"Acredito que o papa Leão XIV será um verdadeiro leão, um defensor e campeão da fé do povo nicaraguense, com a força de um leão e a humildade de um cordeiro", diz Arturo McFields Yescas, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA) que agora vive exilado.
McFields disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que agora, com Leão XIV, “há muita esperança, particularmente entre o povo da Nicarágua, numa Igreja que foi perseguida, sitiada e aprisionada por uma ditadura, em que vimos pessoas presas, mas a fé permanece livre e continua a ser fortalecida em meio à perseguição”.
Desde 2018, a Igreja na Nicarágua sofre feroz perseguição pelo regime do presidente Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro de esquerda que acumula mais de 30 anos no poder, e a vice-presidente Rosario Murillo, mulher de Ortega.
Procissões na Quaresma e na Semana Santa foram proibidas, quatro bispos e vários sacerdotes foram expulsos do país, ordens religiosas foram expulsas, várias instituições católicas, como a Cáritas, braço de caridade da Igreja, tiveram suas autorizações para funcionar no país revogadas, e instituições como a Universidade Centro-Americana, centro de estudos jesuíta, foram fechadas.
“Acredito que tempos melhores virão, mesmo que haja uma ditadura que não respeita nem as leis espirituais nem as terrenas”, disse McFields. “A batalha da fé que o papa Francisco iniciou continuará: é uma guerra espiritual na qual, para permanecer de pé, basta ajoelhar-se e crer, porque para Deus nada é impossível".
Cardeal da Nicarágua pede para rezar por Leão XIV
Em vídeo publicado pela arquidiocese de Manágua, capital do país, na última segunda-feira (19), o arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, enfatizou que o papa Leão XIV “é um homem humilde, um homem simples, acima de tudo um homem de escuta".
“Sempre que eu falava com ele, eu o via me encarando, permanecendo em silêncio por um momento antes de responder. Que lindo! Ele está nos ensinando a saber escutar e, acima de tudo, a saber escutar o Senhor”, disse o cardeal.
“Convido vocês, todas as noites e todas as manhãs, a olhar para o crucifixo e elevar nossas orações para que Leão XIV tenha essa docilidade ao Espírito, porque de uma coisa estou convencido, e de uma coisa quero que vocês também estejam convencidos: quem guia a Igreja é o Espírito Santo, e o papa marcará as pausas que o Espírito Santo iluminará”, exortou o arcebispo de Manágua.
Leão XIV não é alheio ao sofrimento da Igreja na Nicarágua
Félix Maradiaga, presidente da Fundação para a Liberdade da Nicarágua e ex-candidato à presidência do país, enfatizou que “Leão XIV não é alheio ao sofrimento da nossa Igreja: em 2022, como bispo no Peru, Leão XIV assinou uma carta (link em espanhol) de solidariedade exigindo 'justiça e democracia' para a Nicarágua, levantando a voz quando muitos permaneceram em silêncio”.
Maradiaga, que está exilado, disse à ACI Prensa que a trajetória de Leão XIV, "especialmente seu compromisso próximo com os povos da América Latina”.
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“Este é um sinal encorajador para aqueles de nós que acreditam no poder da fé como força de transformação social, particularmente em contextos de repressão e violência institucional", disse Maradiaga.
“Não esperamos — nem seria apropriado esperar — que o atual papa lidere batalhas políticas que pertencem aos leigos. A luta pela liberdade na Nicarágua e em qualquer nação é, acima de tudo, tarefa de seus cidadãos: de nós, fiéis e da sociedade civil, nas arenas política e cívica”, enfatizou o ex-candidato à presidência da Nicarágua.
A autoridade moral do Bispo de Roma
Quando um regime "aprisiona padres por pregarem o Evangelho, exila freiras por servirem aos pobres ou assedia fiéis por expressarem sua fé, não estamos lidando com 'questões políticas', mas com flagrantes violações da liberdade de consciência que clamam aos céus. É aqui que a autoridade moral do bispo de Roma deve ser mais fortemente sentida", disse Maradiaga. "O silêncio diplomático pode ser compreensível em certos momentos da política internacional, mas quando persiste diante de uma injustiça sistemática, torna-se ensurdecedor e escandaloso”.
“Como leigo comprometido, acredito que é urgente que a Santa Sé encontre um tom mais firme diante da tragédia nicaraguense", disse Maradiaga.
"A figura de Leão XIV inspira esperança justamente porque confiamos que ele será, antes de tudo, um pastor. Um pastor de almas que compreende que suas ovelhas na Nicarágua estão sendo castigadas pela tirania e que fará todo o possível para consolá-las e defendê-las espiritualmente".
Como papa Francisco
“Recebemos com alegria e esperança o novo papa, sucessor de são Pedro, o papa Leão XIV, e esperamos que ele continue, como o papa Francisco, muito próximo do povo da Nicarágua e de todas as violações de direitos humanos que a ditadura de Ortega e Murillo está cometendo em nosso país a cada momento”, disse Martha Patricia Molina, advogada e pesquisadora nicaraguense no exílio, à ACI Prensa.
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Molina é autora do relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida , que em sua sexta edição, de dezembro do ano passado, registrou 971 ataques do regime Ortega-Murillo contra a Igreja no país centro-americano nos últimos seis anos.
Molina disse também que "a Santa Sé sempre pedirá diálogo, paz, diálogo justo, diálogo verdadeiro, diálogo transparente, mas, infelizmente, a ditadura nunca está disposta a ceder, a menos que tenha um interesse pessoal".
A pesquisadora disse também que "a ditadura não está interessada em dialogar com ninguém, porque tem à sua disposição o exército nicaraguense, a polícia nacional e cerca de 80 mil paramilitares que têm luz verde para assassinar nicaraguenses".
De qualquer modo, concluiu ela, "estamos aqui como o povo católico unido da Nicarágua. Aguardamos ansiosamente toda a agenda pastoral de Sua Santidade, estamos rezando por ele como Igreja e estamos muito felizes por ele ser um homem próximo do povo latino-americano, falar espanhol e conhecer em primeira mão o sofrimento da Nicarágua".
Walter Sánchez Silva é jornalista na ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, com mais de 15 anos de experiência cobrindo eventos da Igreja na Europa, América e Ásia.
A audiência será realizada na Sala Paulo VI às 10h locais. O encontro será seguido pela 80ª Assembleia Geral Extraordinária, para tratar de assuntos estatutários.
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