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15 de abr de 2025 às 10:28
O padre e teólogo espanhol Armand Puig, encarregado pelo arcebispo de Barcelona, Espanha, dom Juan cardeal José Omella, escreveu a biografia do arquiteto espanhol Antonín Gaudí, a positio, um dos documentos fundamentais no processo de beatificação do arquiteto, que foi declarado venerável ontem (14) pelo papa Francisco, um primeiro passo no caminho rumo aos altares.
O próximo passo para sua beatificação é um milagre por sua intercessão reconhecido pela Santa Sé.
“Ele concebeu a [basílica da] Sagrada Família como uma grande obra de evangelização em que traduziu em pedra os grandes mistérios cristãos, disse o padre à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI.
Puig escreveu o livro Antoni Gaudí, vida y obra, publicado pela editora espanhola Arpa.
“Gaudí foi um teólogo da pedra”, disse o padre Puig. Para ele, a qualificação de Gaudí como “o arquiteto de Deus”, expressão que dom Manuel Trens usou num artigo publicado por ocasião da morte do arquiteto espanhol, não é uma afirmação gratuita.
“Em quase todas as suas obras, há um claro desejo subjacente de reproduzir, continuar e melhorar a obra da natureza, o que para ele equivalia a dizer obra de Deus”, disse o sacerdote, nascido perto de Reus, como Gaudí.
Nesse sentido, Puig diz que, embora Gaudí nunca tenha pisado num seminário, é possível considera-lo “um teólogo de pedra, pois soube traduzir conceitos teológicos em suas obras arquitetônicas”.
Das três fachadas da basílica da Sagrada Família projetadas pelo arquiteto modernista, Gaudí só viu uma ser concluída em vida: a da Natividade. A segunda, dedicada à Paixão de Cristo, foi construída conforme os projetos de Gaudí depois de sua morte. A terceira fachada, da Glória, ainda não foi construída.
O padre Puig diz que a segunda fachada é um exemplo da tradução teológica para a linguagem arquitetônica que o criador da Sagrada Família fez através de suas obras.
“A representação mais comum de Jesus é o crucifixo, mas Gaudí projetou a fachada da Paixão da Sagrada Família com colunas que são ossos. Essas colunas refletem o número de ossos do corpo humano. Três no braço e três na perna. Depois temos a coluna e as costelas, a escápula e a pélvis”, diz o padre.
Assim, “ele traduziu o corpo de Jesus pregado na cruz para a arquitetura da fachada”, disse também Puig.
Um grande evangelizador
Embora Gaudí “nunca tenha frequentado aulas de teologia, aulas de Bíblia ou aulas de liturgia, ele foi um grande evangelizador” que refletiu sobre o que viu, disse o padre. “Ele conhecia os tempos litúrgicos, os anos, o passar dos domingos, os mistérios da vida de Jesus, da vida de Nossa Senhora, tudo isso era o seu mundo”.
Segundo o padre Puig, “ele tinha uma grande devoção pela Palavra e a lia com frequência, assim como textos relacionados à liturgia”. Seu aprendizado também foi nutrido por conversas com “pessoas altamente qualificadas na Igreja, das quais aprendeu muito”.
O padre espanhol dedicou meses de pesquisa para preparar a biografia do arquiteto para a positio. Uma tarefa difícil, já que o criador da Sagrada Família, em Barcelona, não deixou uma extensa obra escrita. De qualquer modo, as informações foram recolhidas, como Gaudí falou em vários discursos.
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“Gaudí praticamente não escreveu nada. O que ele escreveu aos 26 anos foi um manuscrito famoso, com cerca de 50 páginas, sobre o que deveria ser uma grande igreja, mas ele ainda não tinha um meio profissional. Ele só tinha a ideia, como arquiteto iniciante, de imaginar uma grande igreja”, diz o padre, que é presidente da Agência da Santa Sé para a Avaliação e Promoção da Qualidade das Universidades e Faculdades Eclesiásticas (AVEPRO).
O manuscrito, salvo da destruição da Guerra Civil Espanhola em 1936, é um dos poucos textos que ajudam a entender o pensamento de Gaudí.
Aos 31 anos, Gaudí recebeu a oferta do cargo de diretor de arquitetura da Sagrada Família.
A partir de então, “a única coisa em seu coração foi a Grande Igreja que ele havia imaginado”, diz o padre Puig. “É por isso que gosto de dizer que isso foi primeiro forjado dentro dele e depois ele incorporou isso numa obra de arte, na arquitetura”.
Para documentar historicamente a biografia de Gaudí, o padre Puig teve que confiar quase exclusivamente em suas obras. Sua arquitetura, única no mundo, se reflete em vários exemplos em Barcelona: o Palácio Güell, a Casa Milá, as varandas de La Pedrera, as Escolas da Sagrada Família e o complexo Güell na Avenida de Pedralbes.
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Sua devoção mariana se reflete na construção das missões africanas em Tânger, Marrocos, e no Rosário na montanha de Montserrat, Espanha. A influência de Gaudí também é evidente no mosteiro beneditino de Villaricos, em Cuevas de Vera, em Almería, e na escola Jesús María em San Andrés del Palomar.
“A sua vida explica a sua obra e a sua obra explica a sua vida”, diz o padre espanhol.
Gaudí morreu em junho de 1926 ao ser atropelado por um bonde na Gran Vía de Barcelona e foi sepultado na cripta da igreja à qual dedicou os últimos catorze anos de sua vida, nos quais rejeitou qualquer outro projeto.
Um artista, mas também um místico
“Gaudí é um místico. A questão é que, diferente de outros místicos como são João da Cruz ou santa Teresa, cujos textos conservamos, no caso de Gaudí não há textos, só há obras arquitetônicas”, diz o padre Puig.
De qualquer modo, o padre crê que nas obras que levam a assinatura de Gaudí sua espiritualidade ganha forma tangível.
“Gaudí falava muito, e sua obra se expressa através do que ele dizia e construía”, diz Puig.
Um dos exemplos claros foi seu desejo de fazer da Sagrada Família “um instrumento de evangelização”, segundo o padre Puig.
“O que ele buscava era que a Sagrada Família fosse evangelizadora. Ele tinha a ideia de que Barcelona seria reconhecida como um símbolo cristão numa época em que a palavra evangelização ainda não havia sido inventada”, diz o sacerdote.
Assim, o templo foi criado para ter impacto até mesmo naqueles que não professam a fé cristã.
“Qualquer um que não saiba o que são os mistérios cristãos… entra e encontra algo tão impactante que tem que dizer: ‘Isso vale a pena.’ Esta universalidade faz da Sagrada Família uma catequese monumental e silenciosa”, diz Puig.
A vida interior de Gaudí, segundo o padre Puig, era de intensa espiritualidade, vivida com simplicidade e sem grandes exibições.