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7 de abr de 2025 às 16:33
Segue abaixo uma linha do tempo de datas importantes do Relatório McCarrick e de outros lugares sobre acusações de abuso ao ex-cardeal Theodore McCarrick, que morreu na sexta-feira (4).
Todas as informações constam do Relatório McCarrick, publicado pela Santa Sé em 10 de novembro de 2020, sobre o “conhecimento institucional e a tomada de decisões” sobre ex-cardeal. McCarrick foi laicizado por abuso sexual de menores e seminaristas em 2019 e laicizado.
7 de julho de 1930: Theodore Edgar McCarrick nasce na cidade de Nova York, único filho de Theodore E. e Margaret McLaughlin McCarrick.
1954: McCarrick se forma em filosofia na Fordham University em Nova York.
1954-1958: McCarrick frequenta o seminário St. Joseph, em Nova York, e obtém um mestrado em teologia.
31 de maio de 1958: O arcebispo de Nova York, dom Francis cardeal Spellman, ordena McCarrick na catedral de São Patrício. McCarrick é incardinado na arquidiocese de Nova York.
Novembro de 1965: O papa são Paulo VI concede a McCarrick o título honorário de monsenhor.
29 de junho de 1977: McCarrick é consagrado bispo auxiliar da arquidiocese de Nova York pelo então arcebispo, dom Terence cardeal Cooke.
Novembro de 1981: O papa são João Paulo II nomeia McCarrick bispo de Metuchen, Nova Jersey, depois de receber elogios a ele na avaliação para o cargo.
Por volta da década de 1980: Uma mãe católica de Nova York, identificada como “Mãe 1”, envia uma carta anônima a todos os cardeais dos EUA, e ao núncio papal, mostrando que McCarrick era “atraído por meninos”. A família da mãe 1 se aproximou de McCarrick em seu tempo em Nova York. A mãe 1 ficou desconfiada depois de observar McCarrick esfregando a parte interna das coxas e do peito de seus filhos, e quando lhe disseram que ele comprava álcool para os jovens em viagens noturnas. Temendo uma reação negativa por falar contra o clérigo proeminente, ela manteve sua identidade anônima. Nenhuma cópia da carta da Mãe 1 foi encontrada para o relatório McCarrick.
24 de maio de 1986: O papa são João Paulo II nomeia McCarrick, de 55 anos, arcebispo de Newark, Nova Jersey, depois de receber fortes recomendações de bispos nos EUA. Nenhum menciona preocupações com comportamento inadequado.
1989-1996: Três padres, identificados como Padre 1, Padre 3 e Padre 4, relatam a dom Edward Hughes (sucessor de McCarrick em Metuchen) casos de agressão sexual que sofreram por McCarrick enquanto ele estava em Metuchen. As acusações, relatadas em reuniões separadas, falam sobre dividir a cama com McCarrick e toques sexuais e agressões que ocorreram à noite em uma casa de praia na costa de Nova Jersey, enquanto dois dos padres eram seminaristas. Um dos incidentes, relatado pelo Padre 3, ocorreu quando ele era padre. Esses padres disseram mais tarde que dom Hughes os ouviu, mas os enviou para terapia ou os exortou a perdoar McCarrick. Não há evidências de que dom Hughes tenha contado a qualquer outra pessoa sobre os relatórios desses padres sobre a má conduta de McCarrick.
Janeiro de 1990: O bispo de Camden, Nova Jersey, dom Dominic Bottino, participa de uma pequena celebração com McCarrick. Tanto Bottino quanto seu bispo, dom James Thomas McHugh, notam McCarrick tateando a virilha de um jovem padre. Dom McHugh descarta as preocupações expressas por Bottino e diz que McCarrick só era “diferente”. Bottino conta a seu diretor espiritual no momento do incidente, mas a ninguém mais, já que seu bispo rejeitou o incidente.
