A Assembleia Sinodal: o Mediterrâneo também merece um Sínodo


A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade encerrou nesta sexta-feira o último módulo, o de Lugares. A partir de segunda-feira, quando os trabalhos forem retomados na Sala Sinodal, será a vez de abordar as conclusões.

Padre Modino – Vaticano

De acordo com o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, – durante a coletiva de imprensa no início da tarde desta sexta-feira (18/10) – a Assembleia Sinodal nas últimas horas tratou de dois tópicos: os critérios para definir uma descentralização saudável e o papel das igrejas particulares no contexto mais amplo da Igreja Católica e das Igrejas sub iudice. Nesse sentido, foi dito que a singularidade de cada Igreja não deve ser vista como um desafio, mas como um dom especial. Ele se referiu à necessidade de garantir a revitalização das Igrejas Católicas Orientais e a possibilidade de celebração comum da Páscoa.

Uma reunião dos 10 grupos de estudo criados pelo Papa em torno do Sínodo, uma reunião com os canonistas e outra com os jovens estão programadas para sexta-feira. Para a próxima semana, período de conclusões e redação do Documento Final, foi solicitado um clima de oração e retiro, e na segunda-feira, antes de retomar os trabalhos, será celebrada uma missa presidida pelo Cardeal Grech, secretário do Sínodo.

Sala de Imprensa Vaticana

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Comunidades de base como um lugar privilegiado para a Igreja

Com relação aos critérios para definir uma descentralização saudável, Sheila Pires, secretária da Comissão de Comunicação, citou a proximidade e a sacramentalidade, com o papel das comunidades de base como o lugar privilegiado da Igreja sendo enfatizado mais uma vez. Ela falou sobre o mundo digital e a necessidade de discernimento no mundo digital, de ser discípulos digitais. Houve um chamado para sermos resilientes, para não termos medo da pluralidade, o que não desvaloriza os ministérios e os lugares. Em relação às paróquias dentro da assembleia, ficou claro que a administração devora a dimensão missionária na paróquia, o que exige novas formas de ser paróquia. Levando em conta que a sinodalidade acontece nas realidades, há um apelo à escuta das pessoas que sofrem, à descentralização em vista da corresponsabilidade do Povo de Deus, à promoção dos leigos, à clareza das competências.

Na Igreja, a Palavra de Deus está inserida em conceitos culturais específicos, o que exige inculturar o Evangelho, buscando a unidade na diversidade, em uma tensão que não é estática, mas dinâmica. Não se pode esquecer que o desafio sinodal está em acolher o que é diferente, mas a unidade não é um quebra-cabeça. Ela está em uma igreja que vive e cresce como qualquer outro organismo vivo. É por isso que a unidade no essencial e a diversidade no secundário são necessárias. Mais uma vez, o diaconato feminino foi discutido e o fato de as mulheres estarem presentes nos processos de tomada de decisão é importante, mas não suficiente. Sheila Pires relatou que a violência contra a mulher, a capacidade de inclusão e o cuidado com o meio ambiente foram mencionados.

Sala de Imprensa Vaticana

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Caminho comum das Igrejas do Mediterrâneo

O Papa Francisco confiou ao arcebispo de Marselha (França), cardeal Jean-Marc Aveline, a tarefa de preparar o trabalho comum no Mediterrâneo. Uma iniciativa que começou em 2020 em Bari, no encontro de todos os bispos da bacia do Mediterrâneo, onde houve uma troca de situações em torno desse mar, que são muito diferentes. Um caminho que continuou com novos encontros em Florença em 2022 e Marselha em 2023. O desejo do Papa de criar redes, de ouvir as igrejas em dificuldade, está sendo colocado em prática. Não se deve esquecer que o Mediterrâneo é uma região onde coisas dramáticas estão acontecendo, guerras, falta de liberdade, corrupção, migrantes tentando atravessar o mar, o que exige que trabalhemos juntos nesse contexto.

Nesse sentido, o cardeal francês falou da existência de redes para ajudar os migrantes quando eles chegam, redes de faculdades de teologia, o trabalho comum dos santuários, redes de educação, espaços de diálogo entre jovens e bispos, com prefeitos, com pessoas de diferentes religiões. Essas são realidades que têm uma conexão com o processo sinodal. Trata-se de ver como a Igreja pode contribuir para a justiça e a paz nessa região, como ela pode fazer a sua parte, em uma região com três continentes e cinco margens. Uma realidade que exige diálogo ecumênico e inter-religioso, sobre rotas de migração, clima, tensões geopolíticas. Diante de tantos desafios, Avelline disse abertamente que, assim como foi realizado um Sínodo para a Amazônia, o Mediterrâneo também merece um Sínodo.

