Nove dias antes do Natal, católicos nas Ilhas da Madeira e de Porto Santo, Portugal, vivem uma tradição de séculos: as Missas do Parto. As celebrações recordam os nove meses de gravidez de Maria e estão relacionadas ao título mariano de Nossa Senhora do Ó, também conhecida localmente como Virgem do Parto.
A tradição das Missas do Parto foi “introduzida pelos padres franciscanos aquando da sua ação pastoral nos primórdios do povoamento das ilhas”, diz o artigo ‘Natal’, de Sílvia Gomes, publicado em 2020 no site Aprender Madeira, que divulga a história e a cultura madeirense.
Há notícias de Missas do Parto na Ilha da Madeira “em 1685 (Ribeira Brava); em 1688 (São Vicente); em 1690 (Convento de Santa Clara)”, diz o site Cultura Madeira, da Direção Regional de Cultura, serviço executivo da Secretaria Regional de Turismo e Cultura (SRTC) da Madeira, que cita outros registros dos séculos XVIII e XIX.
O padre Giselo Andradre, em artigo sobre as Missas do Parto, publicado em 2022 no site Jornal da Madeira, conta que nos séculos XVIII e XIX eram celebradas no Norte de Portugal as Novenas do Menino Jesus. “Essas novenas eram compostas por ‘Invitatório, Invocação ao Divino Espírito Santo, Ladainha de Nossa Senhora, Antífona, Jaculatórias ao Menino Jesus’”, disse, ao ressaltar que este é “um esquema muito semelhante” às Missas do Parto.
As novenas preparatórias para o Natal receberam o nome de Missas do Parto na região por associação a Nossa Senhora do Ó, devoção mariana que remete às antífonas do Ó, cantadas entre os dias 17 e 23 de dezembro, antes do cântico evangélico do Magnificat nas vésperas. São sete antífonas: ó Sabedoria, ó Adonai, ó Raiz de Jessé, ó Chave de Davi, ó Oriente, ó Rei das Nações, ó Emanuel.
“O povo madeirense interpretou que tal período celebrava também a gravidez da Virgem Maria, sugerindo que o formato da letra ‘o’ lembra os últimos tempos da gravidez da mulher”, diz o artigo de Silvia Gomes em Aprender Madeira. “O antigo culto do Menino foi transferido para sua Mãe, passando a chamar-se Missas do Parto às novenas do Menino Jesus ou novenas do Natal”, acrescenta.
Geralmente, essas missas eram celebradas entre 5h e 7h, por ser o horário mais conveniente para os lavradores, “que começavam a trabalhar antes do nascer do sol”. Segundo Gomes, depois de um período de desmobilização, no século XIX, “foi recuperada a tradição de celebrar a missa na alvorada”, por volta das 6h, “correspondendo ao simbolismo de que o Menino Jesus é a luz que nasce para o mundo inteiro”.
Mesmo com nesse horário, as celebrações costumam ter grande participação. Em alguns lugares, porém, há Missas do Parto celebradas em outros horários ao longo do dia. Há também locais em que, em vez de começar no dia 16 de dezembro, as Missas do Parto começam no dia 15.
Em outro artigo de 2020 sobre a Virgem do Parto, no Jornal da Madeira, o padre Giselo Andrade, conta que “os mais velhos introduzem as novas gerações no ritual própria das Missas do Parto”, algo que “também eles aprenderam dos seus pais e avós”. “Apesar de algumas variações entre as paróquias, o essencial mantém-se intacto ao longo dos anos”, diz.
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O sacerdote destaca os cânticos com a “simplicidade das melodias e as letras em versos de linguagem popular”, que “facilitam a participação de todos”. “Muitos deles falam de Nossa Senhora, a sua beleza, os seus dons divinos e a sua maternidade”.
“Habitualmente”, conta o padre, “a Missa do Parto termina com o cântico ‘Virgem do Parto’ que pode ser acompanhado por diversos instrumentos populares como o bombo, as castanholas, os chocalhos, o rajão, a harmônica e até acordeão” e diz em seu refrão: “Virgem do Parto, ó Maria / Senhora da Conceição / Dai-nos as festas felizes/ A paz e a salvação”.
Depois da missa a tradição segue nos adros das igrejas, com um momento de convívio entre as pessoas, que partilham bebidas quentes, doces e petiscos tradicionais, e formam-se grupos que cantam músicas tradicionais e tocam instrumentos regionais.
Convívio depois da Missa do Parto. Wikimedia (CC BY 2.0)
O sentido das Missas do Parto
O bispo do Funchal, dom Nuno Brás, comentou em um artigo para o site Jornal da Madeira, em 2022 sobre o sentido das Missas do Parto. Para ele, “por mais respeitável” que seja a tradição, ela “só faz sentido ser continuada se hoje marcar também a nossa vida”, e não só “porque os nossos pais, anos atrás, também o faziam”.
Dom Nuno convida a se perguntar: “que significam hoje, para nós, cristãos madeirenses, as Missas do Parto? Levantamo-nos mais cedo, participamos na Eucaristia, participamos no convívio que se lhe segue — mas tudo isso será que ajuda a fazer nascer em nós o Deus Menino? Será que nos vai transformando em alegres anunciadores de um Deus próximo, ao nosso lado?”.
Para o bispo, é preciso “não perder de vista as realidades centrais daquilo que fazemos e do que somos”. “Deixemos que Nossa Senhora nos conduza até ao Presépio e nos mostre como viver de verdade o Natal”, acrescentou.
A diocese do Funchal divulgou as datas, horários e locais que dom Nuno Brás vai celebrar as Missas do Parto, a partir de domingo (15): 15 de dezembro, às 6h, na paróquia da Nazaré; 16 de dezembro, às 7h, na Universidade da Madeira, e, às 8h, na paróquia Caniço; 17 de dezembro, às 6h, na paróquia da Ribeira Brava, e, às 20h, em Ribeira Seca; 18 de dezembro, às 6h, na paróquia Machico; 19 de dezembro, às 6h, na paróquia Porto da Cruz, às 9h, na capela de Santo Antônio da Mouraria, e, às 11h30, na Casa de Saúde de São João de Deus; 20 de dezembro, às 6h30, na paróquia do Atouguia; 21 de dezembro, às 6h, na paróquia do Campanário; 22 de dezembro, às 6h30h, na paróquia do Curral das Freiras; e 23 de dezembro, às 7h30h, na Sé do Funchal.
Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.
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