Cardeal Steiner: “O Papa Francisco tinha um carinho tão grande pela Amazônia”

A morte de Papa Francisco, acontecida nesta segunda-feira da Oitava da Páscoa no Vaticano, provocou as primeiras reações do arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner.

Padre Modino – Manaus

Em coletiva de imprensa, ele disse ter sido “uma surpresa, mas não surpresa. Nós vimos acompanhando o estado de saúde de Papa Francisco e sabíamos que a situação era bastante delicada, mas sempre pensando que ele voltasse a ter a atuação que ele sempre teve.” Diante da morte do Santo Padre, a primeira expressão do cardeal Steiner foi de gratidão. Ele afirmou que “é claro, nós sentimos, nós lamentamos, mas o nosso primeiro sentimento é de gratidão. Gratidão porque Papa Francisco nos devolveu na Igreja fundamentos necessários para a nossa Igreja. Uma das primeiras convocações que ele nos fez foi a misericórdia, o Ano da Misericórdia, recordando que o mistério do amor está envolvido pela misericórdia, misericórdia que é a expressão do amor.”

Aprofundando em sua reflexão, o arcebispo de Manaus disse que a misericórdia “não é apenas o perdão, a misericórdia que é o acolhimento dos pobres.” Ele lembrou o texto de Mateus em que diz: “os nus, os sem casa, os doentes, os presos, os com fome, os com sede.” Nesse sentido, o cardeal falou sobre “essa misericórdia que ele conseguiu fazer com que percebêssemos que nós como Igreja, deveríamos ser uma presença de misericórdia.”

Coletiva de Imprensa

Coletiva de Imprensa

Nos convidou a cuidarmos da casa comum

Um outro elemento que o arcebispo de Manaus destacou no pontificado de Papa Francisco é que “nenhum Papa nos alertou tanto e nos convidou tanto a cuidarmos da casa comum, a cuidarmos da natureza.” Uma atitude que impressionou o mundo científico, segundo ele lembrou: “Encontrando uma vez um grande cientista da Alemanha, ele dizia, nunca esperei que a Igreja fosse nos presentear um texto tão extraordinário. Eu sou cientista, não pensei que a Igreja fosse nos dar de presente um dom tão grande quanto esse texto da Laudato Si.” Um texto que marcou a COP de Paris, onde o arcebispo de Manaus esteve presente como parte da delegação da Santa Sé.

O cardeal Steiner, sublinhou que “nós somos tão profundamente agradecidos, porque Papa Francisco tinha um carinho tão grande pela Amazônia, pelo pulmão da Terra, mas especialmente pelos seus povos, e especialmente os povos originários.” O arcebispo de Manaus recordou que sempre que se encontrava com o Papa Francisco, ele perguntava: “e a nossa Amazônia como vai? A querida Amazônia como está?” Algo que segundo o purpurado, mostra a continua preocupação do pontífice, “sempre entendendo a necessidade e sempre de novo nos incentivando como Igreja, ser uma Igreja muito presente, uma Igreja missionária, uma Igreja que ajuda na transformação social”, algo que aparece nos quatro sonhos que ele publicou em Querida Amazônia.”

Uma dinâmica que mostra “uma Igreja que ela está presente, leva em consideração toda a realidade, não é uma Igreja voltada para dentro, é uma Igreja que pensa no todo onde ela vive, nos seus povos, na sua realidade sociais, nas suas realidades culturais, uma Igreja que diz que deve se inculturar. E esse esforço que nós estamos fazendo.” Tudo isso faz com que sejamos agradecidos a Deus por termos tido um tão grande Papa, afirmou, pedindo “rezar para que Deus nos conceda a alegria de podermos continuar a essa presença do Evangelho, essa presença de Jesus.”

Um Papa que nos precedeu

Por sua vez, o bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus, dom Zenildo Lima, destacou que “este é um pontificado que nós podemos chamar de um pontificado de precedência.” Ele destacou o verbo “primeirear”, usado na exortação apostólica A Alegria do Evangelho. Segundo o bispo auxiliar, Papa Francisco, “ele nos precedeu conduzindo a Igreja, aproximando a Igreja das populações mais empobrecidas e mais descartadas. Ele nos precedeu em atitudes, posturas e até procedimentos canônicos de expressão da misericórdia. Ele nos precedeu como peregrinos nesta sensibilidade à Casa Comum e escancarou as portas da Igreja como queria São João Paulo II, para que o amor de Cristo alcançasse todos os homens e mulheres. Ele nos precedeu como peregrino da esperança, no Jubileu apenas convocado em que estamos vivenciando. Ele sempre nos precede em todas as experiências da sua peregrinação no mundo, da sua acolhida de populações mais fragilizadas. Agora o Papa nos precede no céu.”

Dom Zenildo Lima disse ver como muito significativo que neste tempo da Páscoa, na segunda-feira da oitava da Páscoa, o Papa tenha vivido a sua Páscoa. Segundo o bispo auxiliar, “o anúncio da morte do Papa Francisco, embora nos cause uma profunda comoção, nos remete assim, de modo muito imediato ao seu amor, à sua compaixão e à sua ternura. A Igreja vai viver por um bom tempo a memória desta compaixão de Deus que nos chegou pela pessoa, pelos gestos, pelo pontificado do Papa Francisco.”

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