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10 de dez de 2024 às 15:23
A Igreja declarou milagre a cura de um soldado britânico da Primeira Guerra Mundial no santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França. É o 71º milagre atestado no local de peregrinação.
O arcebispo de Liverpool, Inglaterra, dom Malcolm McMahon, declarou a cura milagrosa de John Traynor, soldado da Marinha Real Britânica, no domingo (8), festa da Imaculada Conceição e o 81º aniversário de sua morte.
A Igreja não reconhecia um evento milagroso em Lourdes desde 2018 .
A notícia foi divulgada depois do presidente do Escritório de Observações Médicas de Lourdes, o médico Alessandro de Franciscis, pedir uma revisão do caso de Traynor no ano passado. A cargo do médico britânico Kieran Moriarty, membro do Comitê Médico Internacional de Lourdes, as investigações revelaram vários documentos em Lourdes que incluíam os depoimentos dos três médicos que examinaram Traynor antes e depois de sua cura.
Dom McMahon concluiu em uma comissão canônica que, com base nas evidências reunidas por Moriarty, a cura de Traynor foi de fato milagrosa.
“Dado o peso das evidências médicas, o testemunho da fé de John Traynor e sua devoção à Nossa Senhora, é com grande alegria que declaro que a cura de John Traynor, de múltiplas condições médicas graves, deve ser reconhecida como um milagre realizado pelo poder de Deus por meio da intercessão de Nossa Senhora de Lourdes”, disse o arcebispo.
“Espero que em fevereiro de 2025, no ano do jubileu, tenhamos uma celebração adequada na catedral metropolitana para marcar esse momento significativo na história da nossa arquidiocese, ajudando todos nós a responder ao chamado do jubileu para sermos ‘peregrinos da esperança’ ”, disse dom McMahon.
Traynor nasceu em Liverpool, Inglaterra, em 1883. Embora sua mãe irlandesa tenha morrido quando ele era jovem, o testemunho pessoal de Traynor divulgado no site do santuário diz que “sua devoção à missa e à sagrada comunhão e sua confiança na Mãe Santíssima permaneceram com ele como uma memória e um exemplo frutífero”. Traynor falou sobre sua mãe no testemunho como uma “comungante diária quando poucas pessoas o eram”.
Membro da reserva da Marinha Real Britânica, Traynor foi convocado no início da Primeira Guerra Mundial em 1914. Em batalha em Antuérpia, Bélgica, ele foi atingido na cabeça por estilhaços ao tentar tirar um oficial ferido do campo de batalha. Ele se recuperou rapidamente e retornou ao serviço.
Em 25 de abril de 1915, Traynor participou de um desembarque anfíbio no litoral de Galípoli, Turquia, em uma tentativa malsucedida das tropas britânicas e francesas de capturar a península na Turquia. Traynor foi um dos poucos soldados a chegar à costa no primeiro dia do desembarque, resistindo a disparos de metralhadora por forças turcas posicionadas no topo de encostas íngremes da praia.
Por mais de uma semana, Traynor ficou ileso enquanto tentava liderar a pequena coalizão que sobreviveu ao desembarque no areal.
Em 8 de maio, Traynor foi atingido por uma rajada de balas de metralhadora na cabeça, peito e braço. Os ferimentos que ele sofreu na batalha deixaram seu braço direito paralisado e ele passou a sofrer com frequência de ataques epiléticos. Os médicos tentaram várias cirurgias para reparar os nervos danificados em seu braço e tratar os ferimentos na cabeça que se acreditava terem sido a fonte de sua epilepsia, mas sem sucesso.
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Uma longa viagem até Lourdes
Oito anos depois da batalha que o deixou “completamente e incuravelmente incapacitado”, Traynor estava para ser internado em um hospital para incuráveis. Antes, ele foi para Lourdes.
Contra a opinião de sua mulher, de seus médicos e de vários padres, Traynor participou de uma peregrinação de sua paróquia a Lourdes, saindo de Liverpool, de 22 a 27 de julho de 1923.
Traynor escreveu em seu depoimento que “conseguiu ser banhado nove vezes na água da fonte da gruta”, apesar de estar gravemente doente nos três primeiros dias da viagem e enfrentar muita resistência de seus cuidadores.
No segundo dia da viagem, Traynor lembrou-se de ter sofrido um ataque epilético severo enquanto era levado para os banhos.
“Sangue escorria da minha boca e os médicos ficaram muito alarmados”, disse ele. Quando os médicos tentaram levá-lo de volta para seu alojamento, Traynor recusou-se, puxando os freios de sua cadeira de rodas com sua mão saudável.
“Eles me levaram para o banho e me banharam do modo usual”, disse Traynor em seu depoimento. “Nunca mais tive um ataque epilético depois disso”.
No dia seguinte, Traynor foi outra vez aos banhos. Ao tomar banho, suas pernas ficarem “violentamente agitadas” e sentiu como se tivesse recuperado o uso delas. Como ele deveria retornar para uma procissão eucarística, os cuidadores de Traynor, que acharam que ele estava tendo outro ataque, levaram-no às pressas para a igreja do Rosário.
Quando o arcebispo de Reims, França, passou por ele com o Santíssimo Sacramento, o braço de Traynor também ficou “violentamente agitado”. Traynor então rasgou suas bandagens e fez o sinal da cruz pela primeira vez em oito anos.
Na manhã seguinte, Traynor saiu da cama e correu para a gruta de Nossa Senhora de Lourdes.
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“Minha mãe sempre me ensinou que quando você pede um favor a Nossa Senhora ou deseja mostrar a ela alguma veneração especial, você deve fazer um sacrifício”, disse Traynor. “Eu não tinha dinheiro para oferecer, pois havia gasto meus últimos xelins em rosários e medalhas para minha mulher e filhos, mas ajoelhado ali diante da Mãe Santíssima, fiz o único sacrifício que pude pensar: resolvi parar de fumar.”
Na manhã de 27 de julho, Traynor foi examinado por três médicos que descobriram que ele tinha recuperado sua capacidade de andar perfeitamente e o uso do braço direito. As feridas em seu corpo cicatrizaram completamente e seus ataques pararam. Uma abertura em seu crânio feita em uma de suas cirurgias também havia “diminuído consideravelmente”.
Um dos relatórios oficiais emitidos pelo departamento médico de Lourdes em 2 de outubro de 1926, descoberto por Moriarty, diz que a “cura extraordinária de Traynor está absolutamente além e acima dos poderes da natureza”.
Traynor teve três filhos depois de sua cura, entre eles uma menina chamada Bernadette.