1992-1993: Seis cartas anônimas e uma carta pseudônima alegando má conduta sexual de McCarrick são enviadas a vários bispos, ao núncio apostólico dos EUA, dom Agostino Cacciavillan, o cardeal John O’Connor e os líderes da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês). As cartas acusam McCarrick de pedofilia ou incesto e de dividir camas com jovens. Alguns dos “sobrinhos” de McCarrick com quem ele dividia a cama eram seus parentes distantes.
As acusações contra McCarrick nesse momento são rejeitadas com base na boa reputação de McCarrick e devido ao anonimato da carta e à falta de acusações específicas.
1993-1995: Newark é avaliada como um local potencial para uma visita papal do papa são João Paulo II.
Nessa avaliação, a madre Mary Quentin Sheridan, superiora geral das Irmãs Religiosas da Misericórdia de Alma, no Estado de Michigan, e um padre ligam para dom Cacciavillan sobre relatos de seminaristas abusados por McCarrick. Depois de consultar o então arcebispo de Washington, D.C., dom James cardeal Hickey, sobre as acusações, dom Cacciavillan as descarta como “possível calúnia ou exagero”.
Dom Hickey diz ao núncio que conhecia McCarrick e seus associados muito bem e nunca tinha ouvido falar ou visto qualquer comportamento inadequado de McCarrick.
1995: O papa são João Paulo II visita Newark e a visita prossegue sem qualquer relato de escândalo.
1996-1997: O Padre 1 foi acusado de agressão sexual de dois menores e estava de licença. No decorrer de uma avaliação de sua aptidão para o ministério, o padre 1 contou ao psiquiatra Richard Fitzgibbons e ao padre-psicólogo monsenhor James Cassidy sobre a agressão sexual que testemunhou e experimentou nas mãos de McCarrick. Cassidy relata o assunto a O’Connor, que contou a Hughes. Em 2000, em um relato a dom Cacciavillan, dom Hughes disse que não tinha certeza se deveria acreditar no relatório, já que o Padre 1 tem um “histórico de culpar os outros por seus próprios problemas”.
Março de 1997: Fitzgibbons vai a Roma dar as informações que recebeu do Padre 1 a um funcionário da Congregação para os Bispos da Santa Sé. A congregação tenta, sem sucesso, entrar em contato com o Padre 1. Não há evidências de outras ações tomadas.
Junho-julho de 1999: O papa são João Paulo II diz a O’Connor que está considerando nomear McCarrick para a arquidiocese de Nova York.
Julho de 1999: O’Connor diz ao núncio apostólico, dom Gabriel Montalvo, que McCarrick não deve ir para Nova York por questões morais. Montalvo pede a O’Connor que coloque suas preocupações por escrito.
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27 de outubro de 1999: Dom Montalvo envia um relatório ao então prefeito da Congregação para os Bispos da Santa Sé, o cardeal brasileiro Lucas Moreira Neves, sobre a arquidiocese de Nova York. Com base nas recomendações de bispos e cardeais dos EUA, Montalvo recomenda McCarrick para o cargo e diz que ele seria um “membro digno” do Colégio dos Cardeais. Diz também que McCarrick foi acusado de “afeto equivocado”, mas que não há evidências que apoiem isso.
28 de outubro de 1999: Depois de um atraso no tratamento do câncer, O’Connor escreve a Montalvo com suas preocupações sobre McCarrick. O’Connor diz que era de conhecimento comum entre o clero da arquidiocese de Newark que McCarrick freqüentemente dividia camas com hóspedes do sexo masculino, incluindo padres e seminaristas. Ele diz também que houve um padre muito próximo a McCarrick que o acompanhou em pelo menos uma viagem internacional que desde então deixou o sacerdócio. Ele diz também que um psicólogo e psiquiatra confirmou a veracidade das acusações de pelo menos um padre que disse ter sido vítima de McCarrick.
O’Connor diz também que McCarrick escreveu uma carta de defesa de um jovem condenado pelo assassinato de uma jovem. Ele diz também que a atitude geral entre o clero em Newark e Metuchen é que suas preocupações com McCarrick foram ignoradas.
