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27 de jan de 2025 às 11:45
Os padres enfrentam hoje uma série de desafios, do declínio da frequência à igreja até condições financeiras críticas em muitas paróquias, que, segundo eles, são agravadas por mensagens confusas e pouco incentivo da Santa Sé e dos bispos.
Mas eles também veem sinais de esperança — especialmente entre os jovens — à medida que as pessoas são atraídas pelo belo, o verdadeiro e bem da fé e começam a exigir da Igreja liturgias reverentes, doutrina sólida e um senso de estabilidade e transcendência num mundo desordenado.
Essas foram algumas das observações feitas por clérigos da Austrália, EUA, Reino Unido e Espanha que falaram com o jornal National Catholic Register que participaram da III Convocação Internacional das Confrarias do Clero Católico, que ocorreu de 13 a 17 de janeiro em Roma.
Fundada pelo padre americano Robert Levis em 1975, a Confraria do Clero Católico é uma associação de mais de 500 padres do mundo todo surgida da turbulência pós-concílio Vaticano II da década de 1970.
“Muitos padres estavam saindo na época, e então a confraria foi fundada para encorajá-los a permanecer”, disse Thomas McKenna, diretor executivo da confraria. “Desde então, muitos clérigos disseram que deviam sua decisão de permanecer padres à confraria”.
Cerca de 75 padres participaram do evento que incluiu palestras dos cardeais Robert Sarah, Gerhard Müller e Raymond Burke.
O padre Paul Chandler, pároco de Inverell, na arquidiocese de Brisbane, Austrália, disse que “um dos maiores desafios é o declínio da fé”, o que levou a frequência à missa em algumas igrejas de sua diocese a cair para quase zero, já que “os idosos morrem e não são substituídos”.
A mesma coisa foi dita por outros padres. O padre Carlo Santa Teresa, um jovem padre de Camden, Nova Jersey, EUA, notou tanto “baixa frequência à missa quanto falta de catequese”.
O padre Philip De Freitas, pároco em Tonbridge, Inglaterra, falou também sobre o declínio e o vinculou a uma “perda de fé na Eucaristia, a Presença Real de Cristo”.
“As pessoas simplesmente desconsideram isso, realmente”, disse o padre. “Parece haver uma perda de reverência devido à Comunhão na mão e na liturgia em geral, e disso tudo o mais seguirá”.
A queda considerável na frequência à missa está afetando naturalmente as finanças paroquiais, disse um padre australiano que pediu para não ser identificado. As condições financeiras são “chocantes” em muitas paróquias de seu país, disse ele.
Encorajamento leigo
Outros padres na conferência falaram do moral baixo generalizado. Embora muitas vezes recebam encorajamento dos fiéis leigos, frequentemente recebem “desânimo” da hierarquia e particularmente de Roma.
O padre Chandler lamentou que o foco na Santa Sé esteja em questões como “assuntos LGBTQ e mudanças climáticas” em vez de ouvir as preocupações do clero. Ele disse que isso também era “desmoralizante” porque os padres tentam “dia a dia, ensinar as pessoas sobre a fé, para levá-las à santidade”, mas não é com isso que Roma “parece estar preocupada”, acrescentou.
O padre Charles Portelli, da arquidiocese de Melbourne, Austrália, criticou os “sinais ambíguos o tempo todo” vindos de Roma, e deu como exemplos a exortação apostólica do papa Francisco Amoris Laetitia, de 2016, que foi interpretada por parte dos bispos do mundo como uma autorização da comunhão de pessoas divorciadas em uniões irregulares, e a declaração da Santa Sé Fiducia supplicans, de 2023, que permitiu bênçãos a uniões homossexuais e casais irregulares.
“Eles continuam movendo as traves do gol, e isso deixa os bispos incertos; eles não sabem bem o que fazer”, disse o padre Portelli.
“Isso realmente corrói os relacionamentos, particularmente o relacionamento entre padres e seus bispos, que deveria ser como de um pai e um filho, ou pelo menos de irmão para irmão”, disse também o padre.
O padre Nicholas Leviseur, do Ordinariato de Nossa Senhora de Walsingham, que permite que ex-anglicanos se tornem católicos mantendo sua liturgia e patrimônio anglicanos, disse que o “maior desafio que enfrentamos é o diabo”.
