A controvérsia numa diocese no Estado da Carolina do Norte, nos EUA, foi além da restrição à missa tradicional em latim. Foi revelado que o bispo local também havia planejado proibir o uso do latim, mesas de comunhão e outras práticas tradicionais em todas as liturgias diocesanas.
O bispo de Charlotte, Carolina do Norte, Michael Martin, propôs as restrições num rascunho vazado (link em inglês) sobre novas normas litúrgicas, divulgado inicialmente ontem (28) pelo blog Rorate Caeli e confirmado pelo jornal National Catholic Register, da EWTN. O bispo escreveu que o propósito das novas normas, que também falam sobre a proibição do culto ad orientem, isto é, de costas para o povo, e das orações tradicionais aos pés do altar, como a oração de são Miguel Arcanjo, escrita e instituída por Leão XIII, é "purificar e unificar a celebração da missa" na diocese.
Martin também escreveu que as normas propostas são exigidas pela Sacrosanctum concilium, constituição pastoral do concílio Vaticano II sobre a liturgia, o que tem sido contestado nas reações ao documento.
O vazamento do rascunho ocorreu depois da decisão do bispo de Charlotte, no último dia 23, de restringir a missa tradicional em latim em sua diocese, de quatro igrejas paroquiais para um único local que não é paróquia. O bispo Martin afirmou que a medida, prevista para entrar em vigor em 8 de julho, é coerenteTraditionis custodes, motu proprio com o qual o papa Francisco restringiu a missa tradicional em latim.
Críticos puseram em dúvida o momento da mudança, já que a diocese teve uma isenção do Traditionis custodes por mais alguns meses e que o Leão XIV pode indicar uma abordagem diferente à missa tradicional em latim do que o papa Francisco.
A controvérsia em Charlotte é a primeira grande disputa litúrgica no pontificado de Leão XIV, que prometeu trazer unidade a uma Igreja dividida. A diocese da Carolina do Norte é agora considerada um caso de teste para ver se Leão XIV dá alguma indicação não só sobre o futuro da liturgia tradicional, mas também sobre decisões do Concílio Vaticano II sobre a liturgia em geral.
A diocese de Charlotte disse ao Register que o documento com as normas litúrgicas era "um rascunho inicial que passou por mudanças consideráveis ao longo de vários meses" e ainda está sendo discutido pelo conselho presbiteral diocesano e pelo Escritório para o Culto Divino. Dadas as referências ao papa Francisco, o documento parece ter sido redigido antes da morte de Francisco em 21 de abril.
“Isso representou um ponto de partida para atualizar nossas normas litúrgicas e métodos de catequese para receber a eucaristia”, disse Liz Chandler, diretora de comunicações da diocese. As normas serão “completamente revisadas” segundo as decisões do concílio Vaticano II e a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), disse Chandler.
O bispo Martin estava celebrando confirmações na diocese em 28 de maio, que abrange a região oeste da Carolina do Norte e tem 565 mil fiéis, e não estava disponível para responder mais perguntas sobre as normas propostas antes da publicação deste artigo.
Membro dos Franciscanos Conventuais, o bispo Martin completa hoje (29) um ano como bispo de Charlotte. Antes de se tornar bispo, ele foi pároco em Atlanta, Geórgia e, antes disso, foi diretor do Centro Católico da Universidade Duke.
Concílio Vaticano II e Liturgia
No rascunho do documento, o bispo escreveu que as normas propostas decorriam do apelo do concílio Vaticano II para que a participação dos leigos na missa fosse “plena, consciente e ativa”.
“Essas três palavras juntas são o coração e o fundamento das minhas reflexões e instruções seguintes sobre a sagrada liturgia em nossa diocese”, escreveu o bispo Martin.
Vários comentários contestaram a afirmação do bispo de que as normas propostas são exigidas ou, em alguns casos, até mesmo coerentes, com o Concílio Vaticano II e a orientação litúrgica da Igreja.
Por exemplo, o bispo Martin escreveu que a Igreja não “exige que a língua latina seja amplamente utilizada na liturgia”, outros disseram que a orientação de 2007 da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB), referindo-se à Sacrosanctum concilium, exige exatamente isso.
Embora o vernáculo na liturgia seja a norma, o documento da USCCB (link em inglês) diz que “deve-se tomar cuidado para promover o papel do latim na liturgia, particularmente no canto litúrgico”.