Dom Montalvo encaminha a carta à Congregação para os Bispos da Santa Sé e à Secretaria de Estado da Santa Sé. O então arcebispo Giovanni Battista Re, então substituto da Secretaria de Estado, informa o papa são João Paulo II sobre a carta. A pedido do papa, Re consulta Cacciavillan, que havia sido núncio nos EUA quando foi feita a maioria das acusações contra McCarrick.
Cacciavillan lança sérias dúvidas sobre todas as seis preocupações de O’Connors, dizendo que os incidentes só foram alguns rumores. Ele diz também que McCarrick não teve a chance de se defender. Ainda assim, ele recomenda que McCarrick vá para Washington, D.C., em vez de Nova York, porque O’Connor não recomendou McCarrick como seu sucessor.
22 de novembro de 1999: Dom Re, a pedido do papa, escreve a dom Montalvo, pedindo-lhe que analise as alegações contra McCarrick conforme sua conveniência “pelo bem da verdade”.
8 de fevereiro de 2000: O cardeal Moreira Neves, da Congregação para os Bispos da Santa Sé, diz a dom Montalvo que, com base nas acusações contra McCarrick, e sua idade (então 69 anos), ele não deve ser transferido para uma diocese diferente.
Maio-Junho de 2000: Depois da morte de O’Connor, dom Montalvo investiga as alegações contra McCarrick. Ele pergunta a dom James T. McHugh (bispo de Rockville Centre, Nova York, de 1998-2000); dom Vincent D. Breen (bispo de Metuchen, Nova Jersey, de 1997 a 2000); dom Edward T. Hughes (bispo de Metuchen, de 198 a 1997); e dom John M. Smith (bispo de Trenton, Nova Jersey, de 1997 a 2010), para enviar-lhe qualquer informação factual ou outras observações sobre quaisquer fraquezas morais em McCarrick.
12 de maio de 2000: Dom McHugh responde a dom Montalvo. Ele confirma o conhecimento de que McCarrick dividia camas com seminaristas, padres e outros homens, embora diga que não testemunhou “comportamento impróprio”, mas sim uma “familiaridade imprudente”. Ele confirma a defesa de McCarrick do jovem condenado por assassinato e se oferece para dar mais assistência.
16 de maio de 2000: Dom Breen responde a dom Montalvo, dizendo que ouviu rumores de “atividades ilícitas com jovens”, mas que não tinha como provar isso. Ele recomenda entrar em contato com dom Hughes para obter mais informações.
18 de maio de 2000: Dom Smith responde a dom Montalvo. Ele diz que enquanto morava com McCarrick, ele era visitado por seus “sobrinhos” de Nova York de vez em quando e que às vezes eles passavam a noite, mas nunca indicavam na manhã seguinte que estavam chateados ou que algo impróprio havia acontecido. Ele diz que ficaria “completamente chocado” se um indivíduo acusasse McCarrick de irregularidades graves ou falha moral.
22 de maio de 2000: Dom Hughes responde a dom Montalvo. Ele diz não ter informações factuais sobre as falhas morais de McCarrick. Ele diz que dois padres que apresentaram acusações, o Padre 6 e o Padre 1, fizeram isso ao admitir suas próprias falhas morais e podem ter tentado justificar suas ações. Ele faz uma recomendação contra a promoção de McCarrick, mas também contra ações disciplinares.
21 de junho de 2000: Dom Montalvo envia suas descobertas a dom Re, informando-o de que sua investigação descobriu que as acusações contra McCarrick “não são definitivamente provadas nem completamente infundadas”. Com base nisso, disse ele, seria “imprudente” considerar McCarrick para qualquer tipo de promoção.
Maio-julho de 2000: Dom Montalvo recebe mais apoios para a nomeação de McCarrick para Washington.
Julho de 2000: Dom Re e o papa são João Paulo II concluem que seria imprudente promover McCarrick para Washington, D.C.
6 de agosto de 2000: McCarrick escreve a dom Stanisław Dziwisz, secretário do papa são João Paulo II, refutando as acusações contra ele. Ele diz que foi “avisado” por um amigo da Cúria sobre a carta de O’Connor, que o “atacou profundamente” e o deixou “perplexo”.
