Peregrinação de missa tradicional a Chartres cresce em meio a tensões

“Limites de banco de dados, sistemas de pagamento, uma secretaria sobrecarregada – tudo estava sob intensa pressão”, disse o comunicado. A organização foi pega de surpresa pela demanda sem precedentes, duas a três vezes mais rápida do que em 2023. Os organizadores esperam retomar as inscrições até o final de abril, desde que a cota de segurança não tenha sido atingida até lá.

Por trás desse entusiasmo sem precedentes, impulsionado por um renascimento religioso entre os jovens, estão as crescentes tensões com partes da Igreja institucional, que vê o ressurgimento da liturgia tradicional com crescente suspeita.

Por decisão do arcebispo de Paris, dom Laurent Ulrich, a peregrinação deste ano não começará na recém-restaurada catedral de Notre-Dame de Paris, como queriam organizadores e peregrinos, mas sim na igreja de Saint-Sulpice.

Crescimento exponencial impulsionado pela juventude

Esse crescimento na procura não é uma surpresa. Em 2023, as inscrições foram encerradas por volta de maio, depois de atingir o limite de 16 mil participantes. Para o ano passado, o limite foi aumentado para 18 mil, mas mesmo assim, as inscrições tiveram que ser encerradas até o fim de abril.

O fenômeno se alinha com uma tendência mais ampla de renovação religiosa na França. Neste ano, um número recorde de catecúmenos foi batizado na Páscoa – um aumento de 45% em relação ao ano anterior, principalmente entre jovens adultos de 18 a 24 anos. As missas da quarta-feira de cinzas deste ano também registraram multidões recordes.

Nesse contexto, a peregrinação de Chartres continua a ter um lugar especial no coração dos fiéis de todo o mundo, atraídos pela missa tradicional em latim e pelo desejo de uma fé visível, exigente e encarnada.

Tensões com as autoridades da Igreja local

No entanto, esse sucesso repentino e exponencial também provocou desconforto dentro da Conferência Episcopal Francesa, particularmente porque os bispos buscam implementar o motu proprio Traditionis custodes, do papa Francisco, que restringe severamente a celebração da missa na forma anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

Este ano deveria marcar o retorno da peregrinação à recém-reaberta catedral de Notre-Dame de Paris, mas a arquidiocese de Paris recusou sediar a missa de abertura lá, designando São Sulpício como local alternativo. Até o incêndio de 2019, a missa de abertura foi tradicionalmente celebrada em Notre-Dame, seguindo os passos do poeta Charles Péguy, cuja jornada espiritual inspirou a Pèlerinage de Chrétienté (Peregrinação da Cristandade).

Philippe Darantière, presidente da peregrinação, disse em uma entrevista recente que o arcebispo Laurent Ulrich lhe disse que “não queria que essa missa”, referindo-se à missa tradicional em latim, fosse celebrada em Notre-Dame.

Contatada pelo jornal National Catholic Register, da EWTN, a arquidiocese de Paris deu uma versão diferente: “Nenhum pedido formal foi apresentado à catedral, e o apelo ao arcebispo chegou tarde demais, pois as peregrinações devem ser planejadas com vários meses de antecedência”.

A arquidiocese, alegando que uma missa em latim, ainda que na forma moderna, tem sido celebrada todos os domingos em Notre-Dame desde a reabertura da catedral, também citou considerações logísticas. Notre-Dame só pode acomodar 1, 5 mil pessoas, em comparação com 2, 5 mil em St. Sulpice, o que complicaria a logística logo depois de sua reabertura.

Haverá uma missa de encerramento em Chartres

Apesar das tensões, a missa de encerramento em Chartres continua confirmada, mesmo com rumores circulando nas últimas semanas de que a Santa Sé poderia proibi-la. O bispo de Chartres, dom Philippe Christory, disse que vai celebrar a missa final, que marcará o jubileu de mil anos da catedral.

Os peregrinos vão passar pela porta santa aberta para a celebração da catedral e venerar a relíquia do véu de Nossa Senhora, um precioso emblema espiritual da catedral.

A 43ª edição da Pèlerinage de Chrétienté será feita com o tema: “Para que Ele reine, na Terra como no Céu”, em homenagem ao centenário da encíclica Quas Primas, de 1925, do papa Pio XI. Foi uma escolha deliberada, segundo Darantière.

“Cristo é Rei e deve reinar não só em nossos corações, mas também sobre as sociedades e instituições do mundo”, disse Darantière no site da associação. Portanto, não se trata só de uma iniciativa espiritual, mas também missionária, para “despertar as consciências dos cristãos adormecidos”.

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