Cardeal Zuppi: proximidade a Francisco. Investir na Europa e na paz



O presidente da Conferência Episcopal Italiana, ao introduzir os trabalhos do Conselho Episcopal Permanente, expressa a proximidade da Igreja italiana ao Pontífice internado no Hospital Gemelli e convida os católicos a tomar iniciativas concretas de diálogo pela paz, para que não prevaleça “a lógica das armas”. O nacionalismo, lembra ele, “está em contradição com o Evangelho”. Adoração eucarística e oração pelo Papa.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

Com o coração e a oração voltados para o Papa Francisco, internado no Hospital Gemelli, e com o pensamento e o compromisso com a Itália, a Europa e o mundo, “imerso na tragédia da guerra”, onde os novos e primeiros passos em direção à paz precisam de “pensamentos fortes e crentes capazes de cultura e diálogo”. A introdução articulada do cardeal Matteo Zuppi, presidente da CEI, aos trabalhos do Conselho Episcopal Permanente, que teve início na tarde desta segunda-feira, 10 de março, começou com a adoração eucarística, na qual os representantes dos bispos italianos rezaram pela saúde do Papa, “apóstolo da paz e da espiritualidade” também para os não crentes e os fiíes de outras religiões, e desenvolveu quatro temas: Jubileu, Caminho Sinodal, Paz e Europa.

Investir na Europa

Em particular, tocando no último tema e ligando-o à atualidade mais próxima, o arcebispo de Bolonha enfatiza como os católicos de hoje devem tomar a iniciativa de “investir no canteiro de obras da Europa, que não é um conjunto de instituições distantes, mas é filha de uma longa história comum, mãe da esperança de um futuro humano, nunca desistir de investir no diálogo como método de resolução de conflitos, não deixar que a lógica das armas prevaleça, não permitir que a narrativa da inevitabilidade da guerra se instale, ajudar cristãos e não cristãos a manter vivo o desejo de convivência pacífica, oferecer espaços para o diálogo na verdade e na caridade”. Em suma, lembrando dois neologismos do Papa Francisco, “é hora de primerear e não de balconear”.

Paz, diálogo e multilateralismo

O caminho para a paz, explica Zuppi, é sempre o do diálogo, “que hoje também assume as conotações do multilateralismo. O enfraquecimento das estruturas internacionais logo se tornará para todos uma causa de maior incerteza e, certamente, não de maior segurança”. E elogia o esforço do governo italiano “para conectar o crescimento da responsabilidade europeia ao diálogo intra-ocidental na busca de uma paz justa e duradoura e a indispensável visão multilateral na resolução de conflitos”. Pedindo às Igrejas iniciativas concretas para voltar a ser mestres da humanidade, para mostrar “a nós mesmos e ao mundo que o Evangelho ainda é vida, uma bela vida para todos”.

O mal do nacionalismo aponta novos inimigos

Oitenta anos após o fim da II Guerra Mundial em solo europeu, em 9 de maio de 1945, o presidente da Conferência Episcopal Italiana recorda como Francisco denunciou que o fantasma de uma nova guerra ainda espreita, hoje que “o mal do nacionalismo veste roupas novas, sopra em muitas regiões, dita políticas, exalta partes dos povos, aponta para inimigos. Seu demônio não é o amor à pátria, mas o fechamento míope e egoísta, que acaba intoxicando aqueles que dele participam e suas relações com os outros”. E reitera que “o nacionalismo está em contradição com o Evangelho”, porque Jesus “morreu por todas as nações, sem distinção de raça ou de sangue, tornando-se o primeiro dos irmãos da nova família humana, constituída sobre ele e sobre o seu Evangelho”. Em uma Europa, “uma terra arada pelo cristianismo”, acrescenta, “como crentes, estamos em casa no processo europeu e queremos dar nossa própria contribuição distinta, seguindo o exemplo dos Santos Cirilo e Metódio, para uma Europa que só pode respirar bem com os dois pulmões”. “Uma Europa unida, a única que pode preservar o humanismo europeu”.

Promover uma cultura de paz

Cabe à Igreja, para Zuppi, “recurso e esperança da humanidade”, gerar “mulheres e homens de paz, porque pessoas que vivem ouvindo a Palavra de Deus e que praticam o diálogo” são verdadeiros “recursos para a sociedade, marcada pela solidão, pela competição e pelo conflito”. Fiel aos ensinamentos da tradição, do Concílio, que na Gaudium et spes reafirmou como Deus “quis que todos os homens formassem uma só família e se tratassem como irmãos” e, finalmente, da Encíclica Fratelli tutti.