“Vossa Excelência, claro que cometi erros e às vezes posso ter faltado prudência, mas nos 70 anos da minha vida, nunca tive relações sexuais com qualquer pessoa, homem ou mulher, jovem ou velho, clérigo ou leigo, nem nunca abusei de outra pessoa ou a tratei com desrespeito”, escreve McCarrick. “… Se eu entendo as acusações que o cardeal O’Connor pode ter feito, elas não são verdadeiras”.
McCarrick diz também que aceitaria qualquer decisão que o papa tomasse.
Agosto de 2000: Dziwisz entrega a carta de McCarrick ao papa, que entrega a carta a dom Re. Dom Re diz mais tarde que João Paulo II se convenceu da inocência de McCarrick depois dessa carta.
16 de setembro de 2000: O papa são João Paulo II nomeia dom Re prefeito da Congregação para os Bispos da Santa Sé.
20 de setembro de 2000: O secretário da Congregação para os Bispos da Santa Sé escreve a Cacciavillan e pede que McCarrick seja reconsiderado para a arquidiocese de Washington D.C. com base em sua carta a Dziwisz alegando inocência.
25 de setembro de 2000: Num memorando escrito, Cacciavillan recomenda McCarrick à Congregação para os Bispos para o cargo de Washington D.C. Ele diz que McCarrick poderia se defender de quaisquer acusações que possam vir à tona com a nomeação, já que eram falsas.
Outubro de 2000: McCarrick viaja a Roma para uma audiência privada com Dziwisz e o papa são João Paulo II. Não há registro do que ocorreu na reunião.
11 de outubro de 2000: Dom Re recomenda McCarrick como um dos dois candidatos ao cargo de Washington para o papa são João Paulo II.
Novembro de 2000: O papa são João Paulo II nomeia McCarrick arcebispo de Washington, D.C.
24 de novembro de 2000: O padre dominicano Boniface Ramsey, que deu aulas no seminário da Seton Hall University do fim dos anos 1980 a 1996, sabia dos rumores de que McCarrick dividia camas com seminaristas. Alarmado com a notícia da promoção de McCarrick, ele escreve ao núncio dom Montalvo, dizendo que ouviu de vários seminaristas sobre dividir a cama de McCarrick na casa de praia de Nova Jersey. Ele diz também que, embora não soubesse de nenhuma relação sexual que tivesse ocorrido, “pelo menos o arcebispo foi visto agindo com extrema impropriedade e brincando com fogo”.
Ramsey se recusa a nomear seminaristas específicos e sugere que o núncio fale com outros reitores do seminário para confirmar os rumores. Ramsey diz a um amigo e a dom Montalvo que temia fortemente uma reação por expressar suas preocupações. Ele não se lembra de ter recebido nenhuma resposta.
Início de 2001: Dom Montalvo recebe uma nota anônima alertando sobre um sério escândalo se McCarrick for nomeado cardeal.
Janeiro de 2001: Dom Montalvo encaminha a nota anônima e a carta de Ramsey ao secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Angelo Sodano, que encaminha as cartas ao papa João Paulo II. O papa os devolve a Sodano, que faz uma anotação: “Nihil dicens” (Nada dito).
3 de janeiro de 2001: McCarrick se torna arcebispo de Washington.
21 de fevereiro de 2001: McCarrick é elevado a cardeal pelo papa são João Paulo II.
Início dos anos 2000: McCarrick continua um extenso trabalho em vários comitês nacionais e internacionais da USCCB, incluindo um papel proeminente na construção de novas políticas para lidar com o abuso sexual infantil dentro da Igreja. Ele também foi nomeado para vários cargos em conselhos da Santa Sé.
Sua posição em Washington significa que ele se reúne regularmente com funcionários do governo federal, como o então presidente dos EUA, George W. Bush. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os EUA, McCarrick tem um papel proeminente na abordagem da crise com figuras nacionais.
