Após as sérias acusações de abuso sexual e psicológico contra o Padre Marko Rupnik, um renomado artista de mosaicos, defensores de vítimas de abuso têm pedido a remoção ou cobertura de suas obras presentes em igrejas e santuários católicos ao redor do mundo. A justificativa é proteger as vítimas de mais sofrimento, já que a arte pode servir como um doloroso lembrete das ações do alegado agressor.

Rupnik, que foi brevemente excomungado em 2020 e expulso da ordem jesuíta em 2023, embora ainda permaneça sacerdote enquanto aguarda um julgamento final pelo Vaticano, tem suas criações, inspiradas na arte cristã oriental, amplamente disseminadas.

Diante dos apelos, diferentes autoridades eclesiásticas têm adotado posturas variadas. Alguns locais decidiram cobrir ou remover os polêmicos mosaicos. O Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França, por exemplo, cobriu os mosaicos nas portas da basílica. Nos Estados Unidos, os Cavaleiros de Colombo também cobriram as obras em suas capelas em Washington, D.C., e Connecticut, priorizando a compaixão pelas vítimas.

Por outro lado, outras instituições optaram por uma abordagem distinta. Santuários como o de Fátima, em Portugal, embora tenham removido as imagens da arte de Rupnik de materiais online e publicações, decidiram manter os mosaicos físicos na Basílica da Santíssima Trindade. De forma semelhante, o Santuário de Nossa Senhora da Saúde dos Enfermos, na Itália, decidiu deixar seus mosaicos visíveis, argumentando que a beleza e a mensagem da arte devem ser separadas do comportamento moral do artista, citando outros exemplos históricos de artistas com condutas questionáveis.

A Diocese de Roma, onde há diversas obras de Rupnik, incluindo no seminário maior e na sede da Caritas diocesana, aguarda uma decisão do Vaticano antes de tomar qualquer medida. O próprio Vaticano possui obras do artista em locais proeminentes, como a Capela Redemptoris Mater no Palácio Apostólico. O noticiário oficial do Vaticano chegou a remover imagens das obras de seu website após críticas.

Dentro da Companhia de Jesus, da qual Rupnik foi expulso, as opiniões sobre o que fazer com as obras existentes em suas comunidades são divididas. Alguns jesuítas mais jovens manifestam descontentamento, enquanto outros mais experientes veem as obras como um “espelho de nossa realidade humana caída”, lembrando que todos são pecadores necessitados de salvação e misericórdia, tratando a questão como um assunto interno.

O Centro Aletti, escola de arte fundada por Rupnik, defendeu a arte do estúdio, chamando a pressão pela remoção de “cultura do cancelamento” e “criminalização da arte”.

Vozes como a de Francesco Zanardi, sobrevivente de abuso na Itália, insistem que a obra de Rupnik, neste contexto, não é apenas arte, mas um “símbolo” que traumatiza vítimas e mantém um “vínculo inadequado” entre a Igreja e o agressor. A Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores também recomendou que obras que possam implicar “exoneração ou defesa sutil” de acusados de abuso não sejam expostas.

Grandes santuários internacionais como o de Nossa Senhora Aparecida no Brasil, com vasta área de mosaicos de Rupnik, e o Santuário de Padre Pio em San Giovanni Rotondo, na Itália, com extensos mosaicos na igreja inferior, não se pronunciaram publicamente sobre o futuro das obras.

Na Espanha, país com a segunda maior concentração de obras do artista na Europa, incluindo na Catedral de Madrid e em locais jesuítas, a ordem também não tomou uma decisão firme sobre o que fazer com os mosaicos, embora tenha oferecido processos de reparação a vítimas.

A divergência de abordagens reflete o complexo debate sobre como lidar com o legado artístico de uma figura religiosa aclamada que enfrenta acusações devastadoras, equilibrando o impacto nas vítimas e a preservação da arte em espaços de fé.