O cardeal analisou a “frágil trégua” em Gaza, as “guerras dentro de um povo, como no Sudão, no norte do Congo e, nas últimas horas, na Síria”, países nos quais “o compromisso eclesial italiano é importante”. E depois para a Ucrânia, “submetida a bombardeios e ataques sistemáticos”, e “com atenção e esperança no possível diálogo entre a Ucrânia e a Rússia”. “Finalmente”, enfatiza, ‘estão sendo dados passos para a paz!’, mas também denuncia o fato de que ‘o diálogo entre os governos foi muito desprezado, enquanto os fóruns internacionais de encontro foram esvaziados de significado e prestígio, a começar pela ONU’. O presidente da Conferência Episcopal Italiana adverte que “as palavras são decisivas”, mas “a linguagem, a linguagem internacional e a linguagem da comunicação, tornou-se muito dura, agressiva, com o objetivo de atacar ou desacreditar, em vez de criar a base para o diálogo. Palavras como armas e palavras sem ou com pouca verdade”. 

A fragilidade do Papa, motivo de comunhão

O arcebispo de Bolonha, no entanto, abriu seu discurso com um pensamento para o Papa Francisco. Desde 23 de fevereiro, lembrou ele, “teve início uma verdadeira corrente de oração que continua em nível local e universal. O afeto de toda a Igreja tomou forma concreta “na oração espontânea que se eleva dos fiéis de todo o mundo e no Rosário noturno da Praça de São Pedro, que agora se tornou um compromisso popular de fé e apego ao Santo Padre”. Nessa condição de fragilidade, continuou Zuppi, “sua figura se torna ainda mais um motivo de comunhão”. Se “o povo cristão o ama”, ele enfatiza, “ficamos impressionados com o fato de que até mesmo os não crentes e os fiéis de outras religiões se unem à invocação por sua saúde, considerando-o um apóstolo da paz e da espiritualidade”. E ele transmite ao Papa “o apego e a oração de toda a Igreja na Itália, para que ele possa sentir nossa proximidade filial junto com o consolo do bom Pai, que sempre cuida de seus filhos, especialmente nos momentos mais difíceis da vida”.

O Jubileu e a atenção aos prisioneiros

Com relação ao Jubileu, o presidente da Conferência Episcopal Italiana recorda que “ele nos impele a colocar no centro a memória agradecida dos dons de Deus e o respeito pela pessoa humana e pela criação, pelos nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais frágeis”. E entre as prioridades deste ano jubilar, apontadas pelo Pontífice na Bula de Proclamação, ele destacou a atenção aos presos, renovando o pedido de “iniciativas que restaurem a esperança, como formas de anistia ou remissão de penas, destinadas a ajudar as pessoas a recuperar a fé em si mesmas e na sociedade, mas também caminhos de reintegração na comunidade que correspondam a um compromisso real com a observância da lei”.

Rumo à Segunda Assembleia Sinodal

Por fim, sobre o Caminho Sinodal da Igreja na Itália, Zuppi esclarece que “em um mundo que tem como registro a polarização ignorante e grosseira, a exibição da força como método para resolver os problemas, a tentação de subir nas fileiras para se salvar quando sabemos que isso só acontece todos juntos, o Caminho Sinodal está contando uma possibilidade diferente: a de ler e entender a realidade e decidir juntos, nas responsabilidades diversas, mas complementares, o que é melhor para o futuro de todos e o que é pedido a todos”. Ele lembrou que a segunda assembleia está marcada para o período de 31 de março a 3 de abril, em Roma, e nessa ocasião serão discutidas as Proposições. Delas sairá o Documento final, que será apresentado na Assembleia Geral marcada para 26-29 de maio. E conclui que “a dimensão missionária da Igreja de amanhã, que está emergindo cada vez mais claramente do Caminho Sinodal, nos convida a viver essas semanas e meses vindouros como um tempo de escolhas corajosas e necessárias para nossas comunidades, tendo sempre em mente a cidade inteira dos homens”.

Os trabalhos do Conselho Episcopal Permanente

O Conselho Episcopal Permanente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), em Roma, será encerrado na quarta-feira, 12 de março, e incluirá a apresentação do Documento para a Segunda Assembleia Sinodal, juntamente com algumas atualizações sobre esse evento. Também estão na agenda algumas comunicações sobre o próximo Congresso Eucarístico Nacional. Na conclusão dos trabalhos, na quarta-feira, às 15 horas, novamente na sede da Conferência Episcopal Italiana, o secretário-geral, dom Giuseppe Baturi, se reunirá com os jornalistas.



Fonte (Vatican News)

Estamos reproduzindo um artigo do site Vatican news.

A opinião do post não é necessariamente a opinião do nosso blog!

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