O convite de Natal do Patriarca de Bagdá dos Caldeus, dirigido a cristãos e muçulmanos, “é um apelo para que todos vivam como irmãos”. A esperança de que o Jubileu conduza à eliminação das “causas dos conflitos destrutivos e das tragédias da injustiça, da ganância, da corrupção e do abandono” para chegar à “criação de equilíbrio, harmonia estável e segurança entre os povos”.
Francesco Ricupero – Cidade do Vaticano
“Devemos manter acesa a chama da esperança dentro de nós e levar a sua luz ma escuridão de um mundo dividido e ferido.” Um mundo afetado por numerosos conflitos e que vê milhões de pessoas sofrerem e morrerem.
A carta pastoral sobre o Jubileu do Patriarca de Bagdá dos Caldeus, cardeal Louis Raphael Sako, é inteiramente dedicada à esperança, que retoma o tema do Ano Santo 2025, “Peregrinos de Esperança” e explica aos meios de comunicação vaticanos como o Iraque e a comunidade cristã se prepararam para o Natal.
Eminência, que esperança há para as comunidades cristãs no Iraque na época do Natal e com o Jubileu?
O Jubileu significa uma mudança positiva em relação ao passado. Uma mudança pessoal, eclesial e social para uma vida nova com relações de fraternidade, proximidade, reconciliação e solidariedade. É uma oportunidade única de alcançar os outros. Mas é também uma oportunidade para uma humanidade mais honesta, o que pressupõe o abandono da fabricação de armas e a concentração na eliminação das causas dos conflitos destrutivos e das tragédias de injustiça, da ganância, da corrupção e do descuido, e na criação de equilíbrio, harmonia estável e segurança entre os povos.
Como a Igreja Caldeia se preparou para o nascimento de Nosso Senhor Jesus?
Organizamos inúmeros encontros de oração, meditações sobre as leituras do Advento e retiros com sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis leigos. O Patriarcado disponibilizou 80 mil dólares aos sacerdotes caldeus para ajudarem os seus irmãos pobres e em dificuldades. A caridade é a forma de vivenciar o Natal. Além disso, na noite da Véspera, foram celebradas Missas em diversas igrejas. Bagdá e outras cidades também foram decoradas com árvores e luzes de Natal por muçulmanos que apreciam Jesus, já que o Alcorão fala dele com tanto respeito.
A guerra na Faixa de Gaza e, em particular, a queda do regime na Síria, suscitaram alguma repercussão no seu país?
Foi uma grande surpresa. Não só para os sírios, mas para todo o Médio Oriente. Foi um evento tão rápido que levará a uma mudança. Esperemos bem para a Síria. Os líderes da oposição armada que tomaram o poder no país falam de um regime civil, de uma nova Síria, respeitadora dos direitos humanos e com um governo que contará com a participação de todas as componentes políticas e sociais. Esperemos que sejam sinceros. No Iraque a situação está um pouco tensa pelo o que aconteceu. Há um pouco de medo entre as pessoas e perguntamo-nos quais serão as consequências que esta mudança poderá ter no Iraque. Esperamos que o novo governo sírio tome as decisões corretas para salvaguardar o país e os cidadãos que sofreram muito até agora.
Recentemente o senhor fez um apelo à unidade aos herdeiros da Igreja do Oriente. Na sua opinião, esse seu convite será levado em consideração por todos em breve? Alguém seguiu suas palavras?
Até o momento, não recebi nenhum feedback das autoridades eclesiásticas. Mas um grande apoio dos fiéis.
Há mais de 10 anos houve a expulsão dos cristãos da Planície de Nínive. Essa memória ainda está viva na comunidade cristã ou está sendo lentamente esquecida para iniciar um novo caminho?
O que os cristãos experimentaram está vivo na sua memória. Muitas famílias estão divididas entre o Iraque e a diáspora. É triste. Após a libertação do Estado Islâmico, 60 por cento dos cristãos regressaram, os restantes permaneceram no Curdistão, onde encontraram uma nova casa e um novo emprego. Mas há muitos, nestes 60 por cento, que optaram por emigrar. Não existem condições de segurança e estabilidade duradouras para viver em liberdade e respeito pelos direitos. Um forte impulso para a saída foi determinado pela presença de milícias armadas que controlam tudo e também pelo trágico incêndio de 26 de setembro de 2023, quando 133 pessoas morreram e centenas ficaram feridas em um salão de festas em Qaraqosh, durante um casamento. No entanto, espero que o Iraque possa retirar uma lição benéfica do que aconteceu no seu passado.
O senhor sempre apelou à harmonia, à paz e ao diálogo inter-religioso. Houve passos concretos nessa direção nos últimos anos?
O caminho e os laços inter-religiosos estão muito vivos. Mesmo que não tenhamos a oportunidade de nos encontrarmos muito, porque o ambiente não facilita, mas conversamos frequentemente. Nós, cristãos, temos relações amistosas com xiitas, sunitas e outros grupos religiosos. Trabalhamos para derrotar o ódio. O problema não são os líderes religiosos, mas os políticos. As religiões devem dar a sua contribuição eliminando divisões e fragmentações dentro de si mesmas. Com unidade preparamos o futuro do país.
O senhor acredita que o caminho para a paz e a harmonia ainda está ameaçado por grupos fundamentalistas que poderiam colocá-lo em risco?
Eu penso que sim. A religião torna-se uma ferramenta política e não uma relação livre de amor com Deus. Por isso, peço sempre que se separe a religião do Estado. São duas realidades diferentes. A religião é para os indivíduos e o Estado é para todos. O Estado não deve ter uma religião.
Quais seus votos para este Natal, para o seu país e para o mundo inteiro atingido por uma guerra fragmentada, como disse várias vezes o Papa Francisco?
O Natal é para toda a humanidade. Jesus, filho de Deus, nasceu para encarnar valores espirituais e humanos de paz, esperança, dignidade, direitos, valores que são uma expressão divina. Deus criou o homem para viver feliz. Todos os homens são chamados a viver como filhos de Deus e, portanto, como irmãos. O Natal é um apelo para todos, cristãos e muçulmanos, para aqueles que acreditam e para aqueles que não acreditam. Nós, como Igreja, não devemos ter medo de falar do anúncio da Glória a Deus nas alturas e da paz na terra, em toda a terra. Na liturgia caldeia iniciamos todas as orações com a frase do Evangelho de Lucas (2-14) “Paz na terra”, acrescento “a terra do Iraque”.
Fonte (Vatican News)
Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.
A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!