DÍLI, 10 de set de 2024 às 10:43
No Timor-Leste, país onde 98% da população é católica, o papa Francisco foi recebido hoje (10) com entusiasmo pelo clero e por religiosos locais.
Cerca de 600 clérigos e religiosos lotaram a catedral da Imaculada Conceição em Díli, capital do país, e outros 1,5 mil fiéis se aglomeraram do lado de fora do templo.
Entre os presentes estavam irmãs religiosas que cuidam dos pobres nas regiões montanhosas do país.
Ao falar hoje (10) na catedral, o papa encorajou aqueles com vocações religiosas a preservar a fé do país católico, nunca deixando de proclamar as Boas Novas do Evangelho.
“A Igreja existe para evangelizar, e nós somos chamados a levar aos outros o doce perfume da vida nova do Evangelho”, disse Francisco. “O Evangelho de Jesus tem o poder de transformar essas realidades obscuras e gerar uma sociedade nova”.
O papa Francisco desembarcou ontem (9) em Timor-Leste para a terceira etapa de sua viagem de 11 dias ao sudeste da Ásia e Oceania. A evangelização tem sido um tema essencial da viagem, que já o levou da Indonésia para Papua-Nova Guiné.
Situado ao largo da costa norte da Austrália, na fronteira entre a Ásia e a Oceania, Timor-Leste é um dos países mais novos do mundo — tornou-se um Estado soberano em 2002.
“No coração de Cristo, as periferias da existência são o centro”, disse o papa. “Uma Igreja que não é capaz de chegar às fronteiras e que se esconde no centro é uma Igreja muito doente. Uma Igreja que pensa na periferia, envia missionários, se coloca naquelas fronteiras que são o centro, o centro da Igreja”.
Franciscanos capuchinhos servindo os pobres
O padre Luan Le, frade franciscano capuchinho e missionário da Austrália, vive no Timor Leste há dez anos. Ele disse à CNA, agência em inglês da EWTN News, que os capuchinhos trabalham principalmente com os pobres, visitando aldeias para administrar sacramentos e cuidar dos doentes.
“A educação básica e a assistência médica continuam sendo grandes desafios, especialmente em áreas montanhosas”, disse Le. “Há uma falta de clínicas médicas, médicos, enfermeiros e remédios em muitos lugares. As pessoas geralmente dependem somente de fitoterapia quando ficam doentes”.
Ao descrever a excitação em torno da visita do papa, Le disse: “É uma bênção para eles. Eles o veem como o vigário de Cristo, e sua presença traz bênção e graça para suas famílias.”
Le expressou esperança de que a visita do papa promova paz, harmonia e desenvolvimento na educação e na saúde. Ele também falou sobre a necessidade de oportunidades de emprego para os jovens.
Ao refletir sobre sua experiência missionária, Le contrastou a vida na Austrália com a de Timor-Leste: “Aqui, nos faltam muitas coisas materiais, mas é uma bênção porque estamos mais próximos das pessoas. Você vê a alegria do Evangelho em seus rostos quando os conhece.”
Ordens religiosas ajudam no desenvolvimento e na educação
Muitas das ordens religiosas presentes em Timor-Leste trabalham com os pobres do país em desenvolvimento, onde mais de 40% da população ainda vive abaixo da linha da pobreza.
Madre Nunzia Da Silva Pachero é uma das oito freiras do Timor-Leste que ingressaram nas Missionárias da Caridade desde a chegada da ordem de madre Teresa ao novo país em 2008.
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“Nosso apostolado é visitar pessoas e famílias, consagrando-as ao Imaculado Coração, Sagrado Coração e Divina Misericórdia. Também auxiliamos famílias doentes, trazendo-as à cidade para tratamento médico. Quando possível, damos catequese, preparando as pessoas para os sacramentos. Além disso, visitamos prisioneiros e pessoas com doenças mentais”.
Quando as irmãs chegaram a Timor-Leste, notaram que algumas meninas que viviam nas montanhas tinham que caminhar de três a quatro horas para ir à escola. As meninas faziam a longa jornada a pé, iam à escola por duas horas e depois caminhavam de três a quatro horas para casa.
Embora as irmãs da Misericórdia tivessem que ir à ilha para cuidar das crianças doentes e desnutridas, a irmã Paola Lacovone disse que elas sabiam que também precisavam fazer algo para ajudar essas meninas, então abriram um dormitório para ajudar as meninas a prosseguir seus estudos sem precisar caminhar mais de seis horas por dia.
As Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia têm 25 religiosas vindas da Itália em Timor-Leste e estão no país desde 2011.
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O papa discursou aos membros da Conferência Episcopal de Timor-Leste (CETL) depois de ouvir o discurso de boas-vindas do bispo de Maliana, Timor-Leste, dom Norberto de Amaral, presidente da CETL, e os depoimentos de uma religiosa, um padre e um catequista.
A irmã canossiana Rosa Sarmento, falou sobre o status de Timor Leste como o país mais católico do sudeste da Ásia e “um oásis de vocações sacerdotais e religiosas”.