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“Os pastores devem garantir que os fiéis também possam dizer ou cantar juntos em latim aquelas partes do Ordinário da Missa que lhes pertencem”, diz a USCCB, citando o concílio Vaticano II e referindo-se a partes litúrgicas como o Agnus Dei e o Sanctus.
Matthew Hazell, estudioso britânico de liturgia, disse que a perspectiva do bispo Martin se encaixa no que Bento XVI definiu como "hermenêutica de descontinuidade e ruptura".
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“Em vez de permitir que o novus ordo seja celebrado de uma maneira que esteja conforme com suas próprias rubricas e com a tradição da Igreja, o bispo Martin parece vê-la como uma criação inteiramente nova que não pode nem mesmo parecer ter algo em comum com o que veio antes”, disse Hazell ao Register.
Reação de fiéis
Alguns comentários dizem que algumas das normas propostas pelo bispo Martin são excessivamente específicas e contraditórias ao seu apelo para "colocar nossas preferências pessoais de lado". Outros se opõem à proposta de que mulheres sejam proibidas de usar véu se forem leitoras, cantoras ou coroinhas, criticando-a como um exemplo de "clericalismo" e "microgerenciamento".
“O bispo Martin de Charlotte está realmente dizendo às mulheres que assistem à missa o que elas podem ou não usar na cabeça?”, escreveu Bronwen McShea, historiadora da Igreja.
Outros comentaristas criticaram a desencorajadora caracterização das vestes sacerdotais tradicionais como tendência anti-Vaticano II.
O padre Paul Hedman, da arquidiocese de St. Paul e Minneapolis, publicou um comentário muito visto nas redes sociais (link em inglês) sobre as maneiras pelas quais as normas propostas pelo bispo Martin parecem se desviar das diretrizes oficiais da Igreja. Ele se ofendeu particularmente com a proposta do bispo de Charlotte de restringir as orações tradicionais que os padres rezam ao colocar vestes litúrgicas, descrevendo a medida como "tirânica".Até mesmo Mike Lewis, fundador do site WherePeterIs.com e um conhecido crítico dos tradicionalistas, disse que havia coisas no documento que "o deixam intrigado" (link em inglês), como a proibição de velas no altar.
“Apesar disso, aprecio o esforço e rezarei por ele e pela diocese enquanto ele enfrenta a inevitável ira tradicionalista”, escreveu Lewis na rede social X.
Notavelmente, o apelo do bispo Martin para restringir práticas litúrgicas mais tradicionais no novus ordo se desvia de outros bispos que restringiram de forma semelhante a missa tradicional em latim em suas dioceses.
Por exemplo, quando o cardeal Blase Cupich restringiu a missa tradicional em latim na arquidiocese de Chicago em janeiro de 2022, ele também pediu aos pastores que acompanhassem os fiéis com inclinações tradicionais, "incluindo criativamente elementos que as pessoas acharam nutritivos na celebração da forma pré-Vaticano II da missa", como o canto gregoriano.
Futuro Incerto
Fiéis em Charlotte expressaram gratidão pelo fato do bispo Martin não ter aplicado as normas que propôs, mas há receio sobre o que o futuro pode reservar.
Amy Jay, paroquiana da paróquia de Santa Elizabeth em Boone, Carolina do Norte, diz que vem ensinando aos seus quatro filhos modos mais tradicionais de oração, à luz do exemplo de Leão XIV. O novo papa tem se destacado por cantar em latim e usar vestes mais tradicionais — práticas que o papa Francisco evitou.
Em vez de confusão e tédio, Jay diz que seus filhos responderam aos costumes litúrgicos tradicionais com interesse e devoção.
“A ideia de dizer a eles que os [genuflexórios] da nossa paróquia vão acabar, que não haverá mais cânticos antigos, ou ter que dizer a eles por que não tenho mais permissão para usar o véu enquanto canto, é extremamente desanimadora”, disse ela. “Esse zelo e amor devem ser nutridos, não suprimidos”.
Jonathan Liedl é editor sênior do National Catholic Register. Sua formação inclui trabalho em conferências católicas estaduais, três anos de formação em seminário e aulas particulares em um centro universitário de estudos cristãos. Liedl possui um B.A. em Ciência Política e Estudos Árabes (Univ. de Notre Dame), um mestrado em Estudos Católicos (Univ. de St. Thomas), e atualmente está concluindo um mestrado em Teologia no Seminário de Saint Paul.
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