Sala de Imprensa Vaticana

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O Sínodo como um caminho para a paz

O caminho sinodal ajuda a resolver muitos problemas humanos em conjunto, disse o cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba (Sudão do Sul), um país nascido em 2011, onde a conferência episcopal é formada juntamente com os bispos do Sudão. O cardeal lembrou a necessidade de as pessoas entenderem que as guerras que ocorreram foram travadas por pessoas que queriam ser livres. Nesse sentido, ele disse que ainda existem “situações pendentes que temos que enfrentar e resolver juntos, problemas humanitários muito sérios, criados por seres humanos”. A divisão do Sudão aumentou, os problemas aumentaram, os acordos de paz não estão sendo cumpridos e precisam ser atualizados.

O arcebispo de Juba lembrou a preocupação do Santo Padre, mas isso não impediu a continuidade de uma situação de instabilidade, que está aumentando como resultado da corrupção e da má administração dos recursos, em um país com enorme potencial. Ele vê o Sínodo como uma ajuda para o diálogo dos bispos com os políticos. Ele também relatou os problemas relacionados à mudança climática, que causa secas e inundações, referindo-se à recente visita do cardeal Czerny. O Sudão do Sul está crescendo como Igreja e regredindo no campo social e político, o que exige mais diálogo. A situação é agravada pela falta de empregos e de lugares para morar. É necessário, a partir do Sínodo, “nos colocarmos a serviço do povo, diante de uma guerra que destrói tudo”. É por isso que, diante dos problemas, que são de todos, o diálogo é necessário.

Um continente unido eclesialmente para servir melhor

O arcebispo de Bogotá (Colômbia), cardeal Luis José Rueda, contou a experiência de fé vivida nos contextos das comunidades em um continente jovem que se uniu eclesialmente para servir melhor, como é o caso da América Latina. Nesse sentido, o CELAM, a CLAR e a CAL deram um rumo unificado à Igreja latino-americana, na qual sempre se destaca a busca de uma espiritualidade muito próxima aos pobres, recordando a opção preferencial pelos pobres assumida na Conferência Geral do CELAM realizada em 1968 em Medellín.

Entre os desafios presentes no continente, ele falou sobre a violência, o tráfico de drogas, a injustiça, a migração, com multidões a caminho dos Estados Unidos, em busca de vida, mas às vezes encontrando a morte, citando o que está acontecendo no passo do Darien. Diante dessa realidade, a Igreja latino-americana decidiu se unir e ter um método para abordar a realidade e, a partir de um olhar de esperança e fé, ver a presença do Verbo Encarnado. Uma Igreja que opta pelo diálogo com todos, em uma realidade onde tudo está interconectado, “tudo nos desafia, mas tudo nos enche de esperança”, citando como exemplo o diálogo pela paz na Colômbia. Com relação ao ambiente sinodal, destacou que “ele nos dá a capacidade de dialogar, de escutar, de caminhar juntos, de buscar objetivos comuns”.

Uma resposta da Igreja de Cristo em situações dramáticas

“O Sínodo é uma resposta a esses desafios do mundo, o Sínodo não se refere a, nem alimenta, nem incentiva uma Igreja egocêntrica, uma Igreja que usa uma linguagem que ninguém entende e lida com questões com as quais ninguém se importa, mas uma Igreja no mundo, uma Igreja que traz a resposta de Cristo a todas as situações dramáticas do mundo de hoje. Uma Igreja servidora, aberta, uma Igreja missionária”, disse o subsecretário do Sínodo, dom Luis Marín.

O bispo agostiniano definiu a experiência vivida na Assembleia como muito rica, destacando que o que está emergindo do diálogo e da experiência sinodal é uma Igreja que se apoia em quatro pilares: uma Igreja Cristo cêntrica, Cristo é uma pessoa viva que responde e entusiasma; uma Igreja fraterna, a partir da diversidade de culturas; uma Igreja inclusiva, corresponsável; uma Igreja servidora, longe das lutas pelo poder, insistindo que “viemos à Igreja para servir”. Uma Igreja dinâmica, “que possamos comunicar entusiasmo no mundo de hoje”, diante de tanto drama e dor, a Igreja deve trazer a alegria de Cristo e ser uma fonte de verdadeiro entusiasmo.

Luis Marín falou de dois critérios para os diálogos no Sínodo: conexão e inter-relação, a partir das paróquias, e, por outro lado, concretude, indo até a vida cotidiana. Ele também falou sobre os quatro binômios que foram explorados em profundidade: espiritualidade – sinais dos tempos, verdadeira escuta do Espírito Santo que fala no Povo de Deus, o Evangelho se encarna, não é uma escuta etérea e piedosa; unidade e variedade, uma só fé, um só Senhor, um só batismo, em uma variedade de situações, culturas e circunstâncias, que exigem diferentes reações; o centro e as periferias, desenvolvimento do princípio da subsidiariedade; um processo de renovação que não termina e, ao mesmo tempo, está se concretizando em estruturas, que são instrumentos para viver a realidade da Igreja. A partir daí, procuramos ser mais coerentes, deixar de lado o pessimismo, porque o Sínodo abre uma enorme esperança, que leva cada um a se envolver e contribuir com o processo.



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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