Tradição e internet atraem adultos para o catolicismo na Inglaterra

Na arquidiocese adjacente de Southwark, que tem um programa de evangelização significativo, cerca de 450 adultos completaram o Rito de Iniciação Cristã de Adultos este ano, mais do que no ano anterior. Tais níveis não foram vistos desde que o papa Bento XVI permitiu que grupos de comunidades anglicanas entrassem em comunhão em 2011 por meio da constituição apostólica Anglicanorum Coetibus.

“Não acho que isso possa ser atribuído só à recuperação do COVID; parece haver algo novo em andamento. O Espírito Santo está se movendo de uma maneira muito particular”, disse Mark Nash, diretor da Agência de Evangelização e Catequese de Southwark.

Embora os candidatos tenham uma ampla variedade de origens, algumas tendências que Nash notou são de jovens inicialmente inspirados por evangelistas e apologistas online baseados nos EUA, como o bispo de Winona-Rochester, no Estado de Minnesota, dom Robert Barron, fundador do ministério católico Word On Fire; o padre Mike Schmitz, palestrante popular, podcaster e ministro em universidades; Edward Sri, teólogo, autor e palestrante; e Trent Horn, apologista católico e podcaster.

Uma história pessoal que ilustra essa tendência é a de Paul Sapper, de 27 anos, funcionário da organização de defesa jurídica da liberdade religiosa ADF International, que já defendeu muitos cristãos processados por trabalho pró-vida ou por valores conservadores no Reino Unido.

Sapper se envolveu pela primeira vez com cristãos na Universidade de Oxford e passou um tempo em igrejas evangélicas. Ele foi atraído para a Igreja Católica por causa da ética sexual tradicional, e da proibição da contracepção. Ele agora vai à missa tradicional em latim.

Ele disse acreditar que sua geração está cada vez mais atraída pelo cristianismo em sua forma histórica e que o aumento “extremamente encorajador” de pessoas se preparando para o batismo é um “sinal promissor de que podemos estar num ponto de virada e entrando numa nova era”.

“Há um consenso geral entre pessoas de várias visões de mundo de que as coisas estão piorando e que estamos numa era de declínio neste país e em todo o Ocidente. A solução para a crise que enfrentamos hoje não é política ou cultural – é espiritual, pois estamos enfrentando uma crise espiritual. À medida que as coisas ficam mais sombrias, mais e mais pessoas – especialmente os jovens – estão percebendo que a luz de Cristo e sua verdade brilham ainda mais no escuro”, disse Sapper. “O declínio não é inevitável, mas nossa civilização só pode ser curada retornando aos seus princípios fundadores, que são baseados e totalmente dependentes da fé e da cosmovisão cristãs”.

A diocese de Southwark produziu um vídeo de entrevistas de quatro candidatos ao batismo que falaram sobre as motivações para se tornarem católicos, como o testemunho dos primeiros padres da Igreja, a experiência numa escola católica e a poderosa fé de uma criança.

Uma musicista que vivia uma “vida de rock and roll” falou sobre Nossa Senhora atrair sua atenção. “Eu sabia que era algo real, forte e puro. Maria me dá muito conforto, amor e compreensão, e sempre que houve momentos em que senti dúvidas, me senti sozinha ou rejeitada, tudo o que tenho a fazer é chamar Maria e sinto esse conforto… Eu simplesmente amo Jesus”, diz Vedina-Rose no vídeo.

Em toda a Inglaterra e País de Gales, tendências semelhantes são perceptíveis:

• A diocese de Arundel e Brighton, na costa sul da Grã-Bretanha, disse que houve um aumento de 60 catecúmenos e pouco menos de 90 candidatos no ano passado para 105 catecúmenos e 105 candidatos este ano.

• Na diocese de Northampton, ao norte de Londres, havia 38 candidatos adultos ao batismo e 62 à primeira comunhão. As estatísticas anuais mostram que esse é um nível não visto desde 2014 e, além de um aumento por volta dos anos 2000, esses níveis são historicamente altos.

• A arquidiocese de Birmingham, na região central da Inglaterra, disse que havia 201 catecúmenos e candidatos no rito de eleição, em comparação com quase 130 no ano passado.

• No norte da Inglaterra, a arquidiocese de Liverpool teve 140 candidatos e catecúmenos este ano. No ano passado, teve 110. Uma participante da catedral de Liverpool é Sarah Yates, de 21 anos, que será batizada na Vigília Pascal. Embora seus pais não fossem religiosos, o tempo com seus avós indo à missa lançou as bases para seu interesse mais recente. Ela credita o aumento do interesse dos jovens pelo catolicismo à internet.

“Acho que o aumento das mídias sociais levou ao aumento de fiéis. As pessoas podem simplesmente expressar qualquer opinião. Se uma pessoa na América diz algo, posso olhar e fazer minha própria pesquisa”, disse ela.

“Pessoalmente, não gosto muito de usar as mídias sociais, mas com o YouTube e o Spotify, você pode sentar no conforto da sua própria casa, aprender toda a história do catolicismo – está tudo lá “, disse também Yates.

John Withers, diretor do WeBelieve, festival na Inglaterra que visa alcançar “buscadores” e fiéis, disse observar jovens atraídos para sua paróquia depois de assistir a vídeos no YouTube. Eles começaram com o psicólogo Jordan Peterson, depois o bispo Barron, depois oradores mais espirituais, como o padre Schmitz.

“Eles literalmente seguiram essa jornada informática para a Igreja. A sociedade tem sido ‘espiritual, não religiosa’ há algum tempo. Agora, o cristianismo – particularmente em suas formas antigas – está se tornando uma opção espiritual socialmente aceitável. Há algo no ar”, disse Withers.

O aumento dos que entram na Igreja parece ter ocorrido em muitos tipos diferentes de paróquias em toda a Inglaterra. Mas tem havido um interesse particular em expressões mais tradicionais de espiritualidade, muitas vezes em oratórios urbanos administrados por uma rede distinta de padres e fundados por são Filipe Néri.

“Há um notável ressurgimento do interesse pela fé, especialmente entre os jovens, e em particular entre os homens jovens. Temos um fluxo contínuo de interesse, de tal forma que eu diria que há uma nova pessoa perguntando sobre se tornar católica quase todas as semanas”, disse um sacerdote do Oratório à CNA.

“Eu diria que a maioria das pessoas que vêm para a Igreja não tem formação religiosa, ou quase nenhuma. É precisamente a falta de propósito e de verdade na sociedade contemporânea que os leva a buscar sentido. Por essa razão, então, versões diluídas do cristianismo não têm atração”, disse o sacerdote.

O interesse pelo cristianismo não se limita ao catolicismo. A Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão, editora de livros protestantes, disse que houve um aumento de 87% nas compras da Bíblia entre 2019 e 2024, e houve relatos anedóticos de conversões em algumas igrejas evangélicas.