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13 de jan de 2025 às 12:30
O cardeal George Pell, morto em 10 de janeiro de 2023, é lembrado por Tess Livingstone, autora da biografia do cardeal, por sua fidelidade sob pressão, seus esforços de reforma e por ser “um construtor” — tanto na Santa Sé quanto nas duas arquidioceses que chefiou em sua terra natal, a Austrália.
“Ele tinha uma mentalidade reformista… Pell olhava ao redor e pensava, bem, o que deve ser feito? O que podemos fazer? … Por que tantas crianças e adolescentes estão deixando as escolas católicas sem praticar [a fé]? … Por que as vocações estão tão ruins? Ele era, eu diria, um reformador prático”, disse Livingstone à CNA, agência em inglês da EWTN News.
A biografia do cardeal, escrita pela jornalista e autora australiana, foi publicada pela editora Ignatius Press no último dia 4 de novembro.
Livingstone falou à CNA em Roma na última sexta-feira (10) sobre as muitas instituições e espaços que Pell ajudou a construir em suas quase seis décadas de serviço à Igreja. Dom George Pell morreu por uma parada cardíaca aos 81 anos. O cardeal tinha feito uma cirurgia no quadril.
Tanto na arquidiocese de Melbourne, de 1996 a 2001, quanto na arquidiocese de Sydney, de 2001 a 2014 — uma mudança de território historicamente notável para um arcebispo, nunca feita antes na Austrália — o cardeal Pell fundou universidades católicas, seminários, faculdades e capelanias universitárias.
Dom Pell restaurou uma capela e construiu um jardim de esculturas em Melbourne. O cardeal foi também a força motriz por trás da criação de livros didáticos para educação religiosa da pré-escola até a 12ª série (3° ano do ensino médio) na arquidiocese de Melbourne.
Em Roma, dom Pell construiu a Domus Australia, uma igreja católica e casa de hóspedes em Roma.
Livingstone diz que caracterizar o cardeal como impopular ou malvisto em sua própria terra “é generalização demais”.
“Muitas, muitas pessoas reconhecem suas qualidades”, diz a autora.
“Ele era um colaborador muito articulado para a praça pública na Austrália. Ele tinha uma coluna semanal no jornal mais vendido do país, The Sunday Telegraph. Ele era conhecido e respeitado por não católicos, assim como por católicos”, diz Livingstone.
Segundo a autora, “houve uma raiva revolta com o processo em Victoria”, Estado australiano, que condenou dom Pell por abuso sexual, apesar de não ter recebido nenhuma queixa contra ele antes da própria investigação da polícia de Victoria na Operação Tethering”.
Não houve “nenhuma grande surpresa quando ele foi inocentado por sete a zero pela Suprema Corte” da Austrália da condenação por abuso sexual, disse ela.
George Cardinal Pell: Pax Invictis (Paz aos invictos, em latim) expande uma biografia escrita por Livingstone publicada em 2002, para contar a história completa da vida do cardeal, desde sua infância em Ballarat, Victoria, passando por sua liderança nas duas arquidioceses mais importantes da Austrália, até sua reforma das finanças da Santa Sé em Roma.
A biografia também fala sobre seus últimos anos, inclusive o que os críticos chamaram de julgamento e condenação injustos, seguidos de 13 meses de prisão, oito deles em confinamento solitário, em que o cardeal foi proibido de celebrar missa. até ser inocentado pela Suprema Corte da Austrália que anulou a condenação.
‘Ação prática para os pobres’
A biógrafa de dom Pell diz que um aspecto do cardeal realista que é “ignorado e subestimado” é sua atenção aos pobres.
“Por ser doutrinariamente ortodoxo, as pessoas ignoram sua prática, não só sua defesa dos pobres em comum com o papa Francisco, mas sua ação prática real em prol dos pobres”, diz Livingstone.
Segundo ela, o cardeal dirigiu a Caritas Australia, agência de assistência da Igreja no país, por nove anos enquanto era arcebispo, e teve que rever o dinheiro que era dado às Filipinas, parte do qual estava indo para grupos comunistas.