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McCarrick, apesar de recusar um salário como arcebispo, continua com grandes doações, algumas delas financeiras, para o papa, outros bispos, ordens religiosas e fundos de ajuda humanitária. Suas extensas viagens internacionais continuam. Ele também é encarregado pelo governo dos EUA em 2001 de desenvolver relações diplomáticas entre a China e a Santa Sé, um projeto que McCarrick faz com entusiasmo e foi apoiado pelo núncio.
15 de novembro de 2001: O então arcebispo emérito de Washington D.C., cardeal James Hickey, recebe uma carta de um leigo e ex-aluno sobre “irregularidades” de um bispo, mas ele não menciona McCarrick especificamente. O homem pede uma reunião para discutir mais o assunto. Dom Montalvo designa o então bispo de Bridgeport, Connecticut, dom William Lori para se encontrar com o homem. Em relatório escrito, dom Lori diz que o homem não conseguia se lembrar de nenhum detalhe específico de irregularidades cometidas por McCarrick e, por fim, descarta a alegação como “boato”.
Janeiro de 2002: O jornal Boston Globe publica uma série de histórias sobre abuso sexual infantil por padres nos EUA.
Março de 2002: Dom Montalvo recebe outra carta de um leigo que havia dirigido espiritualmente um diácono em Seton Hall, que disse que McCarrick foi “sexualmente inapropriado” com ele na casa de praia de Nova Jersey. Montalvo entra em contato com o então arcebispo de Newark, dom John Myers, que diz depois que não reconheceu o nome do diácono. Ele diz também que recebeu outras acusações anônimas contra McCarrick, mas que eram rumores não rastreáveis e não incidentes concretos. Nenhuma outra ação ou investigação é feita.
Abril de 2002: McCarrick admite a Susan Gibbs, diretora de comunicações da arquidiocese de Washington, que ele dividiu camas com seminaristas enquanto ela fazia perguntas sobre rumores. Ele diz a Gibbs que só viajou com grupos de seminaristas e não sozinho, e que eles estavam sempre vestidos quando dividiam a cama. Ele disse que dividia camas com eles porque achava inapropriado pedir aos seminaristas que dividissem camas uns com os outros.
Gibbs pergunta a McCarrick várias vezes sobre os rumores e entra em contato com ex-funcionários diocesanos dele, mas nenhum deles fala sobre casos específicos de comportamento impróprio. Ela também fala com repórteres dos jornais Washington Post e do New York Times, que também não conseguem que alguém fale oficialmente ou nos bastidores com quaisquer acusações específicas.
McCarrick responde em duas entrevistas separadas à mídia sobre a crise dos abusos sexuais, e sobre as acusações contra ele. Ele diz aos repórteres que a acusação era anônima, que ele a apresentou e que nunca teve relações sexuais com ninguém em sua vida.
15 de novembro de 2004: O bispo de Pittsburgh, Pensilvânia, dom Donald Wuerl, envia a dom Montalvo uma declaração assinada pelo Padre 2, ex-seminarista e padre da Diocese de Metuchen. Nela, o padre fala sobre comportamentos “problemáticos” e “extremamente inadequados”, como massagens nas costas e dividir camas com McCarrick. Ele não o acusa abertamente de abuso sexual na declaração. Não há registro de que Montalvo tenha encaminhado a carta à Santa Sé.
24 de fevereiro de 2005: Myers escreve ao núncio Montalvo avisando-o de que o comportamento de McCarrick, segundo o advogado do Padre 2, pode constituir abuso. Não há registro de que Montalvo entre em contato com a Santa Sé sobre isso.
Abril de 2005: McCarrick viaja para Roma depois da morte do papa são João Paulo II e participa do conclave que elege o papa Bento XVI.
Junho de 2005: Um acordo é alcançado com o Padre 2 e a diocese de Metuchen por US$ 80 mil (cerca de R$ 474, 2 mil). Nenhuma ação judicial é movida e McCarrick não é nomeado especificamente no acordo, que também abrange acusações de abuso de um professor do ensino médio na diocese. McCarrick envia US$ 10 mil (cerca de R$ 59.285,50) para a diocese nessa época, aparentemente como parte do acordo. Não há indicação de que o núncio ou a Santa Sé saibam desse acordo.
