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2 de mai de 2025 às 15:40
As qualidades de um papa vão muito além de ser simplesmente uma espécie de chefe executivo da Igreja.
Inevitavelmente, no mínimo, ele deve ter forte fé e humildade, estar disposto a aderir às doutrinas da Igreja e à tradição apostólica e incorporar o antigo título do papa como Servus servorum Dei: o Servo dos servos de Deus.
Mas ele também deve ter outras qualidades excepcionais e, idealmente, ter grande santidade e virtude extraordinária, que, como escrevi em meu livro publicado em 2020, O Próximo Papa, podem ser melhor compreendidas observando o exemplo de são Pedro Apóstolo no Novo Testamento.
Em resposta ao pedido de Jesus Ressuscitado a são Pedro, depois do apóstolo o ter negado: “Cuida dos meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas”, um papa deve manifestar um amor a Cristo que se estende a todos os membros do Seu Corpo Místico, o “rebanho” para o qual Cristo é o Bom Pastor.
Ao contrário de um político focado só neste mundo, a principal responsabilidade de um papa é ajudar a guiar milhões de almas para o outro mundo. Portanto, sua caridade deve permitir que ele “pastoreie” o rebanho por meio do governo, “alimente-o” por meio da liturgia e ensine-lhe a sã doutrina como um profeta; em essência, os três munera (deveres) de um bispo: ensinar, governar e santificar.
São Pedro expande esses temas, exortando os sacerdotes:
“Cuidem do rebanho de Deus, que lhes foi confiado, não por força, mas espontaneamente; nem por ganância vergonhosa, mas de zelo; não como dominadores sobre os que lhes foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando o Pastor se manifestar, vocês receberão a imarcescível coroa da glória” (1 Pedro 5, 2).
Também em comum com são Pedro, que foi cingido e conduzido para onde “não queria ir”, um papa deve permanecer humilde e submisso à Divina Providência. E como são Pedro, a “rocha” sobre a qual a Igreja visível foi fundada, seu sucessor deve ser, pela graça, forte tanto no caráter quanto na fé.
Confiado com as “chaves do Reino dos Céus”, com o poder de “ligar e desligar”, o papa deve julgar com justiça, temperando a justiça com a misericórdia para a salvação das almas. Ele também é chamado a confirmar os fiéis nas doutrinas da Igreja, manter a tradição e salvaguardar a ortodoxia, responsabilidades que, em última análise, definem a missão principal de são Pedro. Ele deve salvaguardar o depósito da fé e, assim, manter a unidade da Igreja.
Um dos melhores guias sobre as qualidades papais vem de são Bernardo de Claraval numa instrução chamada Sobre a Consideração. O pensamento do monge cisterciense influenciou os papas ao longo dos séculos, especialmente Bento XIV (1740-1758), que a considera o padrão pelo qual a santidade papal é medida. Bento resumiu os “conselhos de ouro” de são Bernardo, que dão uma boa ideia do que procurar em cardeais considerados candidatos papais, do seguinte modo:
1. O papa não deve estar totalmente absorvido pela atividade, mas deve lembrar que seu trabalho principal é construir a Igreja, rezar e ensinar o povo;
2. Acima de todas as outras virtudes, um papa deve cultivar a humildade: “Quanto mais você se eleva acima dos outros, mais a sua humildade deve se manifestar”;
3. O zelo de um papa deve considerar sua santidade pessoal, e não honras mundanas;
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4. Um papa deve ter amigos conhecidos por sua bondade;
5. Como as estruturas de poder acolhem mais facilmente os homens bons, em vez de torná-los bons, o papa deve se esforçar para promover aqueles que demonstraram virtude;
6. Ao lidar com os ímpios, o papa deve voltar o rosto contra eles: “Que aquele que não teme o homem tema o espírito da tua ira. Que aquele que desprezou a tua advertência tema as tuas orações”.
Bento XIV também destacou uma sétima característica, sublinhada pelo Concílio de Trento: que um papa deve escolher cardeais entre os homens mais eminentes em saber e virtude, que sejam pastores bons e bem qualificados.
Segundo o antigo juramento que os papas faziam ao assumir o cargo de bispo de Roma, eles também devem ser zelosos pela propagação da fé católica, pela promoção e restauração da disciplina eclesiástica e pela defesa dos direitos da Santa Sé.
São Roberto Belarmino, jesuíta e doutor da Igreja do século XVI, enfatizou a importância de um papa ser capaz de nomear bons bispos, garantindo que eles cumpram suas obrigações e, se necessário, obrigando-os a fazer isso. Além disso, bem ciente do que era necessário para um homem ser um bom e santo papa, são Roberto lamentou diante de um conclave em 1605 que não conseguia pensar num único candidato adequado para se tornar bispo de Roma.
“Precisamos de muita oração”, escreveu o santo, “porque não vejo uma única pessoa no Sacro Colégio [dos Cardeais] que tenha as qualidades [necessárias]. E o que é pior, ninguém procura tal pessoa. Parece-me que, para Vigário de Cristo, não buscamos alguém que conheça a vontade de Deus, isto é, que conheça bem a Sagrada Escritura, mas só alguém que conheça a vontade de Justiniano e outros autores semelhantes. Buscamos um bom príncipe temporal, não um bispo santo que verdadeiramente se dedique ao bem das almas”.
No fim, os cardeais elegeram o cardeal Camillo Borghese, de 52 anos, que adotou o nome de Paulo V. Seu pontificado foi repleto de conflitos como a Guerra dos Trinta Anos, a disputa com Galileu Galilei e o nepotismo, mas ele fez contribuições significativas ao cenário arquitetônico de Roma antes de morrer aos 70 anos.
Muitas vezes nos perguntamos o quanto o Espírito Santo intervém num conclave. O cardeal Joseph Ratzinger disse que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade “não toma propriamente as rédeas da questão, mas sim, como um bom educador, por assim dizer, deixa-nos muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar completamente”.
“Portanto, o papel do Espírito deve ser entendido num sentido muito mais flexível; não é que Ele dite em qual candidato votar. Provavelmente, a única garantia que Ele oferece é que as coisas não podem ir completamente para o inferno”.
“Há muitos precedentes negativos de papas que o Espírito Santo obviamente não teria escolhido”, disse também Ratzinger.
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Muitos outros fatores também vão determinar quem os cardeais vão escolher, como idade, localização geográfica, inclinação teológica, experiência e saúde pessoal. Mas, sobre as qualidades pessoais, essas são as que, pelo menos historicamente, serviram de modelo para reger a eleição dos cardeais.