A força da escuta – em conversa com o novo Pregador da Casa Pontifícia


O frade capuchinho Roberto Pasolini, foi nomeado neste sábado pelo Papa Francisco, para substituir o cardeal Raniero Cantalamessa, há 44 anos na função de Pregador da Casa Pontifícia. Após receber a notícia da nomeação, ele foi entrevistado pelo diretor do L’Osservatore Romano.

por Andrea Monda

Frei Roberto Pasolini ficou tomado de alegria e temor diante da notícia divulgada hoje às 12h sobre sua nomeação como Pregador da Casa Pontifícia e expressa sua “mistura” de emoções: «Por um lado senti, como em algumas passagens da vida, a alegria, o espanto diante de algo de enorme beleza que veio em minha direção. Por outro lado, também não escondo um certo medo diante de uma tarefa muito grande que, embora corresponda um pouco à minha vocação de frade pregador, parece verdadeiramente enorme e por isso sinto-me um pouco atordoado, cheio de temor e tremor, que não me impedem de confiar na força que o Senhor dá quando chama diante de tais provações».

Uma provação grande também pelo peso de tal legado…

Padre Raniero Cantalamessa, para nós, frades capuchinhos, é há muitos anos como um astro que todos nós sempre olhamos e ouvimos, com admiração pela sua capacidade teológica e comunicativa. Quando era um jovem frade estudante, ouvia as suas catequeses e as suas pregações na taberna com outros estudantes, comendo castanhas e bebendo vinho, e ficávamos tão contentes que um de nós estivesse ali, no coração da Igreja, anunciando o Evangelho e eu nunca teria imaginado que um dia essa honra, esse fardo, pudesse tocar minha vida.

 

O Deus da Bíblia, o Papa Francisco nos recorda isso com frequência, é o Deus das surpresas, e o senhoor conhece bem a Bíblia ensinando precisamente Exegese Bíblica. Fortalecido pelos estudos que o levam a abordar uma matéria incandescente como a Sagrada Escritura, como se sente diante dessa nova missão?

A Palavra do Senhor foi para mim o grande meio com o qual o meu coração foi penetrado pela revelação de Deus. Eu parto daqui ao encaminhar-me para esta tarefa: de ser um ouvinte que se deixou provocar pela Palavra de Deus e que quotidianamente a coloca no centro de seus dias. Depois sim, sem dúvida possuo uma bagagem de conhecimentos e de estudos que me ajudarão, mas sinto que a maior força que me dá serenidade é ser ouvinte da Palavra de Deus e por isso sou solicitado a prestar o serviço que é mais natural àquilo que sou e que me tornei ao longo do tempo.

 Um pregador que é antes de tudo um ouvinte. Uma atitude muito em linha com a dimensão da Igreja em sentido sinodal que o Papa pede há anos.

Exatamente, sinto-me muito desafiado pelo tempo que vivemos, pelos passos que a Igreja está dando neste momento da história e com as suas dinâmicas de conversão interna como a da sinodalidade. Espero poder oferecer uma compreensão da Palavra de Deus que seja de ajuda para percorrer o caminho corajoso e fadigoso que a Igreja é chamada a percorrer para ser sinal e instrumento de salvação no mundo. A da sinodalidade e, portanto, da comunhão e do diálogo, é uma mudança de registo muito forte que a Igreja está vivendo: procurar ler os textos bíblicos e, portanto, oferecer meditações que vão de forma inteligente nesta direção, poderá iluminar-nos e ajudar-nos a tomar essas etapas.

Precisamente há poucos dias o Papa deu à Igreja outra encíclica, aquela dedicada ao coração, ao Sagrado Coração de Jesus, a Dilexit nos. Numa entrevista a Monica Mondo na TV2000 o senhor falou que o seu coração foi trespassado até às lágrimas ao ler o Evangelho de Mateus no metrô, por isso pergunto-lhe: um texto como esta encíclica talvez esteja hoje ultrapassado, ou em vez disso existe uma sabedoria ainda mais profunda que também o senhor pode nos ajudar a descobrir?

Por um lado pode parecer um texto que evoca a espiritualidade e as devoções de outros tempos, por outro considero-o muito profético porque o tema do coração, mesmo na sua dimensão como sede dos nossos sentimentos, é um tema muito moderno, que também a teologia bíblica e espiritual tem grande urgência de saber integrar na sua proposta de fé. No desenvolvimento do nosso caminho humano e, portanto, também como Igreja, é importante saber integrar bem a nossa parte emocional. É claro que é preciso inteligência para poder ler o interior dos nossos sentimentos e entrar numa relação cada vez mais precisa entre nós e Deus, na qual tudo o que somos está envolvido no seu chamado e na missão que nos confia.

Sobre este tema das relações com o Pai e, portanto, entre nós, entre irmãos, lembro-me de um artigo seu no «L’Osservatore Romano» em que falava, um ano depois da publicação de Fratelli tutti, de uma fraternidade a ser salvaguardada porque , escrevia, os relacionamentos são frágeis e devem ser protegidos.

A fraternidade é a expectativa que Deus tem sobre a humanidade e sobre a Igreja. Contudo, sabemos que as relações fraternas são talvez a parte mais delicada da história humana, da história de cada um de nós. Isto também o atesta o contexto histórico em que vivemos, onde vemos como é difícil viver em paz e comunhão uns com os outros, por isso é verdadeiramente o maior desafio que temos, mas também o dom que na verdade já está em andamento. De fato nós, já somos filhos de Deus, já somos irmãos entre nós, trata-se de proteger isso. Diante deste dom, como justamente escrevi naquele artigo, devemos nos posicionar de forma muito humilde, como um destino ao qual não podemos renunciar, que está escrito e que já se desenrola. A nossa responsabilidade é acompanhar este processo para que se torne cada vez mais autêntico e luminoso, para se tornar aquele vínculo que apaga também as falsas divisões entre a Igreja e o mundo e apoiar todas as pessoas que procuram com boa vontade construir, cada um à sua maneira, o Reino de Deus na história e no tempo.



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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