Dez anos após a Laudato si’, 200 universidades se reúnem no Rio para preparar a COP30

14/maio/2025


Já se passaram 10 anos desde o documento histórico do Magistério Pontifício, a Laudato si'. Um texto de grande impacto para a Igreja Católica, para a sociedade e para o mundo científico, que goza de plena atualidade, dada a crise socioambiental pela qual o planeta está passando.

Vatican News

Universidades para o Cuidado da Casa Comum

Uma data que motivou a convocação do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, com a participação de representantes da América do Norte, América Central, América do Sul e Península Ibérica. Será realizado de 20 a 24 de maio de 2025 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), buscando consolidar o compromisso universitário com o cuidado da Casa Comum.

Organizado pela Rede Universitária para o Cuidado da Casa Comum (RUC), o encontro conta com o apoio da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL), da qual o cardeal Robert Prevost, hoje Papa Leão XIV, era presidente, através da iniciativa Construindo Pontes. É a continuação do primeiro encontro “Organizando a Esperança”, realizado em 2023 na Santa Sé com a participação do Papa Francisco.

Em vista da COP30

Junto com o 10º aniversário da Laudato si', não podemos nos esquecer da COP30, que também será realizada no Brasil, especificamente em Belém. Nesse contexto, representantes do mundo acadêmico, governamental e eclesiástico, bem como de organizações multilaterais, estão reunidos na PUC-Rio. O objetivo é uma proposta sinodal que promova a escuta, o discernimento coletivo e a ação concreta diante da crise socioambiental. É uma oportunidade de levar adiante as propostas iniciais do Papa Leão XIV, que defende a construção de pontes de paz e o desenvolvimento dos povos.

Ao evento se somaram o Dicastério para a Cultura e a Educação, presidido pelo cardeal Tolentino, a Associação de Universidades Jesuítas da América Latina (AUSJAL), o Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), a Caritas América Latina e Caribe e o governo brasileiro. Entres apoiadores estão a Porticus, o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).

Quatro sonhos da Querida Amazônia

O pano de fundo da reunião são os “quatro sonhos” estabelecidos pelo Papa Francisco na Querida Amazônia: social, cultural, ecológico e eclesial. No último dia, sábado, 24 de maio, será realizado um evento público comemorativo no Cristo Redentor, celebrando a década da Laudato si'.

Um encontro, com representação de mais de 200 universidades públicas e privadas, que retoma o desafio lançado pelo Papa Francisco em 2013 na JMJ do Rio: “Façam barulho”. O objetivo é promover o diálogo entre a academia e os setores público e privado para elaborar estratégias de ação coordenadas sobre fé e inovação, de acordo com a agenda da COP30; promover redes de cooperação interuniversitária sobre sustentabilidade e mudanças climáticas; promover compromissos das universidades ibero-americanas na transição justa por meio de modelos de desenvolvimento integral sustentável capazes de enfrentar a crise ecológica socioambiental; articular recomendações estratégicas para a COP30 a partir da comunidade acadêmica; refletir sobre o impacto da encíclica Laudato si' no ensino superior, na pesquisa e nas políticas públicas.

Respostas urgentes e coordenadas

A realidade atual nos faz ver que “a vida está por um fio”, como alerta a campanha de conscientização lançada pelo CELAM em 9 de dezembro de 2024 na Santa Sé. Uma situação que nos leva a entender que a crise ecológica socioambiental exige respostas urgentes e coordenadas entre igrejas, governos, sociedade civil e academia. Algo que tem a ver com o impacto da Laudato si' no pensamento; com as universidades e a geração de conhecimento e formação de líderes comprometidos com a sustentabilidade; com o fortalecimento das redes de pesquisa em relação às mudanças climáticas; com a busca de propostas e compromissos para a COP30.

As universidades são agentes privilegiados na atual “mudança de época”, que põem em marcha processos de educação e formação contínuos por meio de uma “ação coordenada internacional”, gerando esperança que se traduz em gestos concretos, como disse o Papa Francisco e assume a RUC. Um caminho de cuidado que leva ao enfrentamento da dívida pública, que está ligada à dívida ecológica, que tem a ver com o Ano do Jubileu. Busca-se uma nova arquitetura financeira; o respeito à dignidade da vida humana; e um Fundo mundial que elimine definitivamente a fome e avance na educação e no desenvolvimento sustentável.

Discernimento comunitário em vista da COP30

Quatro dias de reflexão com base nos quatro sonhos da Querida Amazônia, com um evento final. O evento abordará uma nova arquitetura financeira; o diálogo como a melhor política para o respeito à dignidade humana; a biodiversidade e a tecnologia; e a construção de pontes para promover o desenvolvimento sustentável. A metodologia priorizará o diálogo em vista da participação comum na tomada de decisões, a partir de uma reflexão inicial de um especialista, buscando recapitular propostas concretas de ação. Tudo isso por meio de um “discernimento social comunitário” sobre o tema do dia, no qual os representantes das universidades elaborarão propostas para a COP 30, que serão apresentadas em diferentes espaços da Zona Azul de Belém.

Tudo isso no décimo aniversário da Laudato si', a encíclica publicada em 24 de maio de 2014, que aborda o cuidado da Casa Comum como seu tema central. Analisa-se a crise ecológica a partir de uma perspectiva integral que combina ecologia, ética, economia, política e espiritualidade. Faz isso a partir de várias dimensões: ecológica, social e econômica, ética e teológica, e política. Ao fazer isso, analisa problemas de enorme relevância: poluição e mudança climática; perda de biodiversidade; crise hídrica; deterioração da qualidade de vida humana; fraqueza das respostas internacionais à crise. Todas essas são consequências do antropocentrismo excessivo e do paradigma tecnocrático, questionando o domínio absoluto do ser humano sobre a natureza e a obsessão pelo crescimento econômico sem limites.

Seguindo em frente em um caminho de esperança

Em vista disso, é proposta uma abordagem holística para enfrentar a crise, com base na conexão entre meio ambiente, economia, sociedade e cultura. São introduzidos os conceitos de ecologia ambiental, econômica, social e cultural. Assim como um novo modelo econômico sustentável; governança global e acordos internacionais para proteger o meio ambiente; participação do cidadão na luta ecológica; políticas que beneficiem os mais vulneráveis. Para avançar nesse caminho de esperança, propõe-se a conversão ecológica; uma economia a serviço da vida e não do lucro desmedido; responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos; e ação urgente antes que danos irreversíveis sejam causados.

Com a Laudato si', Francisco queria que a Igreja Católica pudesse influenciar a ONU, a política e os movimentos ambientais. Junto com isso, a proposta de uma mudança de paradigma, que respeite a natureza e a justiça social. Um diálogo inter-religioso e científico em vista de diferentes abordagens da crise ecológica, combatendo o negacionismo ambiental com dados científicos, reflexão ética e moral diante da indiferença e propostas de ação urgente. Um documento fundamental para a consciencia ecológica global, promovendo uma ecologia integral que coloca no centro o bem-estar do planeta e da humanidade.

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