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Como parte desse trabalho, dom Pell viajou várias vezes para as Filipinas, para o Camboja, para a Índia, e para outros lugares desafiadores “em momentos muito difíceis”.
O esforço que o cardeal colocou na gestão adequada das finanças da instituição de caridade australiana foi uma grande parte de sua motivação ao aceitar a nomeação do papa Francisco para ser o chefe inaugural da secretaria para a Economia da Santa Sé em 2014.
“Ele levava muito a sério a preferência de Francisco pelos pobres, e queria que mais [dinheiro] estivesse disponível para os pobres e queria menos gastos em administração e burocracia na Santa Sé”, diz Livingstone.
Ela diz que o cardeal também queria ver mais do óbolo de São Pedro, fundo de caridade pessoal do papa, destinado aos pobres.
“Quando ele investigou, mais de 75% do dinheiro arrecadado para o Óbolo de São Pedro estava sendo usado para outros propósitos, além de ajudar os pobres. E ele disse, olha, eu gostaria de um plano para reduzir isso de 75% para 50% para 25% ao longo do tempo. Ele era prático assim”, diz ela.
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O cardeal também era um amigo pessoal dos pobres, tanto em Sydney quanto em Roma. Embora ele não fosse do tipo que “ostentava sua caridade, ele cuidava de alguns sem-teto, um homem em particular, que ficava na área perto de seu apartamento em Roma, diz a biógrafa.
“Como ele dizia, ‘de vez em quando dou a ele alguns trocados’. Na verdade, ele era muito generoso com ele”, diz a autora.
‘Fidelidade sob pressão’
Livingstone diz acreditar que o cardeal também será lembrado pela forma como lidou com o incrível desafio de mais de um ano na prisão, a maior parte dele em confinamento solitário, mantendo sua fé e seu equilíbrio.
“Ele era um modelo de graça sob pressão e fé sob pressão. Ele certamente recorreu às suas reservas de fé e seu vasto conhecimento — adquirido por meio de décadas de leitura voraz — de santos, Escrituras e pensadores”, diz ela.
Livingstone diz que dom Pell só podia ter seis livros por vez enquanto estava na prisão, incluindo a Bíblia e o breviário, mas ainda assim, em seus diários de prisão agora publicados, “ele escreveu extensivamente … citações de santos, outras passagens das escrituras … outras observações de outros líderes da Igreja. Sua fé era enormemente forte naquele tempo”.
Apesar de um “regime bastante duro” que incluía não poder celebrar a missa, “a força da sua fé brilhava”.
Livingstone diz que o estilo de oração do cardeal, em sua avaliação, era “tradicional”, não no sentido da missa tradicional em latim, mas no sentido de que ele “se apegava às orações que conhecia quando criança” e às que aprendeu como seminarista.
“Ele me disse uma vez que rezava principalmente a Nosso Senhor em vez de aos santos para intervir. Além de Nossa Senhora”, diz a autora.
“Rezavam o rosário em casa quando ele era criança. Acho que nos últimos anos, ele continuou com o rosário. Talvez não sempre todos os dias, mas certamente muitos dias, especialmente quando ele estava passando por momentos ruins”, diz ela.
Livingstone diz que uma das “primeiras grandes batalhas” de dom Pell ao assumir o seminário em Melbourne foi fazer com que os seminaristas rezassem orações noturnas todas as noites e comparecerem à missa diária.
“Ele gostava de ordem na vida de oração dos alunos”, diz a autora.
E apesar do “caráter extraordinário” do cardeal, Livingstone diz que ele também era “muito humano”.
“Há uma seção no final dos diários da prisão em que ele cita são Francisco de Sales dizendo que quer terminar sua vida sem inimizade com ninguém, ele quer tudo resolvido etc. E então ele continua, ao acrescentar: ‘Torta quente para o almoço. Ótimo’ ”.