Ela disse que os religiosos timorenses agora servem em outras partes do mundo, revertendo a tendência histórica de missionários europeus vindos para Timor.
A irmã Rosa pediu a bênção do papa “para nossas crianças, adolescentes, jovens, homens, mulheres, idosos e, em particular, os deficientes, que são muitos”.
Os missionários trouxeram a fé católica para a ilha de Timor em 1515. A metade oriental da ilha, que se tornou Timor-Leste, foi uma colônia portuguesa por séculos antes de ser invadida e ocupada pela Indonésia, em 1975. Depois de quase três décadas de luta, Timor-Leste alcançou a independência em 2002.
Salvo pela batina
O padre Sancho Amaral, padre diocesano de 68 anos com 39 anos de serviço, falou sobre sua experiência ajudando o movimento de independência timorense. Ele falou sobre um momento crucial em 1991, quando auxiliou o comandante-chefe Xanana Gusmão — que atualmente é o primeiro-ministro — a viajar de Díli para a vila de Ossu. Os dois homens escaparam por pouco de serem identificados pelos militares indonésios quando foram parados em um posto de controle.
“Nesse momento, enquanto eu estava usando minha batina, abaixei a janela do carro com meu braço esquerdo para fora, meu rosto carrancudo e hostil, e perguntei: ‘ Ada apa ?’, ou seja, ‘por que você nos parou’? Mas quando os soldados perceberam que eu era um padre, eles nos deixaram passar. Então, a batina, como vestimenta da identidade sacerdotal, nos salvou do perigo”, disse Amaral.
O padre falou sobre como Deus protege aqueles chamados à missão, mesmo em tempos de guerra, acrescentando: “Hoje posso estar aqui para dar meu testemunho de vida, porque Deus me ama e cuida de mim”.
Uma terceira testemunha, Florentino de Jesus Martins — um catequista de 89 anos — falou sobre seu compromisso vitalício com a Igreja. Ele começou como catequista em 1956 e serviu por 56 anos, incluindo em estações missionárias e outros locais, para a diocese de Díli.
Na falta de transporte moderno, Martins disse que “muitas vezes tinha que caminhar de seis a dez quilômetros para poder catequizar”.
“Ao longo do caminho, às vezes enfrentei desafios como chuva e vento forte, ou pernoites durante a jornada. Apesar dos desafios, nunca desanimei e continuei a trabalhar com a máxima responsabilidade, zelo e devoção.”
Embora tenha se aposentado em 2017 devido a problemas de saúde, Martins ainda apoia e aconselha outros catequistas.
O sândalo e a fragrância de Cristo
Em seu discurso, o papa Francisco disse que assim como Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro, ungiu os pés de Jesus com perfume, os católicos são chamados a preservar e espalhar a fragrância de Cristo e seu Evangelho.
“Caríssimos, vós sois o perfume de Cristo”, disse o papa ao falar sobre o abundante cultivo de sândalo perfumado e altamente valorizado no país e conectando-o ao bom odor de Cristo.
“Como uma árvore de sândalo, de folha perene, forte, que cresce e dá frutos, também vós sois discípulos missionários, perfumados com o Espírito Santo para inebriar a vida do vosso povo”, disse Francisco.
O papa exortou o público a não cair na “morna mediocridade espiritual”, em vez de preservar fielmente a fragrância de Cristo.
“Nós [católicos] olhamos com gratidão para a nossa história anterior, para a semente da fé semeada aqui”, disse o papa ao elogiar as testemunhas que acabaram de falar aos presentes.
“Mas isso é suficiente? Na realidade, devemos sempre atiçar a chama da fé”, disse o papa Francisco, ao falar que isso significa aprofundar o conhecimento da doutrina cristã, a purificação à luz do Evangelho e o crescimento espiritual.
Timor-Leste, “enraizado numa longa história cristã, também precisa de um renovado ímpeto em direção à evangelização, para que a fragrância do Evangelho possa chegar a todos, uma fragrância de reconciliação e paz depois de anos de sofrimento na guerra; uma fragrância de compaixão, que ajudará os pobres a se reerguerem e inspirará um compromisso renovado para reavivar o bem-estar econômico e social do país; uma fragrância de justiça contra a corrupção”, acrescentou Francisco.
“Tenham cuidado com a corrupção”, disse o papa.
Francisco também pediu aos católicos locais que combatam o sofrimento do alcoolismo e da violência e superem qualquer desrespeito à dignidade das mulheres com a fragrância do Evangelho.
“O Evangelho de Jesus tem o poder de transformar essas realidades obscuras e gerar uma nova sociedade”, disse ele.
Ao encerrar, o papa exortou a todos os reunidos na catedral de Díli, dizendo: “Não desanimem! Como o Padre Sancho nos lembrou em seu testemunho comovente, ‘Deus sabe cuidar daqueles que chamou e enviou em sua missão’. Como o Padre Sancho nos lembrou hoje em seu testemunho comovente, ‘Deus sabe cuidar daqueles que chamou e enviou em sua missão’ ”.