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5 de mar de 2025 às 12:25
A tendência apontada pelo Censo 2022 que mais preocupa o arcebispo de Porto Alegre, cardeal Jaime Spengler, é o crescimento dos “desigrejados” no Brasil. O termo, cunhado pelo cardeal que preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), designa quem, ao responder ao Censo, não se identifica como pertencente a alguma religião institucionalizada.
Dom Jaime tomou conhecimento dos números em uma reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo Censo, durante o curso para os bispos realizado no Rio de Janeiro (RJ), em janeiro.
O IBGE diz que os dados consolidados oficiais sobre o perfil religioso da população brasileira devem ser apresentados até o início do segundo semestre.
Segundo dom Jaime, o Censo revela uma estabilização da porcentagem de católicos no Brasil. Eles eram cerca de 90% da população até os anos 1960. Hoje, representam em torno de 50%.
“Há estudos acadêmicos que apontam para uma espécie de migração frequente de uma denominação religiosa para outra até abandonar formas de pertença”, disse dom Jaime à ACI Digital.
Para ele, uma hipótese de explicação para isso poderia ser o fato de a pessoa “não encontrar respostas adequadas à própria busca humana e religiosa”.
“O ser humano traz consigo algumas questões fundamentais: quem sou? De onde venho? Qual o sentido da minha existência? Qual a minha vocação? Por que vivo? Por que morro? A que sou destinado?”, disse dom Jaime. “Poder-se-ia dizer que as diversas expressões religiosas se empenham para, de algum modo, oferecer indicações sobre tais questões. Quando, talvez, as pessoas não encontram respostas à altura da pertinência de semelhantes questões migram de uma denominação para outra”.
Para ele, “o grande desafio da Igreja é o de transmitir a fé recebida dos apóstolos às novas gerações, a partir de uma linguagem adequada”.
“Estamos experimentando uma transformação cultural, tecnológica, social. Encontrar métodos, meios, linguagens adequadas para a transmissão do Evangelho de modo que corresponda às exigências do tempo presente requer abertura de mente e de coração, disposição para ler os sinais dos tempos, atitude de escuta e acolhida, capacidade de diálogo também com as diversas ciências – em especial com as ciências humanas, mas não só! Não existe uma resposta pronta aos desafios que se apresentam”.
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Trabalho para voltar a aumentar o número de católicos
O cardeal Spengler diz que urge a necessidade do investimento na iniciação à vida cristã e valorização de pequenas comunidades de fé para que o catolicismo cresça no Brasil.
“Se num passado mais ou menos distante era comum por tradição se declarar católico, mesmo participando de espaços de outras expressões religiosas, hoje há uma maior transparência neste âmbito”, disse. “Hoje as pessoas não se sentem, talvez, constrangidas em se declarar pertencentes a outra tradição religiosa. Urge propor uma espiritualidade vigorosa a fim de promover o testemunho, a unidade de fé, a comunhão do Povo de Deus, encorajando um diálogo construtivo com todas as pessoas de boa vontade para fortalecer a missão dos batizados: ser sal da terra, luz do mundo, fermento de transformação, tendo como fundamento o Evangelho”.
Segundo dom Jaime, “a Igreja do Brasil, desde alguns anos, tem se engajado de forma vigorosa na implementação de processos de iniciação à vida cristã”.
“Além disso, há um trabalho intenso sendo realizado no sentido de resgatar e promover a vida de pequenas comunidades como lugar de oração, leitura e meditação da Palavra, e de encontro entre as pessoas”.
Dom Jaime crê que “urge promover a constituição de pequenas comunidades como lugar de encontro, aprofundamento e vivência da Palavra”.
Esse trabalho tem que envolver leigos, religiosos e o clero, diz o cardeal. “O que seria das comunidades sem a presença e atuação dos/as catequistas? O que seria das comunidades sem a generosidade de tantos leigos exercendo distintos ministérios no seio da comunidade? A comunidade de fé é constituída sobretudo por leigos!”.
O Sínodo da Sinodalidade encerrado em outubro passado “recordou mais uma vez a mesma dignidade de todos os batizados”, disse dom Jaime. “O clericalismo é algo que diz respeito sim, ao clero, mas também aos próprios leigos. Importante é promover o cultivo da relação de todos com Cristo Jesus, promovendo a comunhão, o senso de corresponsabilidade e a disposição para a missão”.