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21 de abr de 2025 às 15:28
“A Igreja do papa Francisco é a Igreja do Concílio Vaticano II”, disse o arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, sobre a morte do papa Francisco hoje (21), aos 88 anos, no Vaticano. “Depois de Paulo VI”, o papa Francisco “foi o grande continuador do Concílio Vaticano II”, o concílio que, de 1962 a 1965, reuniu os bispos do mundo e adotou mudanças significativas na Igreja.
Dom Leonardo Steiner será um dos sete cardeais eleitores brasileiros no conclave para a eleição do próximo papa. Ele foi nomeado arcebispo de Manaus pelo papa Francisco em 2019 e criado cardeal também por Francisco em agosto de 2022, tornando-se o primeiro cardeal da Amazônia brasileira. Para dom Leonardo, a sua criação cardinalícia foi um reconhecimento e um convite do papa Francisco à implantação do que foi debatido no sínodo da Amazônia de 2019.
Em entrevista coletiva hoje depois do anúncio da morte do papa, dom Leonardo disse que “existem reações dentro da própria Igreja quanto a algumas iniciativas do papa. Mas o papa buscou dar continuidade ao Concílio Vaticano II, que renovou a Igreja, abriu a Igreja”.
“É claro, a Igreja vai caminhando. Vai caminhando a passos lentos, mas vai caminhando. E ela, certamente, não será a mesma”, disse dom Steiner. “Porque, às vezes, queremos voltar a gestos do passado quando os gestos devem ser outros, talvez mais significativos, que digam mais ao tempo em que nós estamos a viver”.
Para o arcebispo de Manaus, o papa Francisco “não queria voltar ao passado”. Ele falou, “por exemplo, da celebração da Eucaristia de Pio V”, a missa tradicional em latim segundo o missal anterior à reforma do Concílio Vaticano II. Seu uso, liberado pelo papa Bento XVI, foi muito restringida pelo papa Francisco por meio do motu proprio Traditionis custodes, de 2021.
“Ele foi, assim, muito firme no sentido de dizer nós vamos seguir a liturgia aprovada por são Paulo VI”, disse o cardeal. “Esses passos todos que nós temos que ir dando. Não voltarmos aos gestos do passado”.
“Não sei se a gente pode falar em avanço ou retrocesso, conservador ou não conservador, mas eu diria assim: ele procurou ser fiel àquilo que o Concílio propôs”, disse dom Leonardo.
Para o arcebispo, não se pode ter mais o “desejo de voltar para o passado” e “achar que a gente vai conseguir ter uma mentalidade, uma compreensão única, como no passado”.
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“Papa Francisco nos devolveu na Igreja fundamentos necessários para a nossa Igreja”, disse o cardeal.
“Nenhum papa nos alertou tanto e nos convidou tanto a cuidarmos da casa comum, a cuidarmos da natureza”. Segundo ele, a encíclica Laudato Si “foi um texto que marcou a COP de Paris”, em 2015, na qual esteve “presente como parte da delegação da Santa Sé”. “Em todas as falas se mencionava a Laudato Si. Quer dizer, a Igreja que despertou, a Igreja toda que despertou para essa grandeza da necessidade de cuidarmos da Mãe Terra ou da Irmã Terra”, disse.
Dom Leonardo disse que Francisco “tinha um carinho tão grande pela Amazônia, pelo pulmão da terra, mas especialmente pelos seus povos” e “os povos originários”. Segundo ele, sempre que se encontrava com o papa, ele o perguntava sobre a Amazônia e incentivava a ser “uma Igreja missionária, uma Igreja que ajuda na transformação social” e uma Igreja “que deve se inculturar”.
Mulheres na Igreja
O cardeal Steiner também comentou outros temas relacionados ao pontificado de Francisco, como a participação das mulheres na Igreja. “Não sei se a gente deveria chamar quebra de paradigmas, mas ele ir percebendo que a Igreja é povo de Deus, e que todos, todos, mulheres e homens, participam dessa vida”, disse, ao citar a nomeação de mulheres para cargos de liderança, como a irmã Simona Brambilla, nomeado prefeita do dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e a irmã Raffaella Petrini, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano.
Segundo dom Leonardo, o papa Francisco insistiu “cada vez mais” nesse tema, o que não foi visto como algo estranho na Amazônia, “porque a nossa Igreja, ela é quase dirigida pelas mulheres nas nossas comunidades, as lideranças são mulheres, na frente das pastorais, quase sempre são as mulheres”.
Mas, disse o arcebispo, o papa Francisco “também quebrou outros paradigmas”. “Por exemplo, o modo do acolhimento dos homoafetivos. O acolher, não rejeitar, não condenar, esse respeito pela pessoa humana, o respeito, por exemplo, por quem não é católico, quem não é cristão, essa relação com as outras religiões”, disse.
Dom Leonardo declarou que o “papa Francisco teve gestos” que “foram devagarinho despertando a Igreja de que ela é mais do que esse modo voltado para dentro”. “Não é nem para dentro, nem para fora o modo de ser dela, que leva em consideração todos aqueles que fazem parte da Igreja, do povo de Deus”, disse.