Fim de junho de 2005: Numa disputa sobre a aptidão do Padre 1 para o ministério, resumos dos casos de abuso de McCarrick sofridos pelo Padre 1 são enviados à Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé.
22 de junho de 2005: Na noite anterior ao seu 75º aniversário, McCarrick apresenta sua renúncia como arcebispo de Washington ao papa Bento XVI, como é costume conforme o direito canônico.
Verão de 2005: O cardeal Re, depois de consultar o papa Bento XVI, estende a posição de McCarrick em Washington D.C. por mais dois anos.
Setembro de 2005: Um canonista que trabalha com a Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé escreve num memorando interno que o Padre 1 disse que não queria causar escândalo público na Igreja com suas acusações contra McCarrick. A petição do Padre 1 para retornar ao ministério ativo é negada e o caso é considerado encerrado pela Santa Sé.
5 de novembro de 2005: O papa Bento XVI reverte a decisão de estender o mandato de McCarrick em Washington, com base em acusações críveis contra ele, provavelmente obtidas por dom William Levada, então prefeito da Congregação para os Bispos da Santa Sé. Dom Re informa a Congregação para os Bispos sobre o pedido.
7 de novembro de 2005: Dom Re envia ao núncio Montalvo uma cópia da carta de McCarrick de 6 de agosto de 2000 alegando inocência a dom Dziwisz. Dom Re escreve também uma nota dizendo que novas informações surgiram, fazendo com que as acusações pareçam críveis, e que ele vai pedir a McCarrick que se retire de Washington D.C. Dom Re também escreve a McCarrick pedindo-lhe que vá a Roma antes do fim do mês para discutir a decisão.
5 de dezembro de 2005: Dom Re se encontra com McCarrick em Roma. McCarrick admite dividir camas com seminaristas, mas diz que nada sexual aconteceu, nem um ato “incompleto”. Ele aceita marcar sua renúncia para a Páscoa de 2006, mas pede que seja feito de uma forma que não seja vista como uma “punição”.
Pouco depois, o bispo de Metuchen, dom Paul Bootkoski, encaminha ao núncio Montalvo acusações específicas feitas anteriormente pelo Padre 1 e pelo Padre 2. O Padre 2 falou sobre casos específicos de dividir uma pequena cama com McCarrick nos quais houve atos “inapropriados … embora não seja claramente sexual”.
O Padre 1 disse que testemunhou “toque sexual” de McCarrick com seu parceiro adormecido numa viagem e que lhe disseram que “seria o próximo”. Numa viagem subsequente, McCarrick dividiu a cama com o padre 1 e o tocou de modo sexual. Os relatórios são encaminhados para dom Re.
17 de dezembro de 2005: Dom Montalvo anuncia sua aposentadoria da nunciatura dos EUA, e o dom Pietro Sambi o sucede.
28 de dezembro de 2005: Dom Re escreve para Montalvo, ainda no cargo, para informá-lo de seu encontro com McCarrick e pedir-lhe que inicie o processo de encontrar o sucessor de McCarrick em Washington, D.C.
17 de janeiro de 2006: McCarrick se encontra novamente com Re em Roma. Desta vez, McCarrick traz uma refutação manuscrita de três páginas das alegações contra ele. Ele enfatiza que nunca teve relações sexuais com ninguém em sua vida e nega que tenha tido qualquer contato inadequado com alguém, jurando isso em seu “juramento como bispo”. Ele diz então que aceitaria o julgamento do papa.
Março de 2006: McCarrick pergunta a dom Robert Sheeran, presidente da Seton Hall University, sobre morar meio período numa residência no campus para padres, perto do seminário. Dom Myers diz a Sheeran que se opõe fortemente à mudança. McCarrick organiza para viver meio período no seminário Redemptoris Mater em Hyattsville, no Estado de Maryland.
