Em 19 de junho, os Estados Unidos celebram o Juneteenth, data que comemora o decreto de 1865 que libertou os afro-americanos escravizados no Texas. Tornou-se feriado federal em 2021 e serve como uma ocasião apropriada para recordar a figura do primeiro sacerdote católico negro nos EUA, cujo processo de canonização está em andamento: o Venerável Augustus Tolton.

Tolton nasceu escravizado em 1º de abril de 1854, no Missouri, filho de pais católicos. Seu pai escapou e se juntou ao Exército da União, falecendo pouco depois. Em 1862, Augustus, sua mãe e dois irmãos conseguiram fugir, cruzando o Rio Mississippi até Illinois. Sua mãe, segundo relatos, disse-lhe: "Filho, você está livre. Nunca se esqueça da bondade do Senhor."

Em Quincy, Illinois, Tolton pôde frequentar a escola católica de St. Peter, uma paróquia de brancos, graças ao auxílio do Padre Peter McGirr. Este sacerdote também o batizou, o instruiu para a Primeira Comunhão e incentivou sua vocação sacerdotal.

Nenhum seminário americano o aceitou devido à sua raça. Assim, ele estudou para o sacerdócio em Roma, sendo ordenado em 1886, aos 31 anos, tornando-se o primeiro afro-americano ordenado padre.

Ao retornar aos EUA, Tolton serviu por três anos em uma paróquia em Quincy. Depois, mudou-se para Chicago e fundou a Paróquia de Santa Mônica para católicos negros. Permaneceu lá até falecer inesperadamente, durante um retiro, em 1897, com apenas 43 anos.

Apesar de sua vida curta, seu impacto foi profundo. Tolton dominava fluentemente vários idiomas, era músico talentoso e ajudava os pobres e doentes, orientando muitos na fé. Era carinhosamente conhecido como "Bom Padre Gus".

Sua causa de canonização foi aberta pela Arquidiocese de Chicago em 24 de fevereiro de 2011, concedendo-lhe o título de Servo de Deus. Em 12 de junho de 2019, o Papa Francisco o declarou Venerável, o segundo passo rumo à santidade.

Ao dirigir-se ao comitê que decidiria para onde Tolton seria enviado após sua ordenação em 1886 (e que anulou a decisão anterior de enviá-lo para a África), o Cardeal Giovanni Simeoni teria declarado: "A América foi chamada a nação mais esclarecida do mundo. Veremos se ela merece essa honra. Se os Estados Unidos nunca viram um padre negro antes, devem ver um agora."

Embora a Proclamação de Emancipação do Presidente Abraham Lincoln tenha entrado em vigor em 1º de janeiro de 1863, sua implementação dependia do avanço das tropas da União, pois não podia ser aplicada em estados sob controle Confederado. Somente em 19 de junho de 1865, quando o Major-General Gordon Granger e cerca de 2.000 soldados da União chegaram à Baía de Galveston, Texas, mais de 250.000 afro-americanos escravizados foram libertados por decreto executivo.