O Papa Leão XVI recebeu a presidência da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece). Durante o encontro, foi dada grande atenção ao conflito na Ucrânia, para o qual, segundo os bispos, "é necessário chegar logo a uma paz justa". Outros temas abordados incluíram migração, acompanhamento dos jovens e transmissão da fé, e inteligência artificial.
Roberto Paglialonga – Vatican News
Preocupação com a paz, particularmente no que diz respeito à crise na Ucrânia, e a questão do rearmamento, "sobre a qual o Papa não expressou uma posição, sobre sua adequação ou não, mas sim o receio de que uma atenção maior aos gastos com armamentos prejudicasse o apoio aos mais necessitados e frágeis". A paz foi, inevitavelmente, um dos principais temas abordados na audiência que Leão XIV concedeu, na manhã desta nesta sexta-feira (23/05), no Vaticano, à presidência da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece).
O bispo presidente da Comece, dom Mariano Crociata, se deteve sobre o tema durante uma coletiva de imprensa no final do encontro com o Pontífice. Sobre este ponto - reiterou mais tarde numa entrevista concedida à mídia vaticana – que "a Europa é chamada a encontrar a unidade, ou seja, a concórdia e o acordo entre as nações e os governos sobre a vontade e a capacidade de alcançar uma direção comum".
Momento delicado da Europa
Uma audiência que “tem um grande significado para nós, porque realizou-se poucos dias depois da eleição de Leão e pouco mais de um mês da morte do Papa Francisco”, disse dom Crociata novamente. O Pontífice agostiniano “acima de tudo, quis nos ouvir livremente, sem dar indicações precisas nesta fase, e nisso percebemos uma grande atenção de sua parte pela instituição Europa, nascida como um projeto de paz, e para o seu funcionamento”. Hoje, ela “enfrenta um momento delicado de confronto com a nova administração dos Estados Unidos, que tomou posse no início do ano, e também com uma mudança de paradigmas na opinião pública, que vê a expansão em muitos países de fenômenos preocupantes como o populismo, muitas vezes em contraste com os próprios princípios fundamentais da União Europeia”, admitiu o presidente da Comece.
Despesas de guerra que pesam sobre os mais vulneráveis
Em particular, "ficamos impressionados, no entanto", disse o dom Antoine Hérouard, um dos vice-presidentes da Comece, "com a ênfase que Leão XIV deu às consequências econômicas e sociais do conflito ucraniano na vida das pessoas. Mais fundos para fortalecer os sistemas de defesa e segurança não podem corresponder a menos ajuda para aqueles que sofrem ou vivem em dificuldades". Um fato concreto que se manifestou, por exemplo, com o aumento dos preços da energia. "Não entramos em detalhes", acrescentou o prelado francês, "mas todos nos detemos na necessidade de alcançar logo uma paz justa". "O equilíbrio entre paz e justiça é fundamental", disse o arcebispo. Tomando a palavra, outro vice-presidente, o bispo lituano Rimantas Norvila, destacou como "embora ainda não vejamos soluções concretas, hoje todos os países europeus devem se sentir envolvidos no objetivo de parar a guerra o mais rápido possível".
Sobre migração: equilibrar acolhimento e integração
A migração também esteve entre os temas de reflexão durante a audiência. Outro vice-presidente, o bispo português Nuno Brás da Silva Martins, falou sobre o assunto na coletiva de imprensa. Por um lado, "há necessidade de a Europa acolher os migrantes também para combater o declínio demográfico", mas, por outro, "é evidente uma certa incapacidade de integrar aqueles que chegam às nossas fronteiras". Trata-se de um "problema relativo ao respeito pela pessoa em toda a sua dignidade" e que envolve "também a questão das raízes cristãs da Europa".
Leão XIV insiste no acompanhamento dos jovens
O Papa insistiu "muito" no acompanhamento dos jovens e na transmissão da fé na família. Tanto dom Crociata quanto dom Hérouard destacaram isso. Já dom Czeslaw Kozon, bispo de Copenhague e representante como vice-presidente da Comece, também das Conferências Episcopais Escandinavas, enfatizou, especificamente, o cancelamento dos registros de batismo: um fenômeno que em muitos países, "como a Bélgica e os Países Baixos", está aumentando. "Além da questão dos filhos que acusam seus pais de lhes terem imposto uma escolha de fé, há também a da interferência dos Estados na vida da Igreja e na organização das estruturas da Igreja, que corre o risco de colocar em discussão a liberdade religiosa. Há também o direito e o dever dos pais de educar seus filhos." Em breve, "poderá até haver uma decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos sobre este ponto, porque as pessoas que querem ser removidas dos registos, muitas vezes por razões ideológicas, também o fazem invocando a legislação europeia sobre o tratamento de dados pessoais". Portanto, na prática, explicou o padre Manuel Barrios Prieto, secretário-geral da Comece, se, em vez da "mera anotação do desejo de não pertencer mais à Igreja Católica ('desbatismo') à margem do nome, avançássemos para um verdadeiro cancelamento do registo de batismo, isso levaria, de fato, a um ataque à liberdade da Igreja e a uma falta de respeito pela sua autonomia".
IA no centro das atenções do Papa
Por fim, o Papa demonstrou grande atenção à Inteligência Artificial, concluiu dom Crociata, "um tema que envolve a desinformação; o respeito da dignidade, da privacidade, identidade e liberdade da pessoa; e que tem consequências no âmbito do trabalho".