16 de maio de 2006: O papa Bento XVI aceita a renúncia de McCarrick como arcebispo de Washington D.C. Dom Donald W. Wuerl é escolhido como sucessor. Como arcebispo emérito, McCarrick recebe moradia, estipêndio, benefícios de saúde, um escritório, uma secretária e transporte. Ele se recusa a receber uma pensão.
Junho de 2006: Um advogado que representa o Padre 1 se reúne com funcionários da diocese de Metuchen, e um relatório de incidente é arquivado na diocese. Desde então, o Padre 1 mudou-se para um Estado diferente dos EUA e foi removido do estado clerical devido a acusações de que ele havia agredido sexualmente dois menores. O relatório diz que as acusações do Padre 1 contra McCarrick também foram arquivadas em vários escritórios de promotores distritais, e em dioceses de Nova Jersey, Nova York, Maryland e Pensilvânia.
No relatório, o Padre 1 diz que testemunhou McCarrick fazendo sexo com outro padre e que, em várias ocasiões específicas, ele se sentiu forçado a dividir a cama com McCarrick, que o tocava de maneira sexual.
Agosto de 2006: O advogado do Padre 1 e representantes das dioceses de Newark e de Metuchen concordam em uma conferência de mediação com um ex-juiz civil em 15 de novembro de 2006.
3 de outubro de 2006: Dom Myers envia por fax o relatório do incidente para a nunciatura dos EUA. Num memorando, um oficial da nunciatura fala sobre a relação desigual de McCarrick com o Padre 1, já que os incidentes ocorreram quando o Padre 1 era seminarista – “portanto, uma relação ‘superior-subordinado’ “. A nunciatura envia o relatório por fax à Congregação para os Bispos.
17 de outubro de 2006: Dom Re, prefeito da Congregação, responde ao núncio americano, dom Sambi e, alegando possível escândalo na mídia, aconselha que McCarrick saia de sua residência no seminário e viva uma vida de oração silenciosa. Dom Re diz também que discutiu a situação de McCarrick com dom Wuerl em Roma, mas que o núncio deveria ser o único a pedir a McCarrick que se mudasse e vivesse uma vida tranquila de oração.
Novembro de 2006: O testemunho do Padre 1 sobre incidentes relacionados a McCarrick foi gravado em vídeo. Nenhum registro indica que a gravação foi enviada à Santa Sé. As partes concordam com um acordo para as reivindicações do Padre 1.
Dom Sambi aconselha o então secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone, a não envolver McCarrick em outros assuntos externos e internos da Igreja devido a alegações de abuso contra McCarrick.
6 de dezembro de 2006: O arcebispo Carlo Maria Viganò, na época delegado para as representações pontifícias na Secretaria de Estado, escreve um memorando relacionado à comunicação de novembro de 2006 de dom Sambi ao cardeal Bertone.
Nele, Viganò diz que as acusações do Padre 1 “equivalem aos crimes de armadilha, solicitação de seminaristas e padres para cometer atos perversos, repetidamente e simultaneamente com mais de uma pessoa, zombando do jovem seminarista que tentou resistir à sedução do arcebispo na presença de dois outros padres, absolvição do cúmplice desses atos perversos, e concelebração sacrílega da Eucaristia com os mesmos sacerdotes depois de cometer tais atos”.
O memorando de Viganò é lido por dom Leonardo Sandri e pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Bertone, que telefona para dom Re para falar sobre o assunto. O memorando é então arquivado.
Dezembro de 2007: Dom Sambi se encontra com McCarrick para discutir sua saída do seminário Redemptoris Mater e o pedido de que ele viva uma vida tranquila de oração. McCarrick diz a dom Sambi que, como o Padre 1 tinha 25 anos na época das acusações, o que aconteceu não foi um crime e que sua busca contínua pelas acusações parecia ser uma tentativa de ganhar dinheiro.
Janeiro de 2007: Dom Sambi relata seu encontro com McCarrick a dom Re e diz também que investigou se os líderes do seminário Redemptoris Mater consideravam McCarrick uma ameaça ativa. Os líderes do seminário dizem que McCarrick era complicado, mas não o consideravam uma ameaça.
