O filósofo Vincenzo Rosito, professor do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, pede a superação da visão da família como um "conceito privado" e a promoção de uma maior participação na vida pública no âmbito do Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, que será celebrado de amanhã (30) até domingo (1).
“As relações familiares são uma forma de construir o bem comum”, disse Rosito à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, no âmbito da publicação na Itália do livro Famiglia e apprendimento sociale. Nuovi orizzonti di ricerca (Família e aprendizagem social. Novos horizontes de pesquisa, em tradução livre). “Devemos promover uma visão de família que não se limite exclusivamente à esfera privada e que reconheça que a família é socialmente transformadora”.
Rosito relaciona essas conclusões com o horizonte do novo pontificado de Leão XIV. "Ele nos disse isso claramente nos discursos em que se refere ao pontificado de Leão XIII e à doutrina social da Igreja", diz o professor.
Em seu primeiro discurso ao corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, Leão XIV falou sobre a necessidade de investir na família, fundada na união estável entre homem e mulher, “muito pequena certamente, mas real e anterior a toda a sociedade civil”. Com estas palavras, o Leão XIV citou o papa de quem tomou o seu nome, que, na encíclica Rerum novarum, falou sobre a “necessidade absoluta” de a família “ter os seus próprios direitos e deveres”.
No volume, o autor identifica três principais vetores de mudança que influenciaram a dinâmica familiar na vida contemporânea: a reorganização das formas de parentesco, a mobilidade humana e as mutações advindas do sistema econômico.
Por exemplo, ele diz que “o aumento da longevidade está transformando as formas de parentesco na perspectiva da coexistência prolongada ao longo de várias gerações”. Essa situação faz com que os netos passem mais tempo com os avós, e até mesmo com os bisavós, e, portanto, aumenta o tempo que mais gerações passam juntas.
O filósofo leva em conta dados demográficos, como taxas de natalidade, mas também outros elementos menos óbvios, como, por exemplo, as "práticas familiares", ou seja, tudo o que se refere à organização doméstica para configurar num lar uma nova casa: "As práticas familiares são interessantes para o estudo das transformações familiares porque são dinâmicas de aprendizagem, não só dinâmicas de projeção".
Ele analisa também rituais familiares, como a saída dos filhos do lar. “Quando os filhos atingem uma certa idade, um certo grau de independência e deixam seu lar original, esse é um momento crucial para o vínculo de parentesco”, diz Rosito.
A mobilidade humana como alavanca para a transformação familiar
No livro, Rosito também analisa a mobilidade humana como causa de transformação na dinâmica familiar, conceito que não se limita aos fenômenos migratórios:
“A mobilidade humana coloca na mesma situação não só indivíduos ou famílias forçados a emigrar, mas também aqueles que se mudam com frequência por motivos de trabalho. Pense nos muitos casais que precisam viver seus relacionamentos em países diferentes. São os chamados casais de fim de semana”.
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Segundo o filósofo, isso desestabiliza os modos tradicionais de amor e criação dos filhos.
“Podemos falar claramente de um fenômeno de maternidade ou paternidade transnacional; ou seja, famílias em que, especialmente por motivos de trabalho, o pai ou a mãe devem emigrar para outro país, até mesmo para outro continente”.
Isso causa uma reconfiguração dos laços emocionais porque os pais que vivem longe dos filhos "precisam encontrar novas maneiras de demonstrar que amam os filhos que estão longe".
Trabalho de cuidado: a face invisível da economia
Um capítulo crucial do livro é dedicado ao trabalho de cuidado, entendido como uma prática social e não só uma atividade econômica. Rosito estuda, em particular, o fenômeno das cadeias globais de cuidado, ou cadeias globais ligadas às tarefas de cuidado.
"Todas essas são situações em que, muitas vezes, as mulheres — mulheres casadas e mães em particular — precisam emigrar para cuidar de outras crianças ou idosos ou fazer tarefas domésticas em casas de outras pessoas, enquanto seus próprios filhos são deixados aos cuidados de outras mulheres em seu país de origem, geralmente suas avós, irmãs ou cunhadas".
Ele chama essa nova configuração familiar trazida pela mobilidade de família reveladora, que abre portas para novas dimensões de análise e compreensão por parte da Igreja sobre a complexidade contemporânea.
Por isso, o professor ressalta que a perspectiva eclesial sobre a família deve integrar também esses fenômenos: “A transformação das formas de parentesco, as implicações da mobilidade humana na vida íntima das pessoas, a importância do trabalho de cuidado e da reprodução social na reconfiguração dos afetos e dos sistemas econômicos nos dizem duas coisas: a família não é só a célula fundamental da sociedade, mas também — como diz aGaudium et spes— uma escola de enriquecimento humano”, diz o especialista.
Ambas as definições são encontradas no Artigo 52 da Constituição Pastoral do concílio Vaticano II. "Se nos inclinarmos só para a primeira — que a família é a base da convivência social — corremos o risco de perder todos os elementos de transformação da família contemporânea. A família muda com a sociedade e também é um elemento de transformação social", diz Rosito.
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O professor diz que duas encíclicas do papa Francisco — Fratelli tuttie Laudato si' — dão uma valiosa estrutura de estudo a partir é possível começar: "São documentos que nos dizem que estamos a serviço da fraternidade universal, não só como indivíduos, mas também como famílias".
Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).
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