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6 de abr de 2025 às 06:00
A irmã Francisca Erineuda Bento diz não ter palavras para descrever o que vive. “Eu sempre digo: ‘meu Deus, o que o Senhor quer de mim? Me colocar aqui, logo aqui!”. A freira da congregação das Missionárias Capuchinhas vive no santuário do Despojamento, em Assis, onde está o corpo do beato Carlo Acutis. “A nossa missão aqui é proporcionar o acolhimento e o bem-estar de quem vem rezar”, disse à ACI Digital a religiosa nascida em Horizonte (CE).
“Morar com um santo” é “uma responsabilidade”, disse a irmã, que, no entanto, age com naturalidade. “A gente conversa, eu converso com ele normal: ‘meu filho, já vou, boa noite, fique bem’”, contou.
A congregação a que pertence a irmã Francisca foi fundada pelo venerável frei João Pedro de Sexto São João, em 1904, em Belém (PA). A congregação tem uma missão em Assis, a fraternità Chiara d’Assisi, que fica no santuário do Despojamento, que marca o lugar em que são Francisco de Assis se despojou de suas vestes para se dedicar só a Deus. Atualmente, estão nessa missão as religiosas brasileiras Francisca Erineuda e Vanda Monteiro, de Imperatriz (MA), além da moçambicana Clara Lourenço.
“Os frades capuchinhos convidaram há muitos anos a nossa presença aqui na Itália. Mas, por conta de vocações, o medo também de sair da nossa zona de conforto e vir para outro país, aprender uma língua… Então, as irmãs demoraram dez anos para dar a resposta”, contou a irmã Francisca. A missão na Itália começou em 2014 e a irmã Francisca foi uma das primeiras religiosas enviadas, junto com a irmã Lúcia Silva, que já voltou ao Brasil. “Eu era noviça e já ouvia falar que as irmãs vinham para a Itália, mas noviça, a gente não ia sonhar que viria para a Itália”, disse a freira. “Eu professei os votos simples em 12 de fevereiro de 2014 e em 6 de junho de 2014 eu cheguei à Itália”.
Inicialmente, foram para Todi, mas como era uma casa distante e grande para só duas freiras que ainda nem falavam italiano, a madre ficou com “um pouco de receio”. Foram então enviadas para Gualdo Tadino, onde começaram a ajudar os capuchinhos em uma paróquia e moraram por três anos.
Até que o capuchinho brasileiro frei Carlos Acácio Gonçalves Ferreira se tornou pároco da paróquia de Santa Maria Maior, em Assis, igreja que mais tarde se tornaria o santuário do Despojamento. Na época, a paróquia não tinha ninguém para cuidar da casa paroquial, nem secretário, sacristão. Então, o pároco convidou as missionárias capuchinhas para ajudá-lo.
As missionárias capuchinhas chegaram a Assis em janeiro de 2017. “E já tinha a perspectiva dessa igreja se tornar um santuário”, disse irmã Francisca. Segundo ela, “nos primeiros dias, não havia público, tanto que no inverno, a missa da paróquia da semana era celebrada na sacristia, porque não tinha ninguém na igreja”. Mas, em maio de 2017, Santa Maria Maior se tornou o santuário do Despojamento.
“A partir daí, as pessoas começaram a procurar, a conhecer onde era, porque foi aqui o lugar onde são Francisco se despojou de tudo. Aí começou a nossa missão, começou a aumentar o público”, disse.
Essa realidade se transformou a partir de 2019, quando o corpo de Carlo Acutis, à época venerável, foi transladado para o santuário. A religiosa contou que foi uma ocasião “emocionante”. “Quando teve a transladação, ele foi primeiro para [a basílica de] São Francisco, depois foi para a catedral, passou a noite lá e teve uma vigília com a juventude, teve toda uma preparação orante, depois passou na igreja de santa Clara, porque aquelas eram as igrejas que ele andava. E depois, veio para cá, para a nossa igreja”, recordou.
Segundo a religiosa, a igreja de Santa Maria Maior também “era uma paróquia que o Carlo vinha bastante, porque a casa dele é dentro do território da nossa paróquia”.
Devotos buscam a intercessão de Carlo
A irmã Francisca disse que, desde a chegada do corpo de Carlo Acutis, em 2019, é possível perceber como o santuário “está se tornando um lugar de esperança” e o “público está mudando”.
“Antes, quando saiu a questão do santo, vamos dizer, o corpo, e vinham muitos curiosos, a gente pode dizer assim, tinha aqueles curiosos que vinham ver, realmente é ele, não é ele, parece, não parece, tinha muito isso”, disse.
Na época da exumação do corpo de Carlo Acutis, circularam na internet afirmações de que ele estava incorrupto. Em 2020, quando o corpo foi exposto para veneração, o então reitor do santuário do Despojamento, frei Carlos Acácio, disse à ACI Prensa, agência em espanhol da EWTN, que o corpo de Carlo “está em um estado muito íntegro, não intacto, mas íntegro. Conserva todos os órgãos”. Sobre o rosto de Carlo foi colocada uma máscara de silicone.