15 de janeiro de 2007: O cardeal Bertone e o papa Bento XVI discutem problemas relacionados a McCarrick em audiência privada e não gravada. Bertone diz mais tarde que Bento XVI queria que as atividades de McCarrick fossem “contidas”, mas não achou necessário prosseguir com uma investigação da Congregação para a Doutrina da Fé.
Maio de 2007: O advogado de McCarrick tenta fazer com que o Padre 1, como parte do acordo, assine uma declaração dizendo que McCarrick nunca teve relações sexuais com o Padre 1 nem viu McCarrick tendo relações sexuais com ninguém. O Padre 1 se recusa a assinar.
Agosto de 2007: O Padre 1 chega a um acordo de US$ 100 mil (cerca de R$ 592 mil) com a arquidiocese de Newark e a diocese de Metuchen. O acordo não cita McCarrick nem inclui uma admissão de irregularidades. Não há registro de que a Santa Sé tenha sido informada de que um acordo foi alcançado.
2007-2008: McCarrick permanece ativo no trabalho para vários comitês da USCCB, e trabalha com outras organizações da Igreja sem fins lucrativos e mantém uma extensa agenda de viagens internacionais para esse trabalho. Ele participa de vários eventos internacionais em que Bento XVI está presente e se envolve em trabalhos diplomáticos ocasionais para a Santa Sé.
McCarrick mantém dom Sambi regularmente informado sobre suas extensas viagens. McCarrick escreve a dom Sambi sobre ter falado com o papa Bento XVI durante uma audiência geral de 2008: “Eu vi o Santo Padre na audiência pública e sua saudação para mim foi: ‘Você ainda está viajando muito’ “. McCarrick admite que não sabia se isso era um aviso ou uma saudação amigável.
Dom Sambi busca a opinião de McCarrick em vários assuntos, como política, assuntos internacionais e nomeações de bispos nos EUA. Ele incentiva regularmente as atividades de McCarrick e agradece por seu trabalho. Parece que o cardeal Re não tem conhecimento das viagens de McCarrick nesse momento.
McCarrick mantém residência no Seminário Redemptoris Mater em Hyattsville, Maryland, nesse tempo, onde mora em sua própria ala.
Abril de 2008: Papa Bento XVI viaja para os EUA. McCarrick concelebra missa com o papa Bento XVI na catedral de São Patrício e participa de um jantar com o papa em Nova York.
Abril-Maio de 2008: Logo depois da viagem do papa, o psicoterapeuta e ex-monge beneditino Richard Sipe publica uma “carta aberta” online ao papa Bento XVI chamada “Declaração para o Papa Bento XVI sobre o Padrão da Crise dos Abusos Sexuais nos Estados Unidos”.
Sipe diz que o abuso na Igreja é “sistêmico” e usa McCarrick como exemplo. Ele diz que ouviu de vários seminaristas sobre as festas do pijama na casa de praia e que escreveu testemunhos de padres sobre avanços sexuais feitos a eles por McCarrick.
Maio de 2008: Dom Re escreve para dom Sambi sobre a carta aberta, dizendo-lhe para seguir McCarrick de perto e avisar Re se ele precisa repetir seus avisos a McCarrick sobre sua residência e viagens. Ele sugere trabalhar com dom Wuerl para encontrar uma residência alternativa para McCarrick ao seminário.
Dom Viganò escreve um segundo memorando interno relacionado a McCarrick para a Congregação para os Bispos, falando sobre as acusações na carta aberta. Ele escreve um apelo urgente a Bento XVI para disciplinar McCarrick. Ele diz que lidar com o caso McCarrick perante as autoridades legais e antes que um escândalo estoure pode ser saudável para a Igreja, e ele recomenda uma investigação da Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé. Nenhuma ação é tomada.
Por volta de maio de 2008: McCarrick viaja para Roma e aparece num evento público com o papa Bento XVI. Dom Re fica descontente ao ver McCarrick em Roma e o confronta sobre desobedecer às instruções para viver uma vida mais privada. McCarrick “não aceita bem”.