A Santa Sé manifestou apoio a um relatório significativo que propõe uma série de reformas urgentes destinadas a aliviar a crise da dívida global, um problema que afeta bilhões de indivíduos em países em desenvolvimento.

Intitulado “The Jubilee Report: A Blueprint for Tackling the Debt and Development Crises and Creating the Financial Foundations for a Sustainable People-Centered Global Economy”, o documento foi apresentado na Pontifícia Academia de Ciências Sociais, no Vaticano, em 20 de junho. Esta iniciativa destaca-se como uma das ações principais para o Ano Jubilar da Esperança em 2025.

Elaborada por uma comissão de trinta peritos econômicos internacionais, incluindo nomes como o ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, a publicação é fruto de um grupo criado pelo Papa Francisco em junho de 2024. O objetivo é encontrar maneiras de reestruturar dívidas soberanas com base em princípios éticos.

Dados recentes da ONU indicam que a dívida pública mundial alcançou impressionantes 97 trilhões de dólares em 2023. O relatório aponta que mais de cinquenta nações em desenvolvimento dedicam mais de 10% de suas receitas fiscais apenas ao pagamento de juros. Essa dinâmica desvia recursos essenciais que poderiam ser investidos em saúde, educação e resiliência climática.

O documento sublinha que a crise da dívida não é apenas financeira, mas também alimenta uma crise de desenvolvimento. Para transformar o sistema financeiro global num instrumento de justiça, são sugeridas medidas como a criação de um mecanismo internacional de falência para países, similar ao que existe para empresas, o fim de resgates governamentais para investidores privados e a oferta de empréstimos de curto prazo para nações em dificuldades.

Esta iniciativa alinha-se com o espírito do ano jubilar, tradicionalmente associado à misericórdia e ao perdão de dívidas. A bula papal Spes Non Confundit, de 2024, na qual o Papa Francisco exortou os governos a considerarem o perdão da dívida externa de países pobres, reforça este chamado.

O relatório ecoa o espírito do Jubileu do Ano 2000, quando São João Paulo II impulsionou um movimento global baseado na doutrina social da Igreja, resultando no cancelamento de mais de 100 bilhões de dólares em dívidas para os países mais pobres. A conclusão do documento é clara: as finanças globais devem servir às pessoas e ao planeta, em vez de punir os mais vulneráveis para proteger lucros.

Durante a apresentação no Vaticano, especialistas discutiram a necessidade de focar nas pessoas por trás dos números e de mudar a narrativa sobre a dívida, defendendo que a justiça da dívida é benéfica para todos. Foi enfatizado que o alívio da dívida, embora crucial, deve ser acompanhado por reformas sistêmicas na arquitetura financeira internacional para evitar que a crise se repita.