Agora, disse a irmã Francisca, “a gente está vendo que o perfil de quem vem, vem para rezar e vem pedir intercessão dele”, como “curas físicas, curas espirituais”.
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Segundo a religiosa, o santuário recebe “muitos estrangeiros”. “A gente vê muito essa questão da devoção, de pessoas que vêm de fora, pessoas que tiveram dificuldade para vir para a Itália, para vê-lo, para conhecê-lo, e a gente vê que realmente vem para rezar. E isso é muito bonito”, disse, destacando que aos finais de semana há grandes filas para visitar o túmulo de Carlo.
A irmã Francisca contou que recebe muitos testemunhos. “Um que me chamou muita atenção” foi “porque vêm muitas mulheres pedir graças para engravidar”, disse. “Eu vi uma que estava chorando aqui na igreja, com o filho no braço, agradecendo ao Carlo, porque ela disse: ‘olha, eu estava há 20 anos lutando para engravidar, e hoje eu vim trazer o meu milagre para agradecer’”.
A religiosa destacou ainda como “é lindo ver, através da fé, da intercessão do Carlo, aqueles que muitas vezes nem procuravam Deus, não tinham uma caminhada na Igreja, mas que estão buscando”. “A conversão é linda”, disse.
Carlo Acutis tem, o “dom da amizade”, diz irmã Francisca. “Realmente parece um ímã, ele vai atraindo pessoas”, disse. “Através de Carlo, parece que vai se tornando uma corrente de amigos que têm Carlo em comum”.
Carlo e Assis
A cidade de Assis “já está se preparando” para a canonização de Carlo Acutis, que acontecerá no dia 27 de abril, no Vaticano, diz irmã Francisca. “A cidade já está se preparando para acolher os peregrinos, já tem mudanças de rota, de transporte, ruas que pode passar transporte, ruas que podem passar só pedestres”.
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Assis era a “cidade preferida” do futuro santo, diz irmã Francisca. “Carlo está em Assis por conta de são Francisco, pela sua devoção franciscana. A gente tem que sempre lembrar desse detalhe para não perder as raízes”.
“Francisco, quanto entendeu o seu chamado, dizia que o amor não era amado. E o Carlo, quando ele entendeu o chamado dele, dizia: ‘não eu, mas Deus’”, disse a religiosa. Para ela, “Carlo tinha um pensamento muito lá na frente”, porque “ele já estava percebendo que o essencial a gente estava colocando em segundo plano”.
Para a irmã Francisca, a vida de Carlo, muitas vezes, “parece dar um tapa a cara da gente” e despertar para o essencial. “Um jovem de 15 anos, mas que tinha uma sabedoria altíssima”, que vivia sua fé na dimensão vertical de espiritualidade”, mas também na “dimensão horizontal”, porque “ele não era só um adorador, mas aquela oração se tornava carne com os seus gestos simples”.
Ela destacou que, depois de receber a primeira Eucaristia aos sete anos, Carlo “não queria mais faltar um dia sem receber Jesus” e chegava a colocar a família “em dificuldade”. “Quando a família viajava, ou para férias, ele dizia assim: ‘eu vou, mas que tenha uma igreja perto, que tenha a missa’”.
Carlo “sempre colocava Deus no centro da vida dele” e era “um apaixonado pela Eucaristia”, disse a religiosa, ao destacar o trabalho que o futuro santo preparou com a mostra sobre os milagres eucarísticos.
A irmã Francisca contou uma história que a encantou em relação a Carlo: “Quando o pai disse para ele que a paróquia estava organizando uma peregrinação para Jerusalém e perguntou se ele queria ir, ele disse: ‘não quero’. Ele disse: ‘não preciso ir aonde Jesus já esteve, eu preciso ir aonde Jesus está, em cada igreja com Jesus sacramentado’. Esse é o tapa na cara da gente. Às vezes, a gente ignora, a gente passa na frente da igreja e nem cumprimenta Jesus, o dono da casa”, disse.
Por isso, destacou a religiosa, no santuário do Despojamento, antes de chegar ao túmulo de Carlo Acutis, as pessoas devem passar por Jesus Eucarístico. “Aqui no santuário, a entrada é a capela do santíssimo e, se você for fazer um caminho, você vai pela nave central e encontra Nossa Senhora e, na saída, você vai encontrar o Carlo”, disse.
Segundo ela, “quem entra na igreja e não sabe que Carlo está lá não vê. Você só vê se fizer o caminho. Você pode ver algumas imagens de santinhos, mas o corpo você não vê, porque o corpo está detrás de uma coluna. Você só vai ver se fizer o caminho, cumprimentar o dono da casa, passar por Nossa Senhora. E no caminho ainda tem o confessionário, se quiser se confessar”, disse.