as beijamos em reverência”, disse ele. “Este é um lugar de oração santa. Respeitamos todas as religiões e serviremos esta igreja até nosso último suspiro.”

Em 2023, pela primeira vez em 22 anos, a Igreja de Mar Odisho sediou uma Missa novamente. Desde então, tanto cristãos quanto yazidis voltaram a visitar a igreja, especialmente aos domingos, acendendo velas e buscando a intercessão do santo.

Khdeida observou que os yazidis também vêm frequentemente para rezar – muitos acreditando terem recebido milagres.

“Mulheres com problemas de amamentação costumavam vir aqui buscando cura com o óleo abençoado, e muitas foram curadas”, disse ele. “Eu até vi uma mulher yazidi curada de uma doença de pele após ser ungida.”

Ele continuou: “Muitos casais que não conseguiam ter filhos vieram pedir a intercessão de São Odisho. Uma família voltou da diáspora após anos de ausência apenas para cumprir uma promessa – o filho deles, agora um menino, entrou na igreja com eles.”

Os últimos moradores cristãos de al-Nasiriya partiram em 2003. Embora as razões sejam variadas – incluindo preocupações com segurança e migração – o êxodo reflete o declínio mais amplo da população cristã no Iraque.

Ainda assim, Khdeida mantém a esperança. “Queremos que os cristãos voltem. Eles são nossos irmãos. Sentimos falta da presença deles e os convidamos a retornar, visitar a igreja e trazê-la de volta à vida com oração.”

O yazidismo é uma das religiões monoteístas mais antigas do mundo, e a maioria de seus seguidores vive no Iraque e na Síria. Embora não seja uma fé proselitista, os yazidis há muito coexistem com cristãos e outras minorias religiosas no norte do Iraque.