“Não é para soar banal porque é o que qualquer padre deveria dizer, mas eles não dizem isso”, disse o padre. “E isso é agravado por um problema na sociedade em que as pessoas simplesmente não estão preparadas para assumir responsabilidade pessoal por nada”.
Leviseur também criticou bispos que “se recusam a aceitar que não são nada mais nem menos que servos de Cristo e que sua tarefa é a salvação das almas”. Esse entendimento foi perdido, diz ele, apesar de a salvação das almas ser o “principal propósito do padre e o único propósito do direito canônico”.
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Como resultado, o padre disse que muitos bispos de pensamento ortodoxo que pregam essas verdades centrais estão “petrificados com Roma”, temendo ser disciplinados ou removidos, como ocorreu com alguns bispos e padres que se manifestaram sobre essas questões.
Apesar dessas queixas substanciais, os padres estavam esperançosos e se consolaram com vários sinais de um renascimento da fé em seus países. Muitos deles disseram que o que os jovens e outros buscam na Igreja é autenticidade, convicção, beleza, verdade e bondade, e um senso de transcendência e do sobrenatural.
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“Às vezes, pode ser muito desafiador tentar responder à crise em questão, mas, ao mesmo tempo, apesar de tudo, as pessoas ainda querem conhecer a Palavra. Elas ainda buscam a verdade, por mais que digam que não”, disse o padre Santa Teresa.
Os padres falaram com entusiasmo sobre o Jubileu da Esperança deste ano, e vários deles lideram peregrinações a Roma ao longo do ano.
Sinais de Esperança
Significativamente, muitos dos padres veem esperança na missa tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II (1962-1965), embora relativamente poucos deles a celebrem.
O padre Chandler disse que suas maiores congregações, e os paroquianos mais jovens em idade, comparecem à sua missa de rito antigo nos dias de semana.
“A forma mais antiga da missa está levando as pessoas a rezar”, disse o padre. “É um sinal de esperança”.
O padre Santa Teresa disse que “certamente” viu sinais esperançosos semelhantes na missa tradicional.
“Num mundo que é muito caótico, em um mundo que parece ter perdido qualquer sentido de ordem, ver a precisão da liturgia tradicional, ver a beleza, os sons, cada aspecto dos nossos sentidos sendo engajados, ajuda nossos jovens. Católicos que têm a minha idade desejam alcançar algo mais alto do que o que o mundo busca ser”, disse o padre.
“Os jovens são atraídos pela transcendência, mas também querem continuidade histórica” , disse um padre que pediu para não ser identificado. “Eles sabem que foram enganados, tendo lido história, e querem encontrar autenticidade”.
Outro padre, também falando sob condição de anonimato, disse que assim como na política, nestes tempos incertos, em que as pessoas buscam por uma “sociedade muito mais robusta”, assim também as pessoas buscam “um conjunto muito mais robusto de demandas” da Igreja.
Parte disso requer “muito mais clareza em termos de doutrina e um ambiente litúrgico muito mais seguro no qual elas possam rezar e vir a Deus”, disse o padre.
“Eles não querem que a gente dê coisas sobre o meio ambiente, eles podem conseguir isso no The Guardian”, disse ele referindo-se ao jornal esquerdista britânico. “Eles procuram padres que sejam padres”.
Como resposta à crise na Igreja e a esses sinais de esperança, o padre Miguel Silvestre Bengoa, padre espanhol da Obra da Igreja, instituto eclesial de direito pontifício aprovado pelo papa são João Paulo II em 1997, falou sobre a importância de focar no “divino” na Igreja na “riqueza da Igreja [que] é o próprio Deus habitando dentro dela” em vez da “parte humana: nossos pecados, os escândalos e a corrupção”.
“Precisamos sempre olhar para a Igreja do ponto de vista sobrenatural e tentar realmente mostrar com nossas vidas a santidade da Igreja”, disse o padre Bengoa.
Se cada cristão tentasse apresentar a beleza da Igreja, “isso mudaria muitas coisas”, disse ele.
O padre pediu especialmente a todos os sacerdotes que “se aproximem mais da Eucaristia, da adoração” e que façam uma Hora Santa todos os dias diante do Santíssimo Sacramento, porque “esse é o centro da nossa vida”.
“Somos chamados a ser santos, e ser santo significa estar com o Santo, e então pregar”, disse. Se os padres fizessem isso e evitassem “cair no ativismo, eles levariam as pessoas à Eucaristia, e tantos